The Vegetarian Myth

Entrevista com Lierre Keith: vídeo

livro: The Vegetarian Myth

 

hmmm o livro que desveganizou a geral :/

 
 

Pois é, desvaganizar é bem fácil.
Meu ponto tá mais em pensar como ir além do veganismo, que não tem quase nada de radical.
Ainda tô pra ler o livro, mas da entrevista que postei junto ali, tiro que as críticas à agricultura e mais geral à civilização são muito boas e batem bem de frente com essa merda toda que a gente vive e quer mudar.

 
 

la discusión desde un “mismo lugar” siempre es interesante, el asunto es q es otro argumento, yo he pensado mucho en lo del trabajo q implica sembrar y lo diferente q sería lo de recolectar y moverse de lugar para no saturarlo de recolecciones y dejar que se vuelva a cargar…
el caso es q lo d la tortura animal si se pone en discusión nos habla d q ya no estamos ubicadas en un “mismo lugar”, el lugar radical, d ir a la raíz d la civilización fracasada por la dominación, y una d las dominaciones graves es la sufrida por las animales en nombre de la superioridad humana, entonces pensemos si esta discusión, aunq la autora se afirme feminista radical, es una discusión desde un marco común radical.

 
 

eu acho que o veganismo é radical. não no sentido de pôr chamas em coisas, mas enquanto ética acho que é bem holística. Pra mim traz a questão de que nossas lutas tem que ser holísticas, contra o Poder em sua raíz, a atitude de poder, nao vejo possibilidade de uma mudança civilizatoria profunda no que diz respeito a nossas relações se mantemos relações de dominação, abuso e omissão/consentimento com abuso de animais. relações de uso do corpo de outras pessoas (animais e plantas são pessoas não-humanas pra mim).

A merda civilizatoria toda tem haver com uma questão de atitude, uma mudança de paradigma que se dá com o patriarcado e o industrialismo onde passamos a considerar a Terra e animais, recursos, coisas, e isso tá levando a gente a um colapso. Antes a relação com plantas, terra, animais, era sagrada. Se retomamos a relaçao de que não são coisas mas seres vivos como nós tratariamos com mais respeito ou pelo menos uma relaçao mais sustentavel, mutualistica, tipo com as plantas você retira o que é necessário dela, e animais também só vejo utilidade em consumir o corpo de um ou outro (e não de dezenas tampouco criados para serem coisificados a vida toda) em determinados contextos e se é necessario, afinal outros alimentos são mais próprios a nós que carne e muito menos derivados que sequer são adequados a nossa biologia, leite de outros animais.

Sei la, somos culturais, podemos escolher nossos paradigmas éticos.

 
 

se não pararmos a industria da carne e laticinios não vamos parar o colapso ambiental global.
www.youtube.com/watch?v=KmIprNpcd94

crise da água e indústria da exploração animal:

1 ovo d granja necessitou 200 litros de água pra chegar ao seu prato
1 bife de 200 gramas necessitou 3mil litros de agua pra chegar no nosso prato

gases tóxicos que geram buraco na camada de ozonio:
gases liberados pelo peido e merda dos animais são 1/5 dos gases do efeito estufa.
existem mais animais da pecuária que pessoas no Brasil.
criação de animais pra pecuária é um crime contra a biodiversidade

exploração animal, consumo de carne, estará relacionada com exterminio indigena??
área desmatada da Amazonia para criação de animais: o equivalente a Alemanha, Autria e Italia juntas.

Isso significa: populações nativas sendo expulsadas de suas terras e assassinados inclusive lideranças indígenas, por latifundiários.

a industria animal é uma tragedia da vale do rio doce contínua.

não tem como parar o colapso ambiental sem ser veg.

 
 

¿q d cierto hay en la afirmación de q los nutrientes vegetales no pueden ser metabolizados pues están envueltos en celulosa?
si hemos sido recolectoras, es pq tb obtenemos nutrientes d los vegetales…

 
 

Indústria de carne é uma bosta, como indústria do milho/soja/feijão/arroz/laranja/abacate é uma bosta, como a indústria mineradora (pra fazer computadores/cabos/prédios) é uma bosta, como a indústria do entretenimento é uma bosta, etc.
O que tem de comum em tudo isso é a indústria: forma de produção e objetivo da produção. Cada vez mais me parece que o conteúdo da indústria é secundário quando pensamos em ecossistemas. Obviamente que se a gente tá olhando somente para a opressão animal, uma dessas indústrias vai ser a pior.

Sugestão: ler o livro e discutir a partir dele. Digo isso porque todo mundo já tem seus argumentos meio prontos e o exercício da crítica flui melhor pra mim quando tenho um objeto em comum para debater com a galera.

 
 

Não li o livro, mas assisti à entrevista. Gosto bastante das coisas de pegada feminista radical da Lierre, mas vejo na entrevista várias questões contraditórias. Também acho que a leitura do livro é essencial para construirmos esse debate, mas aproveito para passar um link aqui do WE onde tava rolando uma discussão sobre um tópico parecido. >> we.riseup.net/protopia/boicote-o-vegani...

 
 

a agricultura da forma que temos só existe por causa da criação de animais… ela existe pra alimentar os animais e não as pessoas. boicotar industria da carne é boicotar esse modelo latifundiario tambem. Mas é certo que veganismo é uma estrategia de luta muito irrisoria pra enfrentar essa questão, seria necessario uma revolução agrária, organizacao das classes campesinas e dos indigenas como tá ocorrendo… eu imagino o zapatismo como um modelo possivel por exemplo, ocupar um territorio e expulsar o Estado.

mas eu penso mesmo mais a questao do veganismo voltada pra uma desobediencia civil ou algo assim quanto ao sofrimento animal, a coisificação dos animais. Porque só existe produtos de exploraçao animal porque há quem consome. Se rompe essa cadeia corta o ciclo. Precisamos de veganismo popular, o veganismo tem que ter mais trabalho de base mesmo, ir nas perifas, nos assentamentos de sem terra, e levar a idéia junto com a coisa de autonomia e soberania alimentaria… levar todo esse debate e trazer como uma ferramenta de luta e de autonomia, porque tem também muita vantagem nessa informação toda que veganismo traz, sobre tudo, saúde, autonomia, e é uma ferramenta de resistencia a colonização também, quem trouxe vaca boi galinha leite foram os europeus, tem nada haver nem com a biologia de populações negras ou indigenas, e por isso que existe tanta resistencia a lactose na população mundial (os unicos que tem um fisico mais resistente ao leite sao os caucasianos europeus). Levar o debate sem arrogancia, sem colonizar, mostrar caminhos, mostrar que é uma idéia libertária, anti-opressão, que vale a pena assumir, assim como feminismo ou anarquismo.

 
 

o ativismo vegano se quer ser bem sucedido precisa pensar com mais cuidado questões de racismo, sexismo, classe, integrar essas análises, se quiser realmente ser revolucionario.

 
 

eu não vejo como chegar em nenhum assentamento ou aldeia e falar em veganismo, levar essa palavra, eu sinceramente acredito que o que já se construiu em cima do termo Vegan e Veganismo se tornou uma coisa super arrogante, urbanóide, até colonizadora….por cozinhar na até o talo há 4 anos já perdi muito tempo da minha vida discutindo com veganos supremacistas e estou completamente desiludido quanto a essa questão…hehehehe ia fazer um comentário e acabei fazendo um desabafo….

 
 

Agora, os trechos que eu já li da Lierre nesse livro são muito bons, eu acho ela uma pessoa incrível…alguém já viu esse livro em portugues por aí?

 
 

Acho que não tem em português.
Só achei um capítulo, que está mal traduzido.
Esse livro tá na minha lista de traduções!!
:P

 
 

tamo dentro maninho, sempre que rola alguma atividade da até o talo eu lembro da lierre e comento a existência desse livro…muita gente se interessa, é um polemicão e acho que ainda seria uma boa forma de captar recursos pra outros projetos!

 
 

Imagina só o tamanho dessa lista de traduções, hehehehe!

Concordo contigo 1g0raposa sobre tudo o que se construiu em volta do termo vegan ao longo dos anos mas penso que temos que achar alguma saída, talvez através de outros termos. É uma questão de pensar o que nos diferencia dessa pegada supremacista/colonialista e o que vai de encontro com o pensamento libertário. No fim das contas a lógica industrial, patriarcal e autoritária do capitalismo é a razão da escravidão animal, por mais que quem pensa num veganismo neoliberal/reformista não queira ver.

Não sei se já leram esse texto, mas acabo sempre sugerindo porque, apesar de curto e não muito aprofundado vai de encontro a isso que estamos falando. Muitxs estão fartos com o status quo vegano, com essa caixinha em que o capitalismo nos pôs de bons consumidores >>> https://contragaia.wordpress.com/2015/06/16/boicote-o-veganismo/

 
 

Oiê! Gostaria de dar uns pitacozinhos, se vocês me permitem. Não vi (ainda?) a entrevista e dei apenas uma pequenininha olhadela nas primeiras páginas do livro, e isso é super importante pro que quero falar. Chúy sugeriu “ler o livro e discutir a partir dele”, e é uma sugestão muito boazinha; mas, nesse momento, tenho uma lista de outras coisinhas, agradáveis ou não, para ler e ver. E é puro preconceito meu, tenham certeza, talvez chamar de “avaliar pela aparência” faça mais justicinha, mas esse título me parece algo pra chamar a atenção; a pessoinha que escreveu o livro, ao que me pareceu, tentou dar uma resumidinha no capítulo introdutório, então vou me basear nele pra dar uma faladinha.

O livro começa assim: “This was not an easy book to write. For many of you, it won’t be an easy book to read. I know. I was a vegan for almost twenty years” (Esse não foi um livro fácil de escrever. Para muitxs de vocês, esse não vai ser um livro fácil de ler. Eu sei. Eu fui vegan por quase vinte anos). Isso aqui já me deu uma lembradinha, tenho que usar da sincereza, no que o Peter Singer (que nem vegetarianinho é) disse sobre o Benjamin Franklin voltar a comer carne, algo como “isso mostra que o gosto do Sr. Franklin por peixe frito é maior do que por bons argumentos”.
O argumento nessas primeirinhas páginas é, mais ou meninhos, que não-humanxs que usamos como gado (vaquinhas e cocózinhas, pelo que consegui entender) não deveriam comer grãos; que os cálculos que xs vegetarinxs fazem pra dizer que criar não-humanxs é mais custoso do que agriculturar está errado porque se baseia no consumo de grãos (trás argumentos de Joel Salatin pra comprovar isso); por conta disso, o título do livrinho, pra mostrar para xs vegetarianxs e pra quem mais quiser saber que o inimigo não é o consumo de não-humanxs, mas a civilização. A penúltima frase dessa introdução deixa isso clarinho, clarinho: “The underlying values that vegetarians claim to honor — justice, compassion, sustainability — are the only values that will create a world of connection instead of domination; a world where humans approach every creature — every rock, every raindrop, all our furred
and feathered siblings — with humility, awe, and respect; the only world with a chance of surviving the abuse called civilization”. Como eu já disse, e dou uma repetidinha aqui, eu não li o livro, então eu não poderia falar do livro; nem vou falar sobre esse capítulo, porque tenho duvidinhas se meu inglês me permite entender as coisas direito. Quero ter um dialoguinho com esses alguns argumento que acho que identifiquei nas primeiras páginas desse livro, mas que já vi em alguns outros locais.
Primeirinho, uma concepção que acho muitinho equivocada do que vem a ser o veganismo, e que vejo sendo defendida principalmente por pessoinhas que são vegans: “veganismo é uma forma de ‘salvar o mundo’ (seja lá o que isso quer dizer)”. Só o poderia ser na estreitíssimazinha visão de que o mundo está “condenado” (seria o contrário de “salvo”, né?) por conta da exploração que os humanos fazem com xs não-humanxs. O objetivo do veganismo, na minha visãozinha limitada, é acabar com a exploração dxs não-humanxs pelos humanos – por mais que eu concorde que esse objetivozinho é bem limitadinho e até possa usar patches com o punho de humanx e a pata de ursinho. Se entendermos que o especismo é “a defesa de privilégios baseada tão-somente na espécie”, talvez seja coerente dizer que o veganismo teria como objetivo acabar com o especismo. Não sei como é em inglês, mas pra mim é bem importantinha a diferenciação entre vegetarianismo (uma dieta) e veganismo (uma postura que contém o vegetarianismo), além de diferenciar vegetarianxs de ovo-lacto-vegetarianxs de não-como-carne-vermelharianos. Assim, acho que a crítica a quem acha que parando de consumir produtinhos de origem não-humana vai salvar o mundo é muitinho bem vinda; mas, se o objetivo é esse, acho o título ofensivamente desnecessário, não é? Temos que lembrar sempre de não desmerecer a luta dxs amiguinhxs!
Segundinho, uma concepção muito limitadinha do que é a agricultura; vou tomar de empréstimo aqui a definição do velhinho fofo do Daniel Quinn: a agricultura que praticamos em nossa civilização é um tipo de agricultura, a “agricultura totalitária”; lá pela página 4 já fica bem evidentinha a confusão, eu acho. Acho que nem é necessáriazinha a explicação de que não existe apenas uma civilização, e várias existiram e tantas outras ainda existem praticando agricultura e sem “escravização, imperialismo, militarismo, divisão de classe, fome crônica e doenças” (tá, sem doencinhas fica complicado, mas associar dodóis exclusivamente, ou mesmo prioritariamente, à agricultura seria motivinho de ler outra coisinha, né?) – basta olhar os exemplos que o Daniel Quinn dá, ou, mais fácil, ler o livro/capítulo do Pierre Clastres “Sociedade Contra o Estado”. Novamente, uma exploraçãozinha intelectual sobre os malefícios do tipo de agricultura que nossa civilização pratica e uma reflexão sobre outros tipos de agricultura está até mais do que atrasada pro nosso arsenal de conceitinhos, mas não com um título desses, não com capítulo nomeados dessa forma. Já ia me esquecendo de uma cosinha bem óbvia: se dá pra ter consumo de não-humanxs sem agricultura, dá pra ter vegetarianismo sem agricultura também, né?
Tenho a impressão de que esse binômiozinho (“vegetarianxs acham que bastam parar de consumir não-humanxs pra salvar o mundo” + “agricultura cria civilização”) é que ""sustenta"" toda a argumentação dessa introdução, mas, como tentei dar uma mostradinha, esse binômio em si não se sustenta, é ruinzinho das perninhas, coitadinho. Mas tem mais uma cositinha ou outra que me incomoda um pouquinho.
Uma coisinha que não sei nominar ainda, mas que depois que comecei a me ligar nisso nai consigo mais deixar de reparar; é como um resquíciozinho, um pedacinho, uma lógicazinha de criacionismo nas explicações biológicas – e isso parece estar em tudo que é lugar. Quem aqui nunca ouviu/leu aquela clássica explicação para as cores das penas do pavão? “O rabo do pavão é colorido para atrair as fêmeas” – tadinho do Darwin, deve se revirar todinho no túmulo. Sei que pode parecer uma bobeira, mas vejo que isso acaba levando a conclusões equivocadas, principalmente nesse campo da biologia, mas é algo que ainda não desenvolvi bem na minha cabeça, preciso pensar mais e anotar mais essas coisas. Na introdução do livro, por exemplo, essa concepção fica clara logo no iniciozinho: “You can feed grain to animals, but it is not the diet for which they were designed” (Você pode alimentar animais com grãos, mas essa não é a dieta para qual eles foram projetados) – santa tartaruga, animais, nem vida nenhuma antes da transgenia e coisas assim, foi projetada para nada, ela ""simplesmente"" evoluiu! Como eu disse, meu inglêzinho é péssimo, mas o que isso aqui quer dizer “Grain didn’t exist until humans domesticated annual grasses, at most 12,000 years ago”? Eu entendi que grãos não existiam até 12000 anos atrás, mas como achei absurdinho demais, prefiro pensar que não entendi alguma sutileza – mas me pareceu importante isso pra uma coisa que junta com a do “projetado”. Mais pra frente a gente lê “Literally from our teeth to our rectums we are designed for meat. We have no mechanism to digest cellulose” (Literalmente dos nossos dentes aos nossos retos nós fomos projetados para carne. Nós não temos mecanismos para digerir celulose). Tirando a coisa do “designed/projetados”, eu concordo com todinho o resto do que foi dito. As discordâncias que tenho são com as relações não-ditas com o resto do texto que essa frasezinha faz. Primeirinho, não é que nosso aparelho digestivo seja para a carne, mas ele também digere carne muito bem; eu gosto muito da explicação do Andy Baggot (acho que li no livro “Rituais Celtas” dele, nem lembro mais direito, desculpinha), que realmente fala que devemos encarar como iníco do nosso sistema digestivo os nosso dentes: são, teoricamente, 32: 8 incisivos (retos e finos, cortam bem), 4 caninos (pontiagudos, dilaceram bem) e 20 molares e pré-molares (rombudos, trituram bem) – o cara fala que os incisivos seriam pra vegetais, os caninos para carne e os molares e pré-molares pra grãos, do que ele conclui que a nossa alimentação deveria ser 1/8 de carne, 2/8 de legumes e 5/8 de grãos, e até faz um sentidozinho maroto, né? Mas olhando fotos de leão de boca aberta, da pra ver que o bicho tem uns dentes retos e fininhos (incisivos?) e o resto tudo pontiagudo (uns certamente caninos, outros, mais atrás, não sei), mas aí com certeza temos um bicho que só como carne, e todos os dentes são pontiagudos ou “cortantes”, não tem nenhum “rombudo”, pra esmagar e tal. Por observação (tosquinha e limitada, claro), parece que se a gente fosse pra comer só carne, teria uma dentição mais parecida com xs leãozinhxs. As vaquinhas só tem incisivos e molares, mas realmente não tenho ideia se elas comem ou não grãozinhos, muito menos ainda posso falar alguma coisa dxs auroques, mas acho que deu pra entender o ponto e já estou aprofundando muitinho, sem necessidade, em dentes e tal. Outra coisa é a associação muito da erradinha que vi mais de uma vez de vegetais com celulose – se isso é base pra algum argumentinho, acho que nem precisa falar muita coisa, né?
Concordo muitinho com a revoltAlesbika quando diz que “o ativismo vegano se quer ser bem sucedido precisa pensar com mais cuidado questões de racismo, sexismo, classe, integrar essas análises, se quiser realmente ser revolucionario”, isso de “integrar as análises” é essencial demais pra pensar uma verdadeira revolução. Mas isso vale pra todo o resto também; afinal, um ativismo racial que não pense a questão da mulher, um ativismo feminista que não pense a questão trans, um ativismo trans que não pense as questões de classe, um ativismo classista que não pense as questões de espécie, nenhum desses pode fazer uma revoluçãozinha que preste, não é verdade? Ou seja, a gente tem que ter ouvidos e coraçõezinhos bem abertos pra entender e somar as coisas que vão aparecendo, pra construir uma prática apoiada em uma teoria segura, fortinha, madura. E esse é, sem dúvida aqui, o único erro que posso apontar sem medo nessa introdução do livro – a ideia de que uma luta anti-civilização pode prescindir de uma luta anti-especismo, como se uma coisa fosse completamente avessa à outra. Isso é muito triste pra mim, de verdade, ver que as pessoas acham que uma coisa nova tem que ou refutar completamente ou ser todinha refutada pelo que já está aí, como se as coisas não pudessem somar, como se a gente não pudesse reavaliar o todo e continuar construindo as coisas, abrindo mão de certezas que não se mostraram tão sólidas assim. Talvez dentro do livro existam argumentos anti-especismo, mas na introdução o especismo está bem claro pra mim, junto com uma certa soberbinha do tipo “eu sei o que vocês não sabem”: “the first bite of meat after my twenty year hiatus marks the end of my youth, the moment when I assumed the responsibilities of adulthood. It was the moment I stopped fighting the basic algebra of embodiment: for someone to live, someone else has to die”. Eu entendo isso de “pra alguém viver alguém tem que morrer”, claro; mas não é exatamente esse o problema todo da civilização (e aqui recorro mais uma vez ao bom velhinho Daniel Quinn), achar que comeu o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, achar que sabe quem deve viver e quem deve morrer? Porque evocar uma regra que funciona fora da civilização para quem está dentro da civilização é dificinho de engolir, não é mesmo?
Tem toda a faláciazinha nutricional também, que evoca um exemplo pessoal para mostrar que uma dieta vegetariana (nesse ponto deu pra ver que tem alguma diferençazinha entre “vegetarian” e “vegan”, mas não sei bem o que quer dizer ainda – que Seu Zé nos dê um mundinho com gente que use termos mais explicadinhos pra gente burrinha como eu) faz mal pro corpo – issozinho foi o que mais me deu a impressão de “quero causar com esse livro”, pois nem acho que é uma questão de conhecimento não, é mesmo uma faltinha de honestidade intelectual da pessoa. Eu poderia enumerar exemplos aqui que desdizem tudinho que foi falado nesse ponto, quem se interessar pode procurar o carinha que escreveu o livro 80/10/10 e ver que isso de “tem que ter carne pra ter saúde” é papinho furadíssimo – resuminho: 80/10/10 é uma dieta de 80% carboidratos, 10% gordura e 10% proteínas, vegan crudívora, que o cara que criou tem todo um lance de que só devemos comer frutas e folhas, todo o resto é veneno porque o ser humano é um animal de florestas tropicais e tudo o mais.
Gente, acabou que tive que dar atenção pra uma amiguinha enquanto escrevia aqui e me perdi um tantinho agora pro final – desculpinha pela confusão. Mas espero que essa confusão aí ajude no debate que, como eu disse, pela introdução do livro não apresenta nenhum argumento novo, só uma coletanea de lógiquinhas de meia tigela bem complicadas.

 
 

Com certeza o título do livro é uma coisa pra chamar atenção e provocar o debate. Pelo que conheço da Lierre e da galera da Deep Green Resistance, uma galera que é ambientalista desde o início dos anos 80 e já tá super saturada das questões individuais/liberais/sustentáveis, é isso mesmo, é um chamar atenção desesperado pra mudar o norte do debate, e, também, claro, são estadunidenses…De qualquer modo eu não li o livro inteiro e pelo resto de todo o trampo desse pessoal eu respeito bastante e sempre fico super curioso!

 
 

O que eu acho é que o ponto central do livro deve ser: não adianta você parar de comer carne. para salvar o planeta nós precisamos de uma resistência organizada que impeça os ricos de continuar enriquecendo as custas dos animais e dos recursos naturais. Só que aí pra justificar isso talvez o livro se perca nessa argumentação cientifico-teórica-histórica-evolucionista pra ser algo mais ‘racional’ e menos ‘político’, mas talvez só nesse capítulo né…
Agora, se for durante o livro inteiro, claramente acaba sendo uma abordagem que têm muito a dar errado porque ela quase parece que é uma defesa do consumo de carne por ele ser mais ‘natural’, à primeira vista!

 
   

Oiê! Primeirinho, alguém sabe me dizer se tem um jeitinho por aqui de “citar” uma pessoinha, pra tipo ela ser avisada que o nome apareceu? É que já tem um tempo que não uso o Crabgrass/We com dedicaçãozinha, daí não me lembro mesmo… É que quando eu li o que a revoltAlesbika (será que colocar uma arrobinha na frente, tipo @revoltAlesbika, funciona?) falou na primeirinha resposta eu fiquei com muita curiosidade – realmente aconteceu alguma coisa de desveganização em massa por conta desse livro, ou de qualquer outra coisa?

Tim, obrigadinha pelas informações que você trouxe, eu não conheço nem a autora nem o coletivinho, tenho que tirar um tempinho pra conhecer melhor mesmo. Mas me deu uma preocupadinha essa sua frase, ó: “De qualquer modo eu não li o livro inteiro e pelo resto de todo o trampo desse pessoal eu respeito bastante e sempre fico super curioso!”. Ficar super curioso com qualquer coisa é geralmente bom demais, mas issozinho de “são ambientalistas desde os anos 80” e “respeito bastante por tudo o que já fizeram” é bem complicadinho (na minha visãozinha limitada, claro), porque faz você analisar o texto atual à sombra dos textos anteriores, e nem sempre as coizinhas seguem uma linha reta como imaginamos, não é mesmo? Isso me lembrou o texto da Elisa Gargiulo “Não Existe Espaço Seguro” (http://blogueirasfeministas.com/2012/03/nao-existe-espaco-seguro) – ela tá falando de outro contexto, mas acho que a relação é bem simples. Pessoinhas que mandaram muito bem ontem podem mandar muito mal hoje, pessoas que mandaram malzão ontem podem mandar muito bem hoje. Não estou querendo dizer alguma coisa como “só o presente importa” ou “esqueçam tudo o que as pessoas já fizeram”, mas apenas, como a Elisa fala, mostrar que o comportamentinho mais seguro é o de estar sempre alertinha, não de acreditar que quem mandou bem ontem vai continuar mandando bem hoje.
Assim, discordo de vocêzinho de que “o ponto central do livro deve ser: não adianta você parar de comer carne. para salvar o planeta nós precisamos de uma resistência organizada que impeça os ricos de continuar enriquecendo as custas dos animais e dos recursos naturais”. A autora é bem clara na introdução do livro (claro, ela tem mais do que liberdade para falar uma coisa na introdução e falar outras completamente diferentes no recheiozinho do livro, mas aí é demais pra minha cabecinha oca): não há problemas em nos alimentarmos de não-humanxs, pois para uns viverem outros tem que morrer. Não há “argumentação cientifico-teórica-histórica-evolucionista”, não na introduçãozinha, o que existe ali é o contrário de qualquer pensamento científico; não tem como dizer que uma pessoa está querendo construir algo racional quando ela desenvolve todo um argumento de “vegetarianismo não é bom para o seu corpo” baseada apenas na sua experiência pessoal, sendo que há toneladinhas de dados disponíveis aí, é só estudar. É falta de cuidado com a teoria chamar de criaturas pedras e gotas de chuva; é passar a perninha na história dizer que há 12000 anos não existiam grãos; é o avesso de evolucionismo usar repetidamente o termo “projetados” para se referir aos animais. Realmente, nesse primeiro capítulo a defesa toda do consumo de carninha tem esse “quê” de “isso é natural”.
Como eu disse, não li o livro, e isso sempre vai advogar contra mim; mas acho que posso falar desse primeiro capitulinho, e ele está tão errado, mais tão erradinho, que não tenho vontade de ler o resto, sinceramente mesmo. Acho que a sinceridade é o maior bem que podemos conquistar nas nossos lutas e, como eu disse antes, a escolha desse título pro livro vai além de um “chamar a atenção”, ele se torna ofensivo com a luta de algumas pessoas e já cria uma camada de desonestidade para quem se interessa pelo assunto. Pelo pouquinho que pude acompanhar, a alimentação vegetariana é fundamental pro trabalho da galerinha da Sea Shepperd (é isso que escreve, gente?), e é um dos grupos que atuam “dentro da legalidade” que mais gerou resultados sólidos nos últimos tempo – você não precisa ser vegetarianx para se voluntariar, mas durante o tempo que estiver no naviozinho só vai comer coisas vegans. Isso é importante, é um convitinho para as pessoas entenderem, é não comprometer o que você acredita só porque é mais fácil. Imagina só, teriam bem mais pessoas se candidatando ao voluntariado se eles abandonassem a dieta vegetariana a bordo, não é mesmo? Mas não é isso que acontece. A autora do livro deixa bem claro que voltar a comer carne foi uma decisão de amadurecimento para ela, e isso é uma postura bem elitista – aliás a introdução começa e termina com esse tom, o tempo todo.