Hacklab Independência é uma iniciativa de busca da independência através da tecnologia. Foi um projeto muito bom e me ajudou muito.
Início¶
Quando eu comecei isto foi em 2012 porque eu voltei do nordeste para a minha terra natal, Porto Alegre, e o único projeto ativo relacionado à tecnologia local que eu consegui inserção foi o Hackerspace Matehackers, e o pessoal lá não tinha a disposição ou o tempo para explorar o aspecto libertário da tecnologia como eu estava acostumado.
As minhas inflências eram outras e eu precisava de espaço para desenvolver estas coisas. De fato a necessidade de espaço se materializou, no edifício onde era o antigo hackerspace do Matehackers, o de número 330 da Avenida Independência em Porto Alegre, eu inclusive aluguei uma sala extra, a sala 209. Isto fez-se necessário para alocar o primeiro servidor que hospedou a primeira página pública acessível pelo domínio hi.ato.br.
Da Avenida Indpendência veio o nome do Hacklab, mas não foi só este o motivo.
Mediunidade¶
Desde o começo do projeto sempre teve muita gente especulando e querendo saber mais sobre o projeto. Várias contribuições anônimas foram de suma importância para o desenvolvimento e as decisões que eu tomei durante o tempo.
Este projeto sempre foi uma iniciativa individual e representativa. Nunca teve equipes ativas tomando decisões coletivas e horizontais.
Para algumas pessoas isto pode parecer um paradoxo, mas este projeto nunca foi individualista. Ser iniciativa individual não significa necessariamente ser individualista. O Hacklab Independência sempre foi a expressão de ideias coletivas. É um trabalho de medium, de intermediário. Em uma sociedade com muitas ideias e poucas atitudes, intermediários infelizmente são necessários e importantes.
Independência¶
Originalmente eu tinha pra mim que a busca por independência era útil para muita gente. Que tudo o que eu fizesse deveria ser documentado porque poderia ajudar alguém que proventura estivesse na mesma busca. Faz absoluto sentido isto.
Uma das primeiras coisas que eu aprendi é que tem pouquíssimas pessoas por aí buscando independência. É tão pouca gente que se tu for procurar, tu vai falhar em encontrar porque tem tanta gente bradando aos ventos que quer ser independente, mas são milhões que falam para dezenas que fazem. Separar os faladores dos fazedores é impossível para quem não tem um pertencimento avançado na busca por independência. Eu falhei em identificar a diferença durante anos e nem sempre investi meus esforços com sabedoria.
Me parece que a coisa fundamental na busca pela independência é que existe um pressuposto. Eu tenho que ser independente pra ser independente.
Eu me tornei tão independente que eu toquei o projeto sozinho todo este tempo. Provavalmente os produtos que foram cunhados durante o processo não são a coisa mais genial que já inventaram, mas foi um ensaio que demonstrou para mim que independência se tratava de ser capaz de se virar sozinho.
Fazer as coisas sozinho não tem graça.
Provavelmente essa busca pela independência é o que deveria se chamar de adolescência e atingir a independência seria tornar-se um adulto.
Novamente eu reafirmo, tem tão pouco adulto neste mundo que tu vai morrer sem saber quem é adulto e quem não é. Porque como é que tu vai diferenciar quem é e quem não é? Qual é o parâmetro?
Mimimi, faço tudo sozinho¶
Administrar servidores Linux é fácil. Difícil é se manter atualizado com as tecnologias novas enquanto toca o projeto inteiro sozinho. Algumas coisas acabam ficando mal documentadas, outras mal implementadas.
Durante o tempo inteiro eu contei com muita ajuda de gente que não administrava servidores. E isto era exatamente a ideia.
Computadores só são úteis quando servem para alguma coisa. Não tem utilidade nenhuma juntar um monte de administradores de sistema pra administrar sistemas. Se fosse esse o escopo do projeto eu partia pra área comercial e tava administrando mainframes e backbones.
A tecnologia é muito útil quando as pessoas conseguem explorar a sua área de interesse e aproveitar a facilidade da tecnologia. Grandes monopolizadores descobriram isto, e é por este motivo que tu consegue criar uma página no facebook e divulgar o teu projeto pros teus vizinhos e para uma minoria interessada no que tu tem pra dizer, contanto que tu pague.
Contudo, a falta de gente para administrar o servidor, e a necessidade de eu ter que atuar na linha de frente fazendo as relações públicas, lidando com seres humanos, consumia meu tempo. E além do Hacklab Independência eu tenho um emprego pra manter e uma família pra dar atenção. E também preciso ganhar dinheiro pra pagar o servidor, café e almoçar de vez em quando.
Aparentemente todo mundo que gosta de tela preta, chaves criptográficas, ssh, recarregar configurações de servidores web, editar arquivos de configuração na unha, estão ganhando dezenas de milhares de reais, de dolares, ou então socadas em um quarto se drogando.
Meu agradecimento a todo mundo que nunca configurou o envio de e-mail do cron mas que é excelente, muito melhor do que eu, no que faz. Fotógrafas(os), desenvolvedoras(es), artistas, designers, empreendedoras(es), fazedoras(es), políticas(os), e a lista continua.
Eu bem que tentei aprender de tudo um pouco mas eu acho que eu tenho limitações em algumas áreas, como por exemplo lidar com gente.
Dificuldades técnicas concretas¶
Lx2 fora do ar¶
Atualmente o servidor lx2.hi.ato.br está totalmente descconfigurado, e gastando recursos indevidamente, porque nenhum serviço está no ar.
Ele é o servidor que hospedava projetos como o util.hi.ato.br/cademeuposto, que recebeu honra ao mérito da prefeitura de Porto Alegre e um aperto de mão do prefeito (não que seja este o tipo de reconhecimento que eu busco); o baixo.de e a lorea.hi.ato.br, sementes da lorea que foi um dos primeiros projetos que guiaram o rumo e a tendência política do Hacklab Independência; o padeiro, que segundo relatos está sempre fora do ar; o social.hi.ato.br, que é a minha primeira tentativa instalando gnu social e era meu openid principal; o trac.hi.ato.br, que hospedava o histórico de quase todo o trabalho que eu fazia no servidor; o sos.hi.ato.br, que era o site de mendigagem; a lixeira.hi.ato.br, que era lugar onde se armazenavam arquivos que têm links espalhados por aí; o espelho.hi.ato.br, que servia para manter backups de sites que eventualmente saíam do ar; a diaspora.hi.ato.br, que era a minha tentativa em instalar diaspora, friendica e red matrix.
Só ter que fazer download de todo o disco rígido onde estas coisas estão para um disco local me custa muito.
Pouco uso¶
Eu ativei os logs dos servidores web pra ver e cada vez menos gente usa os serviços. Eu não divulgo no facebook por questões técnicas e ideológicas, e como as pessoas só confiam no que fica dentro da teia do facebook, então eu fico de “fora” do público mainstream.
Toda vez que um certificado SSL expira, um domínio expira, eu nem renovo, porque não faz diferença.
Movendo em frente¶
Além de não fazer mais sentido o cunho filosófico do Hacklab Independência, afinal eu aprendi o que eu tinha que aprender com este hacklab sobre independência e ele não me é mais útil, existem outras coisas que eu penso em fazer que eliminam a necessidade de manter o domínio hi.ato.br no ar.
Igreja Insurgente Kopimista no Brasil¶
Eu registrei um domínio, iikb.org, por alguns motivos. Primeiro, porque uma pessoa que colaborava muito não gostava do domínio .br do cgi.br que tem no hi.ato.br e esta pessoa queria muito um domínio .org para colaborar com os projetos.
Segundo, porque eu estou em processo de registrar o CNPJ de uma igreja e precisava de um domínio .org para isto.
Terceiro, porque o nome hi.ato.br não é fácil de lembrar, é só eu que acho engraçado a piada do hiato.
Porquê?¶
A necessidade de criar uma igreja é a mesma necessidade que eu tenho de trabalhar junto com um partido político. Existem lutas na resistência tecnológica onde a ideologia anarquista não é suficiente, e entrar em campo exige mais munição. Talvez criar igrejas e partidos não seja a melhor tática, mas eu ainda tenho tempo para aprender sozinho e decidir isto de forma independente.
Mídia Capoeira¶
O site capoeira.li vai cair, e eu vou botar tudo o que tem lá no domínio midiacapoeira.in, que vai durar até 2019. Isto estou fazendo em respeito às pessoas que investiram na ideia da Mídia Capoeira e que respeitam e reconhecem a inciativa como jornalismo sério.
Porquê?¶
Jornalismo é importante para mim porque uma das formas de conquistar independência é criando a minha própria história, e meios de contar minha própria história. Depender deste jornalismo conhecido como “grande mídia” é contra producente na busca por independência.
Ninguém tem blog¶
O site ninguem.tem.blog.br vai continuar no ar, até ser totalmente movido para outro nome de domínio sem .br no final. Isto em respeito às pessoas que acharam legal a ideia e mantém pelo menos algumas publicações esquecidas lá pra atolarem as buscas da google.
Porquê?¶
Esta inciativa é importante porque é necessário contar a sua própria história de próprio punho e do seu próprio jeito usando a sua própria linguagem.
As pessoas não deveriam aceitar a forma que o blogspot e o wordpress acham que elas têm que entender o que é blogar, ou como é que o site delas tem que parecer e pra onde elas têm que escrever e como.
As pessoas deveriam se expressar da forma que elas bem entendem. O mundo tem que se moldar a partir da expressão das pessoas, e não o contrário.
Rádios no icecast¶
A Rádio Balaio foi um dos primeiros projetos e motivação pra manter todos outros seviços no ar. Também foi responsável por manter meus ouvidos ocupados enquanto eu administrava os demais serviços.
Tudo o que eu fiz no Hacklab Independência foi influenciado pela música que fica em loop aleatório na Rádio Balaio. Foi uma das maiores sacadas, e não foi de propósito, o propósito da Rádio Balaio sempre foi outro.
Além disto, tem rádios comunitárias que têm seus programas gravados em ogg através do icecast, então eu não posso simplesmente tirar isto do ar.
Provavelmente o servidor em icecast.hi.ato.br será movido para outro nome de domínio.
Porquê?¶
Originalmente o icecast era pra trasmitir ao vivo eventos, mas isto só funcionou efetivamente uma vez.
Historicamente serviu como rádio web. Mas como as poucas pessoas que investem em rádio web preferem flash e soluções comerciais, e os meus amigos das rádios webs livres estão todos presos, então também acabou sendo uma iniciativa isolada.
Coisas que não vão continuar¶
baixo.de¶
Fala sério. Quem é que quer uma rede social livre? As pessoas querem ficar falando besteira no facebook.
Eu nunca tinha visto uma ferramenta de alienação em massa, exploração, opressão que nem o facebook. Tudo o que tem de ruim no mundo está concatenado lá. Não obstante, as pessoas insistem em adotar aquilo como uma vida real, sendo o mundo real uma segunda vida, uma consequência indesejável decorrente de ter que viver pra poder estar no facebook.
Esforços em redes sociais livres vão continuar, mas eu vou ter que jogar o jogo do jeito certo. Botar uma rede social livre será a consequência de um processo que tem que envolver pessoas, e eu vou ter que jogar sujo e de forma desleal para obrigar as pessoas a entrarem nestas redes.
Eu não gosto nem de pensar nisto, esta é a parte mais triste de tudo.
politica.xyz¶
Não deu certo, tudo o que era relacionado à política eu tive que esquecer da participação das pessoas e jogar nas mãos dos partidos políticos que aí estão.
É improvável que quem se beneficia dos problemas da política no Brasil vá fazer alguma coisa para resolvê-los.
2013 passou, as pessoas voltaram a dormir e política continua resumida a votar de dois em dois anos. Ou em fazer campanha pra não votar, como é meu caso.
sos.hi.ato.br¶
A única contribuição que eu recebi pedindo dinheiro foram 50 reais que estão presos no paypal porque minha conta foi bloqueada. Se as pessoas não apoiam as iniciativas de software livre e resistência tecnológica porque elas não dialogam com as necessidades que as pessoas têm, pra que é que vão investir dinheiro nisto?
O que dialoga com as necessidades das pessoas é fazer de conta que o serviço é de graça com páginas azuis e brancas e exploração comercial o tempo inteiro. Eu não gosto disto, então morro de fome.
Good riddance¶
Eu tenho que saber quando eu não estou agradando.
O servidor lx7.hi.ato.br vai continuar no ar com alguns dos projetos que ainda estão e vão continuar funcionando, mas vão perder o SSL que vai expirar este mês e eu não vou renovar, e dependem de eu tirar do ar todo o lx2.
Se eu não achar tempo pra fazer isto (e eu negligencio muito a minha família pra manter as coisas funcionando), então tudo vai sair do ar em menos de dois meses, que é o que o gasto atual do servidor prevê.
Iuri Guilherme dos Santos Martins, Desobediente Civil
Muito bom o texto! gosto da ideia dos relatos do “fracassos” (que a meu ver não são). Compartilho várias coisas contigo e existem várias questões em jogo e problemas para solucionar. Mas, tudo é processo, uma coisa nunca finaliza, sempre se propaga dando experiência para aqueles que participaram. Espero que você não pare porquê água parada cria limo, mantenha-se vivo! Abraço! |
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É oficial, todos esforços do hacklab independência foram voltados para a igreja insurgente. |
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Embora eu aceite o adjetivo de “competência”, cabe um esclarecimento em relação ao oposto: Eu reconheço que há pessoas “incompetentes” impedidas de trabalhar junto comigo. Estas pessoas provavelmente se encontram neste estado porque assim como eu, brincam com o ego, com a arrogância, com a prepotência mas em algum momento se perderam no caminho. Será que eu me perdi também? Me pergunto todo dia duas vezes isto, quando eu acordo e quando vou dormir. Posso citar exemplos de pessoas incompetentes. Falsos líderes, falsos representantes, hipócritas, medíocres, e toda essa gente que trabalha pela manutenção da mediocridade, da superficialidade e da futilidade. Todo mundo que tem humildade tem competência. Se eu abro mão da humildade pra me expor, pra assumir a frente das coisas, é porque eu confio que eu tenho amiga(o)s que vão agir pra não permitir que eu me torne um medíocre. Eu não tenho muita escolha, eu sozinho não posso fazer nada, eu tenho que depender de ter amiga(o)s, apoio, ajuda. Em relação às pessoas não se dedicarem, também reconheço que há pessoas que não se dedicam mesmo. Cabe esclarecer que com isto eu não quero apontar o dedo para as pessoas, que em razão das circunstâncias, são impedidas de alguma forma de se engajar em ativismo e militância política, que é o escopo do que está ilustrado aqui. Todas estas pessoas se dedicam muito dentro da limitação do que é possível, algumas muito além do que é possível e certamente estou envolvido com gente muito mais dedicada do que eu, que por se exporem menos, não vão ser reconhecidas, até porque faz parte do jogo da egolatria o reconhecimento e é difícil lidar com isto a ponto de que pra quem quer botar a mão na massa, não vale a pena entrar neste jogo. Quando eu digo que há pessoas que não se dedicam, me refiro àquelas que arrefeceram e se agarram em migalhas. Olhe para os fariseus e para as pessoas que vivem de aparências e é fácil identificar a falta de dedicação ali. Olhe para as pessoas que perseveram cometendo os mesmos erros e em algum lugar deve ter falta de dedicação ali. Qualquer pessoa que pensar que atingiu o sucesso, que achar que é foda, que se ocupa em impor currículo, crachá e outras futilidades, é uma pessoa com bastante falta de dedicação pra mostrar. Como eu afirmei antes, eu consigo ver essas coisas porque eu desço no inferno, me torno um fútil, um medíocre de forma deliberada porque eu estudo o ser humano e preciso disto pra entender como acontece, porque acontece, como funciona, como pensam estas pessoas e porque tomam estas atitudes. Se eu tenho condições de “administrar” isto e não cair em tentações, não sei. E sim, é triste e desumanizador o que acontece. Não sei se tem como mudar isto, eu vou continuar tentando, eu acho. Provavelmente fé é a única coisa que eu tenho. |
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