Rethinking Crimethinc.

Repensando o Crimethinc
 

Encontrei um artigo no site Anarkismo.net fazendo uma crítica ao Crimethinc e gostaria de postar aqui para ler outras opiniões, já que eu não sei muito sobre esse coletivo. www.anarkismo.net/newswire.php?story_id...

 
 

Eu já tentei ler esse texto 2x, mas imagino que a crítica é ao lifestylismo do CrimethInc, o mesmo ranço dirigido ao Hakim. No libcom.org também tem uma porrada de matérias contestando o Hakim e o CrimethInc. Sei lá, eu concordo com qualquer vertente desde que não envolva uma ideologia patogenica. Precisamos de mais união e menos rixas..
Abraços

 
 

Ressentido o texto. Dá pra entender de onde vem só pelo subtítulo que parodia o texto pt-br.protopia.wikia.com/wiki/Encare_is... .

Da onde vejo Bob Black é quem melhor responde a essa atitude monolítica tanto nas Teses sobre o anarquismo depois do pós-modernismo e no texto Sobre o anarquismo e outros impedimentos para a Anarquia

Como entendo, o Crimethink é uma rede de coletivos de ação e propaganda que sugere formas, estratégias e questionamentos críticos em relação ao anarquismo, Não é uma igreja para eleger hereges, mas suas críticas e sugestões muitas vezes são tomadas como heresias. Quanto as bobagens que escrevem sobre Hakim Bey, a maioria delas vem de quem não entende (e não está afim de discutir) suas idéias.

Não gosto de tudo que Bey escreve (agora lembro de cabeça alguns panfletos do Caos), tem também diversos textos no Crimethink que não fecham com a minha idéia de ativismo, mas ainda assim tanto Hakim Bey como Crimethink, de onde vejo, têm muito mais méritos do que seus críticos, que em sua maioria ficam na crítica pela crítica, e nada mais.

 
 

Ressentido o texto.

Concordo. E esse foi um dos motivos de trazê-lo para cá; gostaria de discutir sobre esse ressentimento e “rixa”, como bem ressaltou o Kinshavo, dentro do Anarquismo.

Continuando, longe de me posicionar à favor do autor do texto, admito que as vezes me pergunto se alguns das ações – não ouso dizer em direção ao nada – são efetivamente em direção à Anarquia. Sobre Hakim Bey, eu me interesso por muito do que ele fala. A ideia de “Anarquia aqui e agora”, por exemplo, construindo e libertando zonas, fazendo com que a autonomia e a liberdade não estejam tão distantes. Essas idéias são sem dúvida muito produtivas. O problema é que de vez em quando tenho a impressão que Hakim Bey “viaja” um pouco nesse conceitos, como considerar celebrações pagãs, Raves, etc, ZATs em potencial. Talvez seja o que você disse, Alt, talvez eu simplesmente não entenda, mas concerteza estou afim de discutir. =)

 
 

Essa é uma discussão que me interessa bastante. Vou falar um pouco sobre como entendo a idéia de Zona Autonoma Temporária, tentando fazer uma síntese do conceito sente me alongar de mais.

Zona Autonoma Temporária é qualquer espaço de sociabilidade não mediado e não hierárquico que se forma momentaneamente em pontos onde o controle sistêmico é frouxo ou inexistente. É uma estratégia de libertação da imaginatividade, um meio de ataque que assume como arma a vivência e como território de batalha a subjetividade humana. Ela é temporária porque se atinge o seu objetivo de anarquização, certamente chamará a atenção do poder que tentará esmagá-la. Com o intuito de manter a autonomia ela deve desaparecer para ressurgir, se reinventar para não ser destruída.

Pois bem, vamos ao exemplo da celebração pagã, Bey intencionalmente fabrica essa generalização a partir do senso comum sobre as celebrações bacantes grego-romanas, festas, orgias onde (em tese) o controle de uns pelos outros tende a desaparecer permitindo a experimentação daqueles que dela participam. Elas estão na origem do carnaval, nas saturnais antigas a ordem hierarquica era questionada – o carnaval guarda traços disso, elege-se um rei que é um glutão (o rei Momo) que é motivo de zombaria por sua gula e ganância simbolizada por sua pança. As classes se misturam e fazem guerras de água e farinha, frutas e legumes, um símbolo da abundância, em contraposição ao racionado da vida cotidiana.

Essa leitura das festas orgiásticas é questionável, elas não deixaram jamais de ser rituais, com regras pré-estabelecidas onde há um conjunto de possibilidades e de impossibilidades, mas podemos aceitá-las como exemplo de TAZ pelo contraste que possuem diante de um ritual judaico-cristão que é em tudo hierarquico, contido, disciplinar, reafirmador das hierarquias, ou pelo contraste com relação aos festas do estado: na data da independência temos uma festa em que o exército marcha pelas ruas, mostrando suas armas, o estado exibe seu aparato repressivo, reafirma seu poder e sua ordem, uma festiva ameaça.

E a rave onde entra nessa história: bom quando Bey fala de raves ele não está a falar o que hoje conhecemos como rave, da mesma forma que no paragrafo a cima não me referi ao que atualmente é o carnaval produtificado e espetacularizado; ele se refere as raves do início da década de 1990, que eram festas em casas ocupadas que demoravam dias e onde as pessoas experimentando estados alterados de consciência interagiam de formas que nunca antes haviam vivenciado. As raves de hoje são uma versão tosca e miseravelmente patética, mediatizada e produtificada daquelas festas que aconteciam tocadas por gente como eu ou você que se reuniam momentaneamente a fim de se divertirem juntas, enlouquecer, trocar e transgredindo limites, entre eles o da privação da propriedade privada. O carnaval em sua grande maioria sofreu esse mesmo processo, virou um show, uma emulação de liberdade vigiada, foi assimilado pelo sistema como um grande espetáculo (no sentido negativo debordiano) em muitas de suas versões tem até platéia, é julgado e rotulado, uma merda que nega tudo o que já foi.

O que penso que temos que ter em mente em relação às TAZ, é que elas podem assumir a aparência de muitos encontros, atividades e espaços de sociabilidade distintos, mas se esses espaços, encontros e atividades cumprirem de fato sua função anarquizante, serão perseguidos pelo poder, e esse deve ser nosso termómetro. Para não ser aniquilada ou (pior) assimilada e produtificada a TAZ se extingue voluntariamente, desaparecimento como vontade de poder. Ser assimilido e produtificado é se tornar algo como o carnaval de sambódromo e as raves de elite da atualidade, simulações que servem ao sistema como forma de alienação espetacular. Isso sim é algo que não dá pra aceitar.

É isso que penso, queria dizer que é muito bom poder dialogar com vocês sobre essas questões.

 
 

Então… Bey meio que rejeita a ideia de uma revolução, ao meu ver, apesar de lembrar de passagens em que ele afirma sonhar com a queda definitiva do capitalismo. E essa é a origem da rixa, porque esses “efeitos anarquizantes” não precisam necessariamente ser produzidos por anarquistas(aqueles que desejam a queda de qualquer governo); são efeitos que podem ser produzidos por um grupo qualquer, de forma espontânea, mesmo que estes não estejão nem um pouco preocupado com a queda do Estado, fim da propriedade privada, entre outros objetivos.

Ao mesmo tempo, as críticas feitas pelos anarquistas, digamos, “clássicos”, tenho que admitir serem moralistas demais pra mim. Quero dizer, o modo de ação de anarquistas pós-modernos(posso chamar assim?) se não faz caminhar uma revolução, proporciona-os maior liberdade, e é esse o maior objetivo dos anarquistas! Liberdade!

Eu ainda me preocupo com objetivos citados anteriomente(queda do Estado, fim da propriedade privada, etc.), porém é perfeitamente possível aliar isso à conceitos como a TAZ. Aliás, acredito que seja de grande importância não deixar que essas duas formas de pensar/agir se distanciem.

 
 

Bom, não tenho tanto conhecimento sobre esses autores nem sobre esse conceito de TAZ. Já li umas três vezes o livro, mas fiquei numa reflexão interna, uma esfera muito privada. Por isso esse espaço é bacana, pois torna possivel que possamos trocar.

Enfim, para mim a questão da TAZ está ligada de forma indireta com a revolução. Não mais a revolução clássica dos séc.XIX e XX, mas de uma deteriozação do interior do proprio sistema, porque as TAZs, multiplicadas de forma fragmentárias, podem enfraquecer os proprios valores do sistema, sistema esse que somos nós. Por isso mesmo acho que pessoas que não estão comprometidas com o fim da propriedade privada, do Estado e de outros objetivos podem participar desses modos de subjetivação a-hierarquizantes sem serem anarquistas, mas estando anarquistas.

Penso que a TAZ age no fractal, no muito pequeno, justamente para fazer ecoar outro comportamento nas nossas micro-relações, e é isso que corroi o sistema, o como nos relacionamos com o Outro.

 
 

Nossa o texto sobre o crimethink é muito absurdo!! Pende pra uma critica quase que pessoal. De qualquer forma essa é uma discussão muito válida, toca um tema muito presente no mov. anarquista contemporâneo.

Pode parecer muito simplista e até apaziguador, mas eu acredito que tanto o ‘crimethink’ quanto o lado ‘anarquismo social’ tem pontos validos e que um misto dos dois é o que mais se encaixa com a realidade que queremos. Por exemplo, não podemos acreditar que apenas um ‘estilo de vida anarquista’ vá derrubar o estado, mas que outro estilo de vida vamos assumir?? que outro tipo de vida vamos, naturalmente, começar a ter? o yuppie consumista pode nas horas vagas lutar contra o estado??? não parece possivel.

Acho importante pensar que, quando propomos uma pratica, não estamos necessariamente excluindo todas as outras. Penso, mas posso estar sendo ingenuo, que aquelas pessoas que começaram a delinear as ideias e as praticas do anarquismo mais presente no nosso dia-a-dia, estavam querendo adicionar algo à proposta de anarquismo que ja existia…

de uma certa forma até mesmo os anarquistas mais tradicionais, de bakunin a emma goldmann, levavam um ‘estilo de vida anarquista’…

 
 

Esse texto não traz críticas ao crimethink de forma ponderada, provavelmente traz críticas sobre a apropriação espetacular que as ações do crimethink e as idéias do Bey tiveram, principalmente quando vistas sem uma bagagem de discussões sobre o anarquismo. Não estou dizendo que não são textos bons para um primeiro contato com o anarquismo, mas temos que ter consciência de quais são os efeitos colaterais disso. Quantos leitores do anarquismo nos anos 30 fundaram o fascismo? Ou lendo o Kropotkin viram marxistas leninistas? Ou mais recentemente leram textos anarquistas, podendo incluir aqui o Thoureau, e desenvolveu idéias anarco capitalistas até liberais radicais? Sem falar nos sociais democratas…

A acusação do texto é que esses “adolescentes de classe média” não se apropriam de qualquer forma de ação política… O autor e eu concordamos que há uma necessidade de desenvolver as nossas habilidades de futurologia… mas não sei se é o caso

Acho que pra nós a provocação válida do texto é refletir sobre que elementos do socialismo libertário (não do psol obviamente), anarco-comunismo e principalmente do anarco-sindicalismo (ou até plataformismo) devemos nos apropriar e colocar em prática. Afinal, como resolvemos as velhas questões sobre os meios de produção, acumulação e distribuição em uma escala mais ampla? É uma problematização sobre o contexto em que a tal da tradição do anarquismo é cada vez mais apagada das classes populares ou grupos “mais oprimidos” e é recuperada por pessoas que querendo ou não têm um capital cultural maior (a culpa obviamente não é nossa e sim dos promotores do estado).

bom, sem concluir por enquanto é isso, afinal as linhas de frente são variadas

 
 

Esta última colocação do AlmaNegra me fez lembrar a fala do Guilherme Correa no I Colóquio de Educação Libertária no ano passado, que pra mim foi a melhor parte do evento. Basicamente o que o cara disse em outras palavras foi: “Se alguém me diz que é anarquista, isso me diz muito pouco ou quase nada, O que importa de fato é se essa pessoa produz efeitos anarquizantes em suas relações, nos espaços que ela ocupa, nas estratégias que ela assume. Existe gente que não se diz anarquista, as vezes que nem sabe o que é isso, e que produz muito mais efeitos anarquizantes em seu campo de relações se comparado a muitos que se dizem anarquistas.”

Obviamente há por aí milhões de pessoas e instituições produzindo outros efeitos que a gente poderia chamar de autoritarizante. Pelo que entendi Correa não se referia a exercer a autoridade, mas fazer despertar nas pessoas um desejo pelo exercício da autoridade, fazer essas pessoas pensarem que ela é vital e necessária, que deve ser expandida, em suma, fazer pessoas autoritárias

De onde vejo esta claro que o embate se dá no campo dos meios de produção de subjetividades, projeções, sonhos, imaginatividades, portanto, estamos num embate onde o campo de batalha se dá entre esses efeitos e por pessoas.

Agora, examinando várias iniciativas tocadas por auto-proclamadxs anarquistas, e posso citar uma, o anarco-primitivismo tocado nos espaços mais linha dura dessa tendência (num nível local a gente pode também falar do que rolou no centro de vivências na primeira metade dos 2000, expurgos e outras bobagens), não vejo efeito anarquizante, mas que muitas vezes o contrário, efeitos autoritarizantes.

Não me entendam mal, acho que se a gente examinar diversas iniciativas anarquistas certamente vamos encontrar um desejo de anarquia legítimo, mas por si só ele não é suficiente, e não se concretiza por causa de excessos, egocentrismos, preconceitos e dogmas que acabam por levar a efeitos autoritarizantes.

Uma evidência disso é a próprio declínio do anarquismo no século XX, e uma assenção do autoritarismo marxista (que se tornou uma forma bizarra de capitalismo de estado) e dos fascismos. Se fosse diferente não estariamos testemunhando este recomeço.

 
 

espero ser curto e chulo, mas a minha experiência anarco-universitária me ensinou algumas coisas, pois vejo uma galera exercitando o anarquismo que o experiencia com relação à outras alteridades (machismo,fascimso, capitalismo), mas no meu caso (provavelmente de uma parte da galera) a novidade foi lidar com o trotskismo e seu vanguardismo que exige toda uma postura, uma forma corporal e retórica de se impor (não muito diferente das demais) que nos coloca em um paradoxo e uma constante vigilância: até que ponto somos vanguarda e até que ponto vamos com a maré.

Essa problemática me lembra muito o final do filme patagonia rebelde em que o alemão Schutz (acho q é assim) e o Antonio Soto discordam sobre acatar a decisão de uma assembléia.

 
 

É, a questão de outros processos de subjetivação e de como lidamos com outros Outros nesses rizomas de processos é muito complicado. Mas o que mais me deixa intrigado, assustado, ansioso, pessimista e otimista é observar que essas outras auteridades, machismo, fascismo, capitalismo, feminismo e tantos outros ismos está no meio universitário e não na esfera da dita “massa”, o que temos, pelo menos quando entrei em contato quando dei aulas para pessoas de 11 a 17 anos, e algumas de 30 para cima, é que esses ismo não estão presentes, pensando que esses ismos são pensamentos sistematizados.
O que está presente são atitudes fascistas, atitudes machistas, atitudes feministas, atitudes capitalistas, atitudes anarquicas, atitudes comunais…e de certa forma isso me conforta, pq tudo isso são processos de subjetivações estéticas. Não estamos lidando com sujeitos, mas com sujeitos espetaculares, com as imagens que expressam nossas atitudes, mas acima de tudo imagens.
O que penso, depois de conversar com minha companheira, é quando se diz por exemplo: “o racismo está no nosso coração”. Para mim o racismo só está dentro de nós porque interiorizamos nossa propria atitude racista. O racismo faz parte agora de nossa visão de mundo, de como nos comportamos de acordo com uma atitude incorporada, não como uma sistematização do porque estamos agindo de tal ou tal forma, mas que agora faz parte de nossa episteme.
Claro que isso é perigoso, assim como aconteceu no modelo de fascismo na Itália, mas também abrem possibilidades de podermos entrar em contato com essas pessoas e estabelecermos uma relação corpo a corpo que transcenda a imagem e mergulhemos nos sujeitos em sua totalidade.
Minha posição estética, por isso mesmo política, é a de estabelecer uma anarquização das relações, mas sem que as pessoas sejam realmente anarquistas, portanto, que estejam anarquistas. Isso, na minha opinião, não é ser vanguarda, mas é “estar com a maré”.

 
 

Poxa, tem várias coisas interessantes aparecendo na fala de vocês…
acho que a gente devia criar um tópico pra cada assunto, até pra facilitar e pra gente se entender. Queria ouvir mais do Alma Negra esse çance do paradoxo e da vigilância frente ao trotskismo, acho que não saquei.

 
   

Liberdade

Deriva
O que vocês acham da concepção de liberdade e de moral do crimethinc? Não estou gostando muito dessa posição deles, gostaria de conversar com vocês sobre isso.

Kinshavo
Achei que parece uma liberdade faço-o-que-quero e depois agrega uma discussão sobre moral, um tanto confuso… talvez ele esteja com uma concepção mais poética quando trabalha esse conceitos, algo mais libertador no sentido de que eles escreveram Dias de Guerra, Noites de Amor, para isso, propagandear anarquismo nesse estilo boêmio e tentar unir dois grupos marginais.. sei lá acho que viajei né…. o Émile Henry discutiu algo semelhante comigo..

Alt
Opa, Kinshavo, como tá?! Dá uma olhada aqui (na discussão seguinte) acho que tem a ver com essa questão!

Sem Deuses

MacacoVoador
Somente quando compartilhadas com outras pessoas as ideias (de certo e errado) têm sentido.

Eu não concordo muito com isso, me soa um pouco a relativismo moral. Quer dizer que se um grupo todo acha que o sacrifício humano com propósitos religiosos é certo, e eu sou a única pessoa que acha que é errado, minha idéia não faz sentido?

E a propósito, notei que mudaram “idéia” para “ideia” vocês estão usando as novas regras gramaticais? Sou contra elas, só têm fins comerciais e não fazem sentido algum.

Alt

Ok, buenas como diria Jack, o estripador, vamos por parte que essa discussão é um prato cheio para pensarmos na necessidade ou não de uma adaptação destes textos. Vou primeiro apontar as incongruências da defesa do autor para a partir delas apresentar a minha perspectiva. Quando nosso autor afirma “Só você pode decidir o que é certo ou errado para si” ou que “Não existe essa coisa de bem ou mal” ele está definindo um certo e, por contraposição, um errado. Essa posição afirma a soberania do indivíduo em relação a qualquer padrão de ético ou social, como se esse alguém que fala, o verdadeiro self-made-man, brotasse do mato por conta própria sem fazer parte de uma sociedade ou tradição, acreditando cada pessoa ser uma ilha por toda sua vida.
Buenas, não vou cair na dicotomia indivíduo/sociedade, pra mim ela não tem sentido algum, um individualista é produto de uma sociedade individualista. A questão é que meu certo pode ser dividido com outros que concordam comigo, mas que podem não fazer parte diretamente do meu circulo social mais próximo. Se aprofundando mais na viagem, a própria pessoa pode ser concebida como divíduo, como é a noção de pessoa na Melanésia, composta por diferentes partes masculinas e femininas, fazendo com que a idéia de uma sociedade dividida entre homens e mulheres não seja o padrão. Se eu for um ameríndio posso me pensar como um conjunto de partes que compartilho com uns ou com outros (deuses, animais, plantas, inimigos, parentes, mortos), e que em maior ou menor instância me compõem. Aí entra a dimensão do conflito entre diferentes partes, que é inevitável sempre existe uma relação de imposição de uma perspectiva sobre outra.

Nesse caso pode-se estabelecer uma relação de desigualdade hierarquizante simplesmente pelo fato de alguém vir me dizer “só você pode decidir o que é certo ou errado para si”, este alguém sem perceber outras possibilidades, como por exemplo de que gosto de saber as opiniões das pessoas sobre o que é melhor, que a partir das opiniões de algumas delas eu avalio a minha própria posição e que nesse compartilhar não precisa necessariamente haver uma imposição, mas uma relação de troca.

Bom, este é o motivo pelo qual decidi modificar algumas partes do trecho, que como o Kinshavo Discussão:Liberdade|colocou em outro lugar, parece trabalhar com uma noção de liberdade “faço-o-que-quero” que é facilmente desmontada com algumas perguntas que se levadas as últimas consequências podem ser muito interessantes: “Mas será que é mesmo você a verdadeira origem das suas vontades e verdades? Será que o que você quer não é reativo, no sentido de estar reagindo a vontades, verdades e atitudes de outros?”

Ah! O lance da Idéia versus Ideia foi um equívoco do auto corretor do meu browser que tava ativado. Concordo que idéia é muito melhor e que essa reforma ortográfica é algo bem sem vergonhamente pra encher bolso de grandes editoras multinacionais!

Pois bem, escrevi demais! Queria ler vocês. Abraços a tod@s!

MacacoVoador

Oi Alt, tudo bem?
Entendo teu ponto de vista, mas ele não invalida nem se contradiz com o que o autor diz, pelo menos da forma como eu entendi o texto. Quando ele diz “só você pode decidir o que é certo ou errado para si” elxs não querem dizer que o indivíduo é uma ilha, sem heranças culturais e relacionamentos, isso fica claro se tu lê todo o livro e não este trecho isolado. O que elxs querem dizer não é que você não pode conversar e trocar idéias com outras pessoas, mas sim que no final das contas, cabe a ti analisar os fatos à tua volta e chegar às tuas próprias conclusões sobre o que achas certo e errado e não alguém vir te dizer que isto é certo “porque sim” como afirmam os dogmas religiosos.

Acho que estás complicando demais uma coisa que é simples, que elxs querem dizer para as pessoas pensarem por si mesmas e não aceitarem as decisões dos outros sem questionamentos. Acho que é simples assim e que esse tipo de modificação no texto complica mais do que explica. Minha modesta opinião.