É bom notar que a violência entre lésbicas se dá por muitos fatores como por exemplo a lesbofobia e crescer sem modelos. A possessividade e ciume de sapatão tá relacionada à solidão lésbica e desamparo quanto a usufruir da mesma estrutura de heteros: familia que te apoia, aceitação familiar, grana, casa…. a lesbica é mais precarizada em muitos sentidos, portanto mais insegura. Ela tem auto-estima mais fodida, prejudicada, e isso leva a jogar expectativa imensa nas relações amorosas de que elas vão suprir suas faltas… entram em modelos co-dependentes…. acho totalmente cruel e lesbofóbico expôr uma lésbica como agressora, baní-la do convívio social e político, destruir sua reputação sem ela ter chance de se curar, reeducar, desconstruir… é muito lesbofóbico e mulher hetero fazer isso é uma violência.
Mas me dá a leve impressão de que o tema entre lésbicas também é debatido de forma lesbofobica. Até quando vamos seguir operando nessas chaves do heterofeminismo, da violência por exemplo? Quando vamos falar de que relações queremos, de como nos amar-nos, etc?
Apesar de entender a importância dessa questão eu tenho caído num niilismo/ceticismo por achar as gestões hipócritas. Venho me tornado desconfiada desse tema, ao menos na maneira como ele vem sendo tratado (punitivista, unilateral, difamatório). Porque eu tenho a crença de que todas lésbicas reproduzem merda, e os maniqueismos me parecem ignorantes. Seres humanos são subjetivados numa sociedade onde dificil não sermos merdas, abusivos, cruéis, destrutivos…vejo a perversidade constantemente nos espaços feministas e não vejo nenhum ‘escracho’ nem responsabilização quanto à violência de grupo, aos isolamentos, ao maltrato moral, às campanhas de ódio difamatórias… Às vítimas dessas violências só resta carregar uma cicatriz injusta e danos psiquícos.
Crescendo num Patriarcado nossas relações estão cagadas, nossas mentes, nossos seres estão doentes. É cansativo politicamente esse excesso de julgamento em cima de sapatão, e não sei dizer isso sem ser mal compreendida, questionar essa temática sem parecer ‘passadora de pano’, mas eu sinto a necessidade de um olhar lésbico para isso, uma gestão lésbica disso, das nossas RELAÇÕES, dos nossos seres, do nosso auto-cuidado, auto-estima, das nossas carências, inseguranças, medos, da gente se responsabilizar das nossas existências, das nossas vidas, e não queixar-se da outra, culpar a outra… Eu já estive em relação violenta com lésbica, já fui forçada,assediada, coisificada, ignorada, linchada, maltratada moralmente… A violência está nos nossos movimentos, está nas nossas relações íntimas, e por que isso? Que mundo estamos vivendo, até onde ele não nos colonizou quase que por completo? Dada minha descrença com movimentos, por tomados pelo Patriarcado como estão, acredito ultimamente mais no cuidado de si, a atitude necessária neste momento me parece ser a de olhar para si mesmas, autocrítica, autoreflexão. Acredito que a questão revolucionária está em que quero fazer com minha vida, como viver melhor, que relações quero… Buscar o bem viver com afines.
É possível falar desse tema e fugir à leitura heterocentrada e lesbofóbica sobre lésbicas e suas relações?
Termino citando uma fala da Raposa D’Oeste que achei muito útil:
“É por tudo isso que hoje as pessoas podem dizer que sou uma “anarcoindividualista” ou coisa parecida (rs). Difícil botar fé em grupos que tenham propostas altamente revolucionárias, a questão é que a tolerância é o requisito PRIN-CI-PAL pra que isso seja possível, porque vou te falar uma coisa: a hipocrisia faz parte da vida de todas as pessoas no planeta, a incoerência e a contradição são qualidades inerentes a toda a humanidade, se a gente ficar numa perspectiva infantil de que existe a perfeição em nós ou na outra, seja no sentido ideológico ou qualquer outro, a gente vai estar fadada à intolerância e ao fracasso. E se tem uma coisa que parece ser fundamental na violencia heterofeminista é a intolerância.”
(em desenvolvimento)