Algumas reflexões sobre Separatismo e Poder - integral

ALGUEM QUER FAZER A REVISÃO? tradução tá pronta. agora o texto tá integral.

Algumas reflexões sobre Separatismo e Poder – Marilyn Frye

Versões

em português
em inglês

em português

Algumas Reflexões sobre o Separatismo e o Poder (1977)

Marilyn Frye

Tenho estado a tentar escrever algo sobre o separatismo quase desde o princípio da minha consciência feminista; contudo tal sempre foi para mim de alguma forma um assunto difícil, o qual, logo que o tentava agarrar, suavemente se esvaía tomando a forma de outros assuntos tais como a sexualidade, o ódio-aos-homens, a chamada discriminação inversa, o utopismo apocalíptico, etc. O que tenho para compartilhar com vocês hoje é minha última tentativa de chegar ao cerne da questão.

Na minha vida e dentro do feminismo tal como o compreendo, o separatismo não é uma teoria ou uma doutrina, nem uma exigência de certos comportamentos específicos por parte das feministas, embora esteja inegavelmente ligado ao lesbianismo.
O feminismo parece-me ser caleidoscópico — algo cujas formas, estruturas e padrões se alteram com cada movimento da criatividade feminista; e um elemento que se encontra presente através de todas as mudanças é um elemento de separação.
Este elemento tem diferentes papéis e relações em diferentes movimentos do espelho — esse elemento assume sentidos diferentes, torna-se diferentemente conspícuo, diferentemente determinado ou determinante, dependendo de como os pedaços caem e quem está observando. O tema da separação, nas suas variações múltiplas, está presente em tudo desde o divórcio às comunidades exclusivas de separatistas lésbicas, desde os abrigos para mulheres espancadas a círculos de bruxas, desde os programas de Estudos sobre as Mulheres aos bares de mulheres, desde a expansão de centros de cuidados à infância ao aborto livre e dependente da vontade das mulheres. A presença deste tema é vigorosamente obscurecida, trivializada, mistificada e totalmente negada por muitas apologistas feministas, que parecem achá-lo tema embaraçoso, enquanto que é aceite, explorado, expandido e ramificado pela maioria das teóricas e ativistas mais inspiradoras. O tema da separação está visivelmente ausente ou severamente limitado da maioria das coisas que eu entendo como sendo soluções pessoais e projetos ‘penso rápido’, tal como a legalização da prostituição, contratos de casamento liberais, a melhoria do tratamento de vítimas de abuso e ação afirmativa. A natureza antagônica da assimilação e do separatismo parece-me ser uma das principais coisas que guia ou determina a avaliação de várias teorias, ações e práticas como sendo reformistas ou radicais, como indo à raiz da questão ou sendo relativamente superficial. Assim a minha questão é esta: O que contém a separação, em qualquer ou todas as suas muitas formas e graus, que a torna tão basilar e tão sinistra, tão excitante e tão repelente?
A separação feminista é, como se sabe, uma separação de vários graus os modos dos homens e das instituições, relacionamentos, papéis e atividades que são definidas-pelos-homens, dominadas-pelos-homens e que operam para o benefício dos machos e a manutenção do privilégio macho — sendo que esta separação é iniciada ou mantida, de acordo com a sua vontade, por mulheres (O separatismo masculinista é a segregação parcial das mulheres dos homens e dos domínios machos pela vontade dos homens. Esta diferença é crucial.). A separação feminista pode assumir várias formas. O terminar ou evitar relações íntimas ou de trabalho, proibir alguém de entrar na sua casa; excluindo alguém da sua companhia, ou da sua reunião; retirar-se da participação nalguma atividade ou instituição, ou evitar essa participação; evitar a comunicação e a influência vindas de certos quadrantes (não ouvir músicas com letras sexistas, não ver televisão); recusar empenho ou apoio; rejeitar ou ser malcriada para com indivíduos ofensivos. Algumas separações são subtis realinhamentos de identificação, prioridades e empenhos, ou o trabalho com agendas/programas que apenas por acaso coincidem com as agendas/programas da instituição para a qual se trabalha. A cessação da lealdade para com algo ou alguém é uma separação; e a cessação do amor. As separações da feminista são rarissimamente procuradas ou mantidas diretamente como finalidades últimas, pessoais ou políticas. O que de tal mais se aproxima, penso, é a separação que representa a repulsa instintiva e auto-perseverante da misoginia sistemática que nos rodeia. Geralmente as separações ocorrem e são mantidas com vista a alguma outra coisa tal como a independência, a liberdade, o crescimento, a invenção, a sororidade, a segurança, a saúde, ou a prática de costumes novos ou hereges. Frequentemente as separações em questão evoluem, sem premeditação, à medida que seguimos o nosso caminho e achamos que várias pessoas, instituições, ou relacionamentos são inúteis, obstrucionistas ou incomodativos, e os pomos de lado ou os deixamos para trás. Por vezes, as separações são planejadas conscientemente e cultivadas enquanto pré-requisitos ou condições necessários para dar continuidade aos nossos assuntos. Por vezes, as separações são conseguidas ou mantidas facilmente, ou com um sentimento de alívio, ou mesmo de alegria; por vezes, são conseguidas ou mantidas com dificuldade, à custa de vigilância constante ou com ansiedade, dor ou desgosto.
A maioria das feministas, provavelmente todas, praticam alguma separação dos machos e das instituições por eles dominadas. Uma separatista pratica a separação conscientemente, sistematicamente, e provavelmente de uma maneira mais geral do que as outras, e advoga a completa separação como parte da estratégia consciente da libertação. E, contrariamente à imagem da separatista como covarde escapista, a vida desta é a vida e o programa que inspira a maior hostilidade, depreciação, insulto e confrontação, e geralmente ela é aquela contra quem as sanções económicas operam mais concludentemente. A penalização pela recusa de trabalhar com ou para os homens costuma ser a fome (ou no mínimo, viver sem assistência médica); e se a nossa política de não-cooperação é mais sutil, o nosso meio de subsistência está constantemente ameaçado, uma vez que não somos uma leal partidária, um membro adequado da equipe, ou seja o que for. As penalidades reservadas à lésbica são o ostracismo, o assédio, e a insegurança de emprego ou o desemprego. A penalização reservada à rejeição dos avanços sexuais dos homens é frequentemente a violação, e talvez ainda mais frequentemente, a perda de coisas tais como oportunidades profissionais ou no emprego. E a separatista vive com o peso adicional de ser tomada por muitos como uma preconceituosa moralmente depravada que odeia homens. Mas aqui encontramos uma pista: se estamos a fazer algo tão rigorosamente proibido pelos patriarcas, devemos estar fazendo algo de certo.
Há uma ideia flutuante, quer na literatura feminista, quer na anti-feminista, segundo a qual as mulheres e os homens vivem numa relação de parasitismo, um parasitismo do homem sobre a mulher…que é, regra geral, a força, energia, inspiração e apoio psíquico das mulheres que mantém os homens em atividade, e não a força, agressão, espiritualidade e caça dos homens que mantêm as mulheres em atividade.
Por vezes diz-se que o parasitismo é contrário, que a mulher é a parasita. Mas só se consegue imaginar a aparência da mulher como parasita se se tiver uma visão muito estreita da vivência humana — historicamente provinciana, estreita em relação à classe e à raça, e limitada na concepção daquilo que são os bens necessários. Geralmente, o contributo da mulher para o seu bem estar material é e sempre foi substancial; em muitas épocas e lugares tem sido independentemente suficiente. Podemos e devemos distinguir entre uma dependência material parcial e contingente criada por certa economia de dinheiro e estrutura de classe, e a quase ubíqua dependência espiritual, emocional e material dos homens face às mulheres.
Presentemente, os homens providenciam, umas vezes sim outras vezes não, uma parcela do apoio material das mulheres, em circunstâncias aparentemente feitas para tornar difícil às mulheres o providenciar por si próprias. Mas as mulheres providenciam e geralmente têm providenciado aos homens a energia e o espírito necessários à vida; os homens são apoiados psiquicamente pelas mulheres. E isto é algo que os homens, ao que parece, não podem fazer por si próprios, nem parcialmente. O parasitismo dos homens face às mulheres é demonstrado pelo pânico, raiva e histeria gerados em tantos deles só de pensarem que vão ser abandonados pelas mulheres. Mas isso é demonstrado de uma forma que talvez seja mais persuasiva em geral por evidências literárias e sociológicas. Evidência citada no trabalho de Jesse Bernard em ‘O Futuro do Casamento’ e o ‘Suicídio Sexual’ de George Gilder e ‘Homens Sozinhos’ mostram de forma convincente que os homens tendem em números e grau surpreendentemente significativos alarmante a cair em doenças mentais, pequenos crimes, alcoolismo, enfermidades físicas, desemprego crônico, drogadição e neurose quando privados de cuidado e companheirismo de uma esposa ou dona de casa. (Enquanto, por outro lado, as mulheres sem companheiros são significativamente mais saudáveis e mais felizes do que as mulheres com parceiros.) E a literatura masculina é abundante com indicações de canibalismo masculino, dos machos derivando o sustento essencial das fêmeas. As imagens canibais, visuais e verbais, são comuns na pornografia: imagens que associam mulheres a comida e sexo para comer. E, conforme documentado em Sexual Politics, de Millett, e em muitas outras análises feministas de literatura masculina, o tema de homens que se destacam ao espancar, estuprar ou matar mulheres (ou simplesmente intimidá-las) é comum. Essas interações com as mulheres, ou melhor, essas ações sobre as mulheres, fazem os homens sentirem-se bem, orgulhosos, se sentirem revigorados.

Homens ficam exauridos e carentes por viverem só e entre outros homens, e são revigorados, restaurados, indo para casa e sendo servidos no jantar, usando roupas limpas, fazendo sexo com a esposa; ou ao deixar o apartamento de uma amiga mulher para tomar um café ou uma bebida e acariciá-la de um jeito ou de outro; ou pegando uma prostituta para um programa ou para entrar em fantasias sexuais favoritas; ou estuprando refugiados de suas guerras (estrangeiros e domésticos). A assistência das mulheres sejam elas dispostas ou não, livres ou pagas, é o que restaura nos homens a força, vontade e confiança para continuar com o que eles chamam de viver.

Se é verdade que um aspecto fundamental das relações entre os sexos é o parasitismo masculino, tal poderá ajudar a explicar por que é que certas questões são particularmente excitantes para os supremacistas patriarcais. Por exemplo, dadas às óbvias vantagens do aborto facilitado para o controlo populacional e diminuição dos custos da segurança social, e para assegurar o acesso sexual dos homens às mulheres, é um pouco surpreendente que os supremacistas se lhe oponham tão inabalavelmente. Mas vejamos…
O feto vive parasitariamente. É um animal distinto que vive da vida (o sangue) de outra criatura animal. É incapaz de sobreviver por si próprio, de nutrição independente; é incapaz mesmo de simbiose. Se for verdade que os homens vivem parasitariamente das mulheres, parece razoável supor que muitos deles e daquelas que lhes são leais são de alguma forma sensíveis ao paralelo entre a sua situação e a do feto. Poderiam facilmente identificar-se com o feto. A mulher que se sente livre para ver o feto como um parasita poder-se-á sentir livre para ver o homem como parasita. A vontade da mulher em cortar a linha-de-vida a um parasita sugere uma vontade de cortar a linha-de-vida a outro parasita. A mulher que é capaz (legal, psicológica e fisicamente) de rejeitar um dos parasitas decisivamente, no seu próprio interesse, independentemente, é capaz de rejeitar, com a mesma decisão e independência, o fardo semelhante do outro parasita.
Os olhos do outro parasita, a imagem do aborto inteiramente decidido pela mulher, sem sequer uma submissão ritual ao poder masculino do veto, é a imagem espelhada da morte. Outra pista aqui é que uma linha de raciocínio contra o aborto livre e fácil é o argumento escorregadio de que, se os fetos forem dispensados livremente, os idosos serão os próximos. Idosos? Por que os idosos serão os próximos? E por que a grande preocupação por eles? A maioria das pessoas idosas são mulheres, de fato, e os partidários patriarcais geralmente não são tão solícitos quanto ao bem-estar de qualquer mulher. Por que pessoas velhas? Porque, penso eu, nas modernas divisões patriarcais do trabalho, os idosos também são parasitas das mulheres. As pessoas anti-aborto parecem não se preocupar com espancamento de esposas e assassinatos de mulheres – não há apoio popular amplo ou emocional para parar essas violências. Eles não se preocupam com assassinatos e esterilização involuntária nas prisões, nem assassinatos em guerra, nem assassinatos por poluição e acidentes industriais. Ou estes não são reais para eles ou não podem se identificar com as vítimas; mas de qualquer maneira, matar em geral não é o que eles se opõem. Eles se preocupam com a rejeição das mulheres, a critério das mulheres, de algo que vive parasitariamente nas mulheres. Eu suspeito que eles não se preocupem porque os idosos são os próximos, mas porque os homens são os próximos.

Há outros motivos que levam os supremacistas patriarcais a sentirem-se perturbados pelo aborto segundo a decisão da mulher, sendo um dos principais que tal se tornaria um modo significativo de controlo das mulheres sobre a reprodução, e pelo menos visto de certos ângulos, parece que o progresso do patriarcado é o progresso em direção ao controle masculino da reprodução, começando com a propriedade de mulheres e continuando através da invenção da obstetrícia e a tecnologia de gestação extra-uterina. Desistir desse controle seria desistir do patriarcado. A histeria em torno do aborto explica-se em termos de um pressentimento muito imediato e pessoal de rejeição do útero-mulher.
Estou discutindo o aborto porque me parece ser o campo mais publicamente emocional e mais fisicamente dramático onde atualmente se joga o tema da separação e do parasitismo masculino. Mas há outros campos. Por exemplo, as mulheres que recentemente assumiram uma nova visão da sua realidade tendem a deixar casamentos e famílias, quer completamente através do divórcio, quer parcialmente, negando os seus serviços domésticos e sexuais. Muitas mulheres que estão acordando tornam-se celibatárias ou lésbicas, e as outras tornam-se muito mais exigentes na escolha de quando, onde e em que relacionamentos terão sexo com homens. E os homens afetados por estas separações geralmente reagem com hostilidade defensiva, ansiedade, e culpabilização da mulher, para não falar quando descem ao nível de argumentos ilógicos que equivalem e excedem as suas próprias imagens fantasiosas da irracionalidade das mulheres. O meu argumento é que eles têm muito medo porque dependem em demasia dos bens que recebem das mulheres, e estas separações negam-lhes acesso a esses bens.
O parasitismo masculino significa que os homens têm de ter acesso às mulheres; é o Imperativo Patriarcal. Mas o dizer-não feminista é mais do que uma remoção (redireção, recolocação) substancial de bens e serviços porque o acesso é uma das faces do poder. A negação das mulheres ao acesso masculino às mulheres corta substancialmente uma série de benefícios, mas tem também a forma e o pleno portento do assumir do poder.
As diferenças de poder manifestam-se sempre em acesso assimétrico. O presidente da república tem acesso a quase todos para qualquer coisa que possa querer deles, e quase ninguém tem acesso a ele. Os super-ricos têm acesso a quase todos; quase ninguém tem acesso a eles. Os recursos do empregado estão à disposição do patrão de uma forma que os recursos do patrão não são acessíveis ao empregado. O pai e a mãe têm incondicional acesso ao quarto da criança; a criança não tem esse acesso ao quarto dos pais. A criança não tem licença para mentir; o pai e a mãe têm a liberdade de excluir a criança com as mentiras que lhes apetecer. O escravo é incondicionalmente acessível ao senhor. O poder total é o acesso incondicional; a impotência total é ser incondicionalmente acessível. A criação e manipulação do poder constitui-se pela manipulação e controlo do acesso.
Os grupos, encontros, projetos exclusivamente de mulheres parecem feitos para causar controvérsia e confrontos. Muitas mulheres ofendem-se com eles; muitas têm medo de ser aquela que anuncia a exclusão dos homens; é visto com um instrumento cuja utilização carece de muita justificação complicada. Penso que isto é porque a exclusão consciente e deliberada dos homens pelas mulheres, seja do que for, é insubordinação aberta, e gera nas mulheres um medo do castigo e da represália (medo frequentemente justificado). A nossa própria timidez e desejo de evitar confrontos geralmente impede-nos de ter muito a ver com grupo e encontros exclusivamente para mulheres. Mas quando o fazemos, invariavelmente encontramos o campeão que desafia nosso direito de fazê-lo. Apenas uma pequena minoria de homens enlouquece quando um evento é anunciado para ser apenas para mulheres – apenas um homem tentou bater em nosso Rape Speak-Out exclusivo para mulheres, e apenas alguns se esconderam sob os assentos do auditório para tentar espionar uma mulher. – Apenas encontro em uma convenção do NOW na Filadélfia. Mas estes poucos estão em algo que seus compatriotas menos raivosos estão perdendo.

O encontro para mulheres exclusivamente é um desafio fundamental à estrutura do poder. É sempre privilégio do senhor entrar na cabana do escravo. O escravo que resolve excluir o senhor da sua cabana está a declarar-se não escravo. A exclusão dos homens do encontro de mulheres não só lhes retira certos benefícios (sem os quais poderiam sobreviver). É um controle pelo acesso, daí um assumir de poder. Não é apenas mesquinho, é arrogante.
Torna-se agora claro porque há sempre uma aura de negatividade em torno do separatismo – uma aura que ofende a Poliana 1 em cada uma de nós e que soa a uma atitude puramente defensiva àquilo que há de teórica política que há em nós. É o seguinte: Primeiro: quando aqueles que controlam o acesso nos tornaram totalmente acessíveis, o nosso primeiro ato de tomada de controle tem de ser a negação do acesso, ou tem de ter como um dos seus aspectos a negação do acesso. Isto não se dá porque estamos carregadas de negatividade (não-feminina ou politicamente incorreta). Trata-se da lógica da situação. Quando começamos de uma posição de total acessibilidade tem de haver um aspecto de dizer-não, que é o princípio do controle, em cada ato ou estratégia efetiva, sendo os atos e as estratégias efetivos precisamente aqueles que deslocam o poder , isto é, atos e estratégias que envolvem a manipulação e o controle do acesso. Segundo: quer digamos “não” ou não, ou negamos ou rejeitamos, nesta ou noutra ocasião, a capacidade de dizer “não” (efetivamente) é logicamente necessária ao controle. Quando estamos em controle do acesso a nós próprias haverá algum dizer-não, e quando estivermos mais acostumadas, quando for mais comum, uma parte vulgar da vida, não parecerá tão óbvio ou esforçado…não pareceremos a nós próprias ou aos outros como sendo particularmente negativas. Neste aspecto de nós próprias e das nossas vidas, parecermos aos nossos próprios olhos agradavelmente, como seres ativos com movimento próprio, com suficiente forma e estrutura, com suficiente integridade para gerar fricção. A nossa experiência de dizer-não será um aspecto da nossa experiência, da nossa definição.
Quando os nossos atos ou práticas feministas têm um aspecto de separação estamos a adquirir poder por meio do controle do acesso, e simultaneamente por meio da aquisição da definição. A escrava que exclui o senhor da sua cabana está por esse meio a declarar-se não-escrava. E a definição é uma outra face do poder.
Os poderosos costumam determinar aquilo que é dito e dizível. Quando os poderosos rotulam ou batizam algo, esse algo torna-se o que os poderosos lhe chamaram. Por exemplo, quando o Ministro da Defesa chama a algo uma negociação de paz, então seja o que for que ele chamou uma negociação de paz é uma situação de negociação de paz. Se a atividade em questão incidia sobre os termos da troca de reatores nucleares e redistribuições territoriais, incluindo acordos para os resultantes refugiados, isso é negociar a paz. As pessoas aplaudem, e aos negociadores é dado o Nobel da Paz. Por outro lado, quando eu chamo a determinado ato da fala uma violação, o meu “chamá-lo” não o torna violação. Na melhor das hipóteses, tenho de explicar e justificar e tornar claro exatamente o que é que neste ato da fala é agressão e exatamente de que maneira, e então os outros concordam em dizer que o ato foi como uma violação ou poderia em sentido figurado chamar-se uma violação. O meu contra-ataque não será aceite como simples ato de auto-defesa. E aquilo a que eu chamei rejeição do parasitismo, eles chamam a perda das virtudes mulheris da compaixão e do “amor”. E geralmente quando as mulheres rebeldes chamam algo a uma coisa e os supremacistas patriarcais chamam-lhe outra coisa, os supremacistas ganham.
Regra geral as mulheres não são as pessoas que definem, e, a partir do nosso isolamento e impotência, não podemos simplesmente começar a dizer coisas diferentes das que os outros dizem e fazer com que os nossos nomes prevaleçam.
Mas, se reformularmos o acesso, podemos definir-nos. Ao assumir o controlo do acesso, desenhamos novas fronteiras e criamos novos papéis e relacionamentos. Isto, embora cause tensão, estranheza e hostilidade, está em larga medida dentro das possibilidades de indivíduos e pequenos grupos, contrariamente à redefinição verbal declarada.
Podemos ver o acesso como sendo de dois tipos, “natural” e humanamente organizado. Um urso num parque tem aquilo a que se pode chamar acesso natural ao cesto da merenda do humano desarmado. O acesso do patrão aos serviços pessoais da secretária é um acesso humanamente organizado; o patrão exerce um poder institucional. Olhadas de determinado ângulo parece-me que as instituições são padrões de acesso humanamente organizadas — acesso às pessoas e aos seus serviços. Mas as instituições são artefatos de definição. No caso de instituições intencional e formalmente organizadas, isso torna-se muito claro, pois as definições relevantes encontram-se explicitadas em constituições, regulamentos e regras. Quando se define o termo “presidente”, está-se a definir presidentes nos termos daquilo que podem fazer e daquilo que lhes é devido por outras instituições, e “aquilo que eles podem fazer” é uma questão do acesso que têm aos serviços dos outros. De modo semelhante, as definições de reitor, estudante, juiz, e polícia classificam padrões de acesso, e as definições de escritor, criança, proprietário e, naturalmente, marido, esposa, e homem e mulher. Quando mudamos o padrão de acesso, impomos novas utilizações de palavras àqueles/as afetados/as pelas mesmas. O termo “homem” tem de ter uma deslocação de significado quando a violação já não é possível. Quando tomamos controlo do acesso sexual a nós próprias, do acesso ao nosso apoio psíquico e à nossa função reprodutiva, acesso ao ser-mãe e ao ser-irmã, redefinimos a palavra “mulher”. A deslocação da utilização da palavra é imposta aos outros por uma mudança na realidade social; não aguarda o seu reconhecimento da nossa autoridade de definir. Quando as mulheres separam (se retiram, se reagrupam, transcendem, empurram para o lado, migram, dizem não), estamos simultaneamente controlando o acesso e o definindo.
Somos duplamente insubordinadas, uma vez que nem uma nem outra destas coisas é permitida. E o acesso e a definição são ingredientes fundamentais na alquimia do poder, portanto somos duplamente, e radicalmente insubordinadas.
Assim, se estas são algumas das maneiras em que a separação se encontra no cerne da nossa luta, isso ajuda-nos a explicar porque é que a separação é um tópico tão quente. Se há algo que as mulheres temem é a tomada de poder. Desde que nos fiquemos aquém desse ponto, os patriarcas terão, na maioria dos casos uma atitude indulgente. Temos medo daquilo que nos acontecerá quando realmente os assustarmos. Este não é um medo irracional. É nossa experiência no movimento de mulheres que o elemento defensivo, violento, hostil e irracional da reação ao feminismo tende a corresponder com o grau de ostentação do elemento de separação na estratégia ou projeto que despoleta a reação. As separações que advêm quando as mulheres deixam casa, casamentos e namorados, separações de fetos, e a separação do lesbianismo são todas bastante dramáticas. Isto é, são dramáticas e ostensivas quando percebidas de dentro da estrutura erigida pela mundivisão patriarcal e pelo parasitismo masculino. Os assuntos ligados ao casamento e ao divórcio, ao lesbianismo, e ao aborto tocam homens individuais (e suas simpatizantes) porque eles sentem a relevância em relação a si próprios desses assuntos — eles sentem a ameaça de que poderão ser os próximos.

Assim, a heterossexualidade, o, casamento, e a maternidade, que são as instituições que mais obvia e individualmente mantêm a acessibilidade das mulheres pelos homens formam a tríade central da ideologia anti-feminista, e os espaços, organizações, encontros, aulas exclusivamente para mulheres são ilegalizadas, suprimidas, assediadas, ridicularizadas e punidas, em nome dessa outra bela e duradoura instituição patriarcal, a Igualdade Sexual.
Para algumas de nós estas questões poderão parecer quase alheias… questões estranhas para estarem no centro das atenções. Nós estamos empenhadamente ocupadas naquilo que nos parece as nossas insubordinações ostensivas: vivendo as nossas próprias vidas, tomando conta de nós próprias e de cada uma, fazendo o nosso trabalho, e em particular, dizendo a verdade que vemos. Todavia, o pecado original é a separação que essas atividades pressupõem, e será por elas, não pela nossa arte ou filosofia, não pelos nossos discursos, não pelos nossos “atos sexuais” (ou abstinências), que seremos perseguidas, quando o pior der no pior.

……………………………………………………………………..

Traduzido por Revista Lilás n. 10, retirado de Sarah Lucia Hoagland e Julia Penelope (ed.) (1988) For Lesbians Only — A separatist anthology (Para lésbicas apenas — uma antologia separatista), Londres: Onlywomen Press. Imagens do Michigan Fest, festival separatista estadunidense.

Notas

1 Poliana é a personagem de um livro infanto-juvenil de Eleanor H. Porter publicado em 1913, que era extremamente otimista e fazia o bem a todos. A protagonista, órfã e vítima de tragédias, ensina todos na cidade a jogar o “jogo do contente” que procura extrair algo de bom e positivo em tudo, mesmo nas maiores adversidades. A autora escreveu o livro com a intenção de evangelizar leitores nos conceitos cristão de amor ao próximo e perdão a quem te fez mal.

em inglês

Some Reflections on Separatism and Power
by Marilyn Frye

In The Politics of Reality: essays in feminist theory (1983, Crossing Press)

I have been trying to write something about separatism almost since my first dawning of feminist consciousness, but it has always been for me somehow a mercurial topic which, when I tried to grasp it, would softly shatter into many other topics like sexuality, man-hating, so-called reverse discrimination, apocalyptic utopianism, and so on. What I have to share with you today is my latest attempt to get to the heart of the matter.

In my life, and within feminism as I understand it, separatism is not a theory or a doctrine, nor a demand for certain specific behaviors on the part of feminists, though it is undeniably connected with lesbianism. Feminism seems to me to be kaleidoscopic–something whose shapes, structures and patterns alter with every turn of feminist creativity; and one element which is present through all the changes is an element of separation. This element has different roles and relations in different turns of the glass–it assumes different meanings, is variously conspicuous, variously determined or determining, depending on how the pieces fall and who is the beholder. The theme of separation, in its multitude variations, is there in everything from divorce to exclusive lesbian separatist communities, from shelters for battered women to witch covens, from women’s studies programs to women’s bars, from expansion of daycare to abortion on demand. The presence of this theme is vigorously obscured, trivialized, mystified and outright denied by many feminist apologists, who seem to find it embarrassing, while it is embraced, explored, expanded and ramified by most of the more inspiring theorists and activists. The theme of separation is noticeably absent or heavily qualified in most of the things I take to be personal solutions and band-aid projects, like legalization of prostitution, liberal marriage contracts, improvement of the treatment of rape victims and affirmative action. It is clear to me, in my own case at least, that the contrariety of assimilation and separation is one of the main things that guides or determines assessments of various theories, actions and practices as reformist or radical, as going to the root of the thing or being relatively superficial. So my topical question comes to this: What is it about separation, in any or all of its many forms and degrees, that makes it so basic and so sinister, so exciting and so repellent?

Feminist separation is, of course, separation of various sorts or modes from men and from institutions, relationships, roles and activities which are male-defined, male-dominated and operating for the benefit of males and the maintenance of male privilege–this separation being initiated or maintained, at will, by women. (Masculist separatism is the partial segregation of women from men and male domains at the will of men. This difference is crucial.) The feminist separation can take many forms. Breaking up or avoiding close relationships or working relationships; forbidding someone to enter your house; excluding someone from your company, or from your meeting; withdrawal from participation in some activity or institution, or avoidance of participation; avoidance of communications and influence from certain quarters (not listening to music with sexist lyrics, not watching tv); withholding commitment or support; rejection of or rudeness toward obnoxious individuals.(F2) Some separations are subtle realignments of identification, priorities and commitments, or working with agendas which only incidently coincide with the agendas of the institution one works in.(1) Ceasing to be loyal to something or someone is a separation; and ceasing to love. The feminist’s separations are rarely if ever sought or maintained directly as ultimate personal or political ends. The closest we come to that, I think, is the separation which is the instinctive and self-preserving recoil from the systematic misogyny that surrounds us.(F3) Generally, the separations are brought about and maintained for the sake of something else like independence, liberty, growth, invention, sisterhood, safety, health, or the practice of novel or heretical customs.(2) Often the separations in question evolve, unpremeditated, as one goes one’s way and finds various persons, institutions or relationships useless, obstructive or noisome and leaves them aside or behind. Sometimes the separations are consciously planned and cultivated as necessary prerequisites or conditions for getting on with one’s business. Sometimes the separations are accomplished or maintained easily, or with a sense of relief, or even joy; sometimes they are accomplished or maintained with difficulty, by dint of constant vigilance, or with anxiety, pain or grief.

Most feminists, probably all, practice some separation from males and male-dominated institutions. A separatist practices separation consciously, systematically, and probably more generally than the others, and advocates thorough and “broadspectrum” separation as part of the conscious strategy of liberation. And, contrary to the image of the separatist as a cowardly escapist,(3) hers is the life and program which inspires the greatest hostility, disparagement, insult and confrontation and generally she is the one against whom economic sanctions operate most conclusively. The penalty for refusing to work with or for men is usually starvation (or, at the very least, doing without medical insurance(4)); and if one’s policy of noncooperation is more subtle, one’s livelihood is still constantly on the line, since one is not a loyal partisan, a proper member of the team, or what have you. The penalties for being a lesbian are ostracism, harassment and job insecurity or joblessness. The penalty for rejecting men’s sexual advances is often rape and, perhaps even more often, forfeit of such things as professional or job opportunities. And the separatist lives with the added burden of being assumed by many to be a morally depraved man-hating bigot. But there is a clue here: if you are doing something that is so strictly forbidden by the patriarchs, you must be doing something right.

There is an idea floating around in both feminist and antifeminist literature to the effect that females and males generally live in a relation of parasitism,(5) a parasitism of the male on the female… that it is, generally speaking, the strength, energy, inspiration and nurturance of women that keeps men going, and not the strength, aggression, spirituality and hunting of men that keeps women going.

It is sometimes said that the parasitism goes the other way around, that the female is the parasite. But one can conjure the appearance of the female as parasite only if one takes a very narrow view of human living–historically parochial, narrow with respect to class and race, and limited in conception of what are the necessary goods. Generally, the female’s contribution to her material support is and always has been substantial; in many times and places it has been independently sufficient. One can and should distinguish between a partial and contingent material dependence created by a certain sort of money economy and class structure, and the nearly ubiquitous spiritual, emotional and material dependence of males on females. Males presently provide, off and on, a portion of the material support of women, within circumstances apparently designed to make it difficult for women to provide them for themselves. But females provide and generally have provided for males the energy and spirit for living; the males are nurtured by the females. And this the males apparently cannot do for themselves, even partially.

The parasitism of males on females is, as I see it, demonstrated by the panic, rage and hysteria generated in so many of them by the thought of being abandoned by women. But it is demonstrated in a way that is perhaps more generally persuasive by both literary and sociological evidence. Evidence cited in Jesse Bernard’s work in The Future of Marriage and in George Gilder’s Sexual Suicide and Men Alone convincingly shows that males tend in shockingly significant numbers and in alarming degree to fall into mental illness, petty crime, alcoholism, physical infirmity, chronic unemployment, drug addiction and neurosis when deprived of the care and companionship of a female mate, or keeper. (While on the other hand, women without male mates are significantly healthier and happier than women with male mates.) And masculist literature is abundant with indications of male cannibalism, of males deriving essential sustenance from females. Cannibalistic imagery, visual and verbal, is common in pornography: images likening women to food, and sex to eating. And, as documented in Millett’s Sexual Politics and many other feminist analyses of masculist literature, the theme of men getting high off beating, raping or killing women (or merely bullying them) is common. These interactions with women, or rather, these actions upon women, make men feel good, walk tall, feel refreshed, invigorated. Men are drained and depleted by their living by themselves and with and among other men, and are revived and refreshed, re-created, by going home and being served dinner, changing to clean clothes, having sex with the wife; or by dropping by the apartment of a woman friend to be served coffee or a drink and stroked in one way or another; or by picking up a prostitute for a quicky or for a dip in favorite sexual escape fantasies; or by raping refugees from their wars (foreign and domestic). The ministrations of women, be they willing or unwilling, free or paid for, are what restore in men the strength, will and confidence to go on with what they call living.

If it is true that a fundamental aspect of the relations between the sexes is male parasitism, it might help to explain why certain issues are particularly exciting to patriarchal loyalists. For instance, in view of the obvious advantages of easy abortion to population control, to control of welfare rolls, and to ensuring sexual availability of women to men, it is a little surprising that the loyalists are so adamant and riled up in their objection to it. But look.

The fetus lives parasitically. It is a distinct animal surviving off the life (the blood) of another animal creature. It is incapable of surviving on its own resources, of independent nutrition; incapable even of symbiosis. If it is true that males live parasitically upon females, it seems reasonable to suppose that many of them and those loyal to them are in some way sensitive to the parallelism between their situation and that of the fetus. They could easily identify with the fetus. The woman who is free to see the fetus as a parasite(F4) might be free to see the man as a parasite. The woman’s willingness to cut off the life line to one parasite suggests a willingness to cut off the life line to another parasite. The woman who is capable (legally, psychologically, physically) of decisively, self-interestedly, independently rejecting the one parasite, is capable of rejecting, with the same decisiveness and independence, the like burden of the other parasite. In the eyes of the other parasite, the image of the wholly self-determined abortion, involving not even a ritual submission to male veto power, is the mirror image of death.

Another clue here is that one line of argument against free and easy abortion is the slippery slope argument that if fetuses are to be freely dispensed with, old people will be next. Old people? Why are old people next? And why the great concern for them? Most old people are women, indeed, and patriarchal loyalists are not generally so solicitous of the welfare of any women. Why old people? Because, I think, in the modem patriarchal divisions of labor, old people too are parasites on women. The anti-abortion folks seem not to worry about wife beating and wife murder–there is no broad or emotional popular support for stopping these violences. They do not worry about murder and involuntary sterilization in prisons, nor murder in war, nor murder by pollution and industrial accidents. Either these are not real to them or they cannot identify with the victims; but anyway, killing in general is not what they oppose. They worry about the rejection by women, at women’s discretion, of something which lives parasitically on women. I suspect that they fret not because old people are next, but because men are next.

There are other reasons, of course, why patriarchal loyalists should be disturbed about abortion on demand; a major one being that it would be a significant form of female control of reproduction, and at least from certain angles it looks like the progress of patriarchy is the progress toward male control of reproduction, starting with possession of wives and continuing through the invention of obstetrics and the technology of extrauterine gestation. Giving up that control would be giving up patriarchy. But such an objection to abortion is too abstract, and requires too historical a vision, to generate the hysteria there is now in the reaction against abortion. The hysteria is, I think, to be accounted for more in terms of a much more immediate and personal presentiment of ejection by the woman-womb.(6)

I discuss abortion here because it seems to me to be the most publicly emotional and most physically dramatic ground on which the theme of separation and male parasitism is presently being played out. But there are other locales for this play. For instance,(7) women with newly raised consciousnesses tend to leave marriages and families, either completely through divorce, or partially, through unavailability of their cooking, housekeeping and sexual services. And women academics tend to become alienated from their colleagues and male mentors and no longer serve as sounding board, ego booster, editor, mistress or proofreader. Many awakening women become celibate or lesbian, and the others become a very great deal more choosy about when, where and in what relationships they will have sex with men. And the men affected by these separations generally react with defensive hostility, anxiety and guilt-tripping, not to mention descents into illogical argument which match and exceed their own most fanciful images of female irrationality. My claim is that they are very afraid because they depend very heavily upon the goods they receive from women, and these separations cut them off from those goods.

Male parasitism means that males must have access to women; it is the Patriarchal Imperative. But feminist no-saying is more than a substantial removal (redirection, reallocation) of goods and services because Access is one of the faces of Power. Female denial of male access to females substantially cuts off a flow of benefits, but it has also the form and full portent of assumption of power.

Differences of power are always manifested in asymmetrical access. The President of the United States has access to almost everybody for almost anything he might want of them, and almost nobody has access to him. The super-rich have access to almost everybody; almost nobody has access to them. The resources of the employee are available to the boss as the resources of the boss are not to the employee. The parent has unconditional access to the child’s room; the child does not have similar access to the parent’s room. Students adjust to professors’ office hours; professors do not adjust to students’ conference hours. The child is required not to lie; the parent is free to close out the child with lies at her discretion. The slave is unconditionally accessible to the master. Total power is unconditional access; total powerlessness is being unconditionally accessible. The creation and manipulation of power is constituted of the manipulation and control of access.

All-woman groups, meetings, projects seem to be great things for causing controversy and confrontation. Many women are offended by them; many are afraid to be the one to announce the exclusion of men; it is seen as a device whose use needs much elaborate justification. I think this is because conscious and deliberate exclusion of men by women, from anything, is blatant insubordination, and generates in women fear of punishment and reprisal (fear which is often well-justified). Our own timidity and desire to avoid confrontations generally keep us from doing very much in the way of all-woman groups and meetings. But when we do, we invariably run into the male champion who challenges our right to do it. Only a small minority of men go crazy when an event is advertised to be for women only–just one man tried to crash our women-only Rape Speak-Out, and only a few hid under the auditorium seats to try to spy on a women-only meeting at a NOW convention in Philadelphia. But these few are onto something their less rabid compatriots are missing. The woman-only meeting is a fundamental challenge to the structure of power. It is always the privilege of the master to enter the slave’s hut. The slave who decides to exclude the master from her hut is declaring herself not a slave. The exclusion of men from the meeting not only deprives them of certain benefits (which they might survive without); it is a controlling of access, hence an assumption of power. It is not only mean, it is arrogant.

It becomes clearer now why there is always an off-putting aura of negativity about separatism–one which offends the feminine pollyanna in us and smacks of the purely defensive to the political theorist in us. It is this: First: When those who control access have made you totally accessible, your first act of taking control must be denying access, or must have denial of access as one of its aspects. This is not because you are charged up with (unfeminine or politically incorrect) negativity; it is because of the logic of the situation. When we start from a position of total accessibility there must be an aspect of no-saying (which is the beginning of control) in every effective act and strategy, the effective ones being precisely those which shift power, i.e., ones which involve manipulation and control of access. Second: Whether or not one says “no,” or withholds or closes out or rejects, on this occasion or that, the capacity and ability to say “no” (with effect) is logically necessary to control. When we are in control of access to ourselves there will be some no-saying, and when we are more accustomed to it, when it is more common, an ordinary part of living, it will not seem so prominent, obvious, or strained… we will not strike ourselves or others as being particularly negative. In this aspect of ourselves and our lives, we will strike ourselves pleasingly as active beings with momentum of our own, with sufficient shape and structure–with sufficient integrity–to generate friction. Our experience of our no-saying will be an aspect of our experience of our definition.

When our feminist acts or practices have an aspect of separation, we are assuming power by controlling access and simultaneously by undertaking definition. The slave who excludes the master from her hut thereby declares herself not a slave. And definition is another face of power.

The powerful normally determine what is said and sayable. When the powerful label something or dub it or baptize it, the thing becomes what they call it. When the Secretary of Defense calls something a peace negotiation, for instance, then whatever it is that he called a peace negotiation is an instance of negotiating peace. If the activity in question is the working out of terms of a trade-off of nuclear reactors and territorial redistributions, complete with arrangements for the resulting refugees, that is peacemaking. People laud it, and the negotiators get Noble Piece Prizes for it. On the other hand, when I call a certain speech act a rape, my “calling” it does not make it so. At best, I have to explain and justify and make clear exactly what it is about this speech act which is assaultive in just what way, and then the others acquiesce in saying the act was like rape or could figuratively be called a rape. My counterassault will not be counted a simple case of self-defense. And what I called rejection of parasitism, they call the loss of the womanly virtues of compassion and “caring.” And generally, when renegade women call something one thing and patriarchal loyalists call it another, the loyalists get their way.(F5)

Women generally are not the people who do the defining, and we cannot from our isolation and powerlessness simply commence saying different things than others say and make it stick. There is a humpty-dumpty problem in that. But we are able to arrogate definition to ourselves when we repattern access. Assuming control of access, we draw new boundaries and create new roles and relationships. This, though it causes some strain, puzzlement and hostility, is to a fair extent within the scope of individuals and small gangs, as outright verbal redefinition is not, at least in the first instance.

One may see access as coming in two sorts, “natural” and humanly arranged. A grizzly bear has what you might call natural access to the picnic basket of the unarmed human. The access of the boss to the personal services of the secretary is humanly arranged access; the boss exercises institutional power. It looks to me, looking from a certain angle, like institutions are humanly designed patterns of access to persons and their services. But institutions are artifacts of definition. In the case of intentionally and formally designed institutions, this is very clear, for the relevant definitions are explicitly set forth in by-laws and constitutions, regulations and rules. When one defines the term “president,” one defines presidents in terms of what they can do and what is owed them by other offices, and “what they can do” is a matter of their access to the services of others. Similarly, definitions of dean, student, judge, and cop set forth patterns of access, and definitions of writer, child, owner, and of course, husband, wife, and man, and girl. When one changes the pattern of access, one forces new uses of words on those affected. The term ‘man’ has to shift in meaning when rape is no longer possible. When we take control of sexual access to us, of access to our nurturance and to our reproductive function, access to mothering and sistering, we redefine the word ‘woman.’ The shift of usage is pressed on others by a change in social reality; it does not await their recognition of our definitional authority.

When women separate (withdraw, break out, regroup, transcend, shove aside, step outside, migrate, say no), we are simultaneously controlling access and defining. We are doubly insubordinate, since neither of these is permitted. And access and definition are fundamental ingredients in the alchemy of power, so we are doubly, and radically, insubordinate.

If these, then, are some of the ways in which separation is at the heart of our struggle, it helps to explain why separation is such a hot topic. If there is one thing women are queasy about it is actually taking power. As long as one stops just short of that, the patriarchs will for the most part take an indulgent attitude. We are afraid of what will happen to us when we really frighten them. This is not an irrational fear.

It is our experience in the movement generally that the defensiveness, nastiness, violence, hostility and irrationality of the reaction to feminism tends to correlate with the blatancy of the element of separation in the strategy or project which triggers the reaction. The separations involved in women leaving homes, marriages and boyfriends, separations from fetuses, and the separation of lesbianism are all pretty dramatic. That is, they are dramatic and blatant when perceived from within the framework provided by the patriarchal world view and male parasitism. Matters pertaining to marriage and divorce, lesbianism and abortion touch individual men (and their sympathizers) because they can feel the relevance of these to themselves–they can feel the threat that they might be the next. Hence, heterosexuality, marriage and motherhood, which are the institutions which most obviously and individually maintain female accessibility to males, form the core triad of antifeminist ideology; and all-woman spaces, all-woman organizations, all-woman meetings, all-woman classes, are outlawed, suppressed, harassed, ridiculed and punished–in the name of that other fine and enduring patriarchal institution, Sex Equality.

To some of us these issues can seem almost foreign… strange ones to be occupying center stage. We are busily engaged in what seem to us our blatant insubordinations: living our own lives, taking care of ourselves and one another, doing our work, and in particular, telling it as we see it. Still, the original sin is the separation which these presuppose, and it is that, not our art or philosophy, not our speechmaking, nor our “sexual acts” (or abstinences), for which we will be persecuted, when worse comes to worst.
FOOTNOTES

(F1)This paper was first presented at a meeting of the Society for Women in Philosophy, Eastern Division, in December of 1977. It was first printed in Sinister Wisdom 6, Summer, 1978. It is also available as a pamphlet from Tea Rose Press, P.O. Box 591, East Lansing, Michigan, 48823. Before it was published, I received many helpful comments from those who heard or read the paper. I have incorporated some, made notes of others. I got help from Carolyn Shafer in seeing the structure of it all, in particular, the connections among parasitism, access and definition.

(F2) Adrienne Rich: ‘. ..makes me question the whole idea of ‘courtesy’ or ‘rudeness’–surely their constructs, since women become ‘rude’ when we ignore or reject male obnoxiousness, while male ‘rudeness’ is usually punctuated with the ‘Haven’t you a sense of humor’ tactic. “ Yes; me too. I embrace rudeness; our compulsive/compulsory politeness so often is what coerces us into their “fellowship.”

(F3) Ti-Grace Atkinson: Should give more attention here to our vulnerability to assault and degradation, and to separation as protection. Okay, but then we have to re-emphasize that it has to be separation at our behest–we’ve had enough of their imposed separation for our “protection.” (There’s no denying that in my real-life life, protection and maintenance of places for healing are major motives for separation.)

(F4) Caroline Whitbeck: Cross-cultural evidence suggests it’s not the fetus that gets rejected in cultures where abortion is common, it is the role of motherhood, the burden, in particular, of “illegitimacy”; where the institution of illegitimacy does not exist, abortion rates are pretty low. This suggests to me that the woman’s rejection of the fetus is even more directly a rejection of the male and his world than I had thought.

(F5)This paragraph and the succeeding one are the passage which has provoked the most substantial questions from women who read the paper. One thing that causes trouble here is that I am talking from a stance or position that is ambiguous–it is located in two different and noncommunicating systems of thought-action. Re the patriarchy and the English language, there is general usage over which I/we do not have the control that elite males have (with the cooperation of all the ordinary patriarchal loyalists). Re the new being and meaning which are being created now by lesbian-feminists, we do have semantic authority, and, collectively, can and do define with effect. I think it is only by maintaining our boundaries through controlling concrete access to us that we can enforce on those who are not-us our definitions of ourselves, hence force on them the fact of our existence and thence open up the possibility of our having semantic authority with them. (I wrote some stuff that’s relevant to this in the last section of my paper “Male Chauvinism: A Conceptual Analysis.”)(8) Our unintelligibility to patriarchal loyalists is a source of pride and delight, in some contexts; but if we don’t have an effect on their usage while we continue, willy nilly, to be subject to theirs, being totally unintelligible to them could be fatal. (A friend of mine had a dream where the women were meeting in a cabin at the edge of town, and they had a sort of inspiration through the vision of one of them that they should put a sign on the door which would connect with the patriarchs’ meaning-system, for otherwise the men would be too curious/frightened about them and would break the door down to get in. They put a picture of a fish on the door.) Of course, you might say that being intelligible to them might be fatal. Well, perhaps it’s best to be in a position to make tactical decisions about when and how to be intelligible and unintelligible.
ENDNOTES

Help from Claudia Card. Help from Chris Pierce and Sara Ann Ketchum. See “Separatism and Sexual Relationships,” in A Philosophical Approach to Women’s Liberation, eds. S. Hill and M. Weinzweig (Wadsworth, Belmont, California, 1978). Answering Claudia Card. Levity due to Carolyn Shafer. I first noticed this when reading Beyond God the Father, by Mary Daly (Beacon Press, Boston, 1973). See also Women’s Evolution, by Evelyn Reed (Pathfinder Press, New York, 1975) for rich hints about male cannibalism and male dependence. Claudia Card. The instances mentioned are selected for their relevance to the lives of the particular women addressed in this talk. There are many other sorts of instances to be drawn from other sorts of women’s lives. In (improbably enough) Philosophy and Sex, edited by Robert Baker and Frederick Elliston (Prometheus Books, Buffalo, New York, 1976).
 

→ fazer a revisão comparando a versão original e traduzida. Essa versão traduzida foi pega da tradução de português de PORTUGAL, portanto tirem os termos que são de lá e substituam por termos do português brasileiro.
Ela está incompleta, a parte faltante é só traduzir do inglês….

 
   

ALGUÉM QUER DAR UMA REVISADA FINAL?