Falando sobre Gênero - Debbie Cameron

texto que traz e explica as diferenças entre os usos do conceito de gênero no marco feminista e no marco das teorias pós-modernas e queer.

Falando Sobre Gênero

Na London Feminist Network’s “Feminar” em maio de 2010, Debbie Cameron e Joan Scanlon falaram sobre gênero e o que isso significava para o feminismo radical. O que segue é uma cópia editada de seus comentários.

Debbie Cameron:

O propósito da discussão de hoje é tentar destrinchar a confusão teórica e política que agora ronda o conceito de gênero, e é provavelmente útil iniciar se perguntando o que está causando essa confusão.

Conversas sobre “gênero” hoje em dia frequentemente levam a problemas porque as pessoas estão utilizando a mesma palavra para querer dizer mais ou menos a mesma coisa mas, num exame mais apurado, elas não estão falando sobre o mesmo conjunto de coisas do mesmo ponto de vista. Por exemplo, quando lançamos o T&S Reader na feira de livros radicais de Edinburgh, algumas estudantes vieram depois dizer que estavam contentes que produzimos o livro, mas surpresas que ele não falava muito sobre gênero. Na realidade, é tudo sobre gênero no sentido feminista radical – relações de poder entre mulheres e homens -, então esse comentário não fazia muito sentido para nós. De início, Joan ficou completamente perplexa com isso; eu entendi o que elas deveriam estar compreendendo somente porque eu ainda sou uma acadêmica, e na academia você ouve “gênero” sendo muito utilizado dessa forma. O que está acontecendo é que durante os 1990s, teóricos e ativistas queer desenvolveram uma nova maneira de falar sobre o gênero: ele possuía pontos de coincidência com a forma do feminismo antigo falar, mas a ênfase era diferente, a teoria por trás dele era diferente (basicamente era a teoria pós-moderna de identidade associada à filósofa Judith Butler, embora eu não acredite que Butler em si mesma diria que feministas não tinham análise crítica do gênero), e a política que surgiu disso foi muito diferente. Para as pessoas cujas ideias eram formadas seja pelo encontro com a teoria feminista acadêmica ou pelo envolvimento na política e ativismo queer, esse se tornou o significado de “gênero”. Elas acreditavam o que lhes tinha sido dito, que feministas nos 70s e 80s não possuíam uma análise crítica do gênero, ou que possuíam a análise errada porque suas ideias sobre gênero eram “essencialistas” ao invés de “construcionistas sociais”.

Não acreditamos nisso, e em um minuto explicaremos o porquê. Mas primeiro vale a pena fazer um “compare e contraste” geral sobre a “antiga” visão feminista do gênero e a nova versão que saiu da política/teoria queer dos 1990s.

O Que é Gênero?

“Antigo” Gênero: Um sistema de relações sociais/de poder estruturadas em uma divisão binária entre “homens” e “mulheres”. A categorização está usualmente na base do sexo biológico, mas o gênero como o conhecemos é uma coisa social ao invés de biológica (por exemplo, masculinidade e feminilidade são definidos diferentemente em diferentes tempos e espaços).

“Novo” Gênero: Um aspecto da identidade pessoal/social, usualmente atribuída para você de nascimento na base do sexo biológico (mas essa conexão “natural” é uma ilusão – assim como é a ideia de que devem haver dois gêneros porque existem dois sexos).

O Que é Opressivo Sobre o Gênero?

“Antigo” Gênero: O fato é que ele é baseado na subordinação de um gênero (mulheres) pelo outro (homens).

“Novo” Gênero: O fato de que é um sistema binário rígido. Ele força toda pessoa a se identificar como homem ou como mulher (não nenhum dos dois, ambos ao mesmo tempo, algo entre eles ou alguma coisa totalmente diferente) e pune qualquer um que não se conforme. (Isso oprime tanto homens quanto mulheres, especialmente aqueles que não se identificam inteiramente com o modelo prescrito para o seu gênero)

O Que Seria Uma Política de Gênero Radical?

“Antigo” Gênero: Feminismo: mulheres organizadas para desmantelar o poder masculino e, assim, o inteiro sistema de gênero. (Para feministas radicais, o ideal número de gêneros seria… Nenhum.)

“Novo” Gênero”: “Genderqueer”: mulheres e homens rejeitam o sistema binário, identificam-se como “foras-da-lei do gênero” (por exemplo, queer, trans) e demandam reconhecimento por uma série de identidades de gênero. (Dessa perspectiva, o número ideal de gêneros seria… Infinito?)

Existem tanto similaridades quanto diferenças entre as duas versões. Para ambas, o gênero está conectado ao sexo mas não é o mesmo que ele; para ambos, o gênero como o conhecemos é um sistema binário (existem, basicamente, dois gêneros); e ambas abordagens provavelmente concordariam que o gênero é sobre poder E identidade, mas suas ênfases em um ou outro diferem. Elas também diferem porque os que sustentam a teoria queer não pensam em termos de homens oprimindo mulheres, eles pensam as normas de gênero como tais como mais opressivas do que a hierarquia de poder, ou querem “mais” gênero ao invés de menos ou nenhum. Para realizar um entendimento dessas ideias e decidir o que você pensa delas, é útil entender um pouco de história – a história das ideias radicais sexuais e feministas. Existem três perguntas principais que pensamos valerem a pena de serem desenvolvidas com maiores detalhes: É verdade que o feminismo radical é/foi “essencialista” em sua visão do gênero? O que é, e o que foi, a relação entre as políticas de gênero e sexualidade? O que o feminismo radical e queer ou a política “genderqueer” têm em comum, e quais são as diferenças básicas, e quais são seus respectivos objetivos políticos?

É/Foi o Feminismo Radical Essencialista?

Vamos tirar algo do caminho: existem variedades essencialistas do feminismo, correntes de pensamento no qual, por exemplo, poderes místicos são atribuídos ao corpo feminino ou acredita-se que os homens são naturalmente maus, e algumas das mulheres que aderem a essas ideias podem usar ou serem dadas o rótulo de “feminista radical”. Mas se considerarmos o feminismo radical como uma tradição política que produziu, entre outras coisas, um corpo de textos feministas que vieram a ser considerados como “clássicos”, é surpreendente (dada quão frequente tem sido feita a acusação de essencialismo) quão consistentemente não-essencialista sua visão de gênero tem sido.

Como forma de ilustrar isso, juntei algumas citações dos escritos de mulheres que são geralmente consideradas como feministas radicais arquetípicas – juntamente com Simone de Beauvoir, frequentemente considerada como a fundadora antepassada da moderna “segunda onda” feminista, cujo livro O Segundo Sexo (publicado pela primeira vez na França em 1949) é anterior em 20 anos. Beauvoir não era essencialista e, apesar de que ela não usou um termo equivalente a gênero (isso ainda não é comum em francês), ela faz muitos comentários que dependem em distinguir o biológico dos aspectos sociais de ser uma mulher. Um dos meus favoritos, por causa de seu tom sarcástico seco, é esse: “Todo ser humano fêmea não é necessariamente uma mulher; para ser assim considerada ela deve participar dessa realidade misteriosa e ameaçada conhecida como feminilidade”.

Uma pioneira feminista de segunda onda que tem sido frequentemente castigada por essencialismo (porque ela sugeriu que a subordinação das mulheres deve originalmente ter ocorrido devido a seu papel na reprodução e nutrição) é Shulamith Firestone, autora de The Dialectic of Sex (1970). Mas, na verdade, Firestone não via a hierarquia social construída na diferença sexual como natural e inevitável. Ao contrário, ela declara no Dialectic que

assim como o objetivo final da revolução socialista seria não somente a eliminação do privilégio de classe econômica mas a distinção da classe econômica em si mesma, assim também o objetivo final da revolução feminista deve ser (…) não somente a eliminação do privilégio masculino mas a distinção de sexo em si mesma: diferenças genitais entre seres humanos não mais importariam culturalmente.

Pouco depois, no escrito da feminista materialista radical francesa Christine Delphy, o gênero é teorizado como nada mais que o produto das relações de poder hierárquicas; não é uma diferença pré-existente na qual essas relações são então sobrepostas. A visão de Delphy é uma na qual menos pensadores radicais veem como extrema, mas o que quer que pensem, isso dificilmente poderia ser menos essencialista. Como Delphy mesma diz:

Não sabemos com o quê os valores, os traços de personalidade individual ou a cultura de uma sociedade não-hierárquica se pareceriam, e temos grande dificuldade de imaginar isso. (…) Talvez só seremos capazes de pensar sobre o gênero no dia em que pudermos imaginar um não-gênero.

Todas as escritoras que eu acabei de citar são mulheres que “podem imaginar um não-gênero (e assim o fazem)”. Essa boa vontade de pensar seriamente sobre o que, para a maioria das pessoas, incluindo muitas feministas, é impensável – que um mundo verdadeiramente feminista não somente operaria sem as desigualdades de gênero mas efetivamente sem distinções de gênero -, é, nós argumentaríamos, uma das marcas do feminismo radical, uma das maneiras que ele se supõe como “radical”.

Outra coisa que faz o feminismo radical se destacar é a maneira pela qual ele relaciona o gênero com a sexualidade e, ambos, com o poder. Os escritos de Catharine MacKinnon fazem essa relação particularmente forte, como na seguinte passagem tomada de Feminism Unmodified (1987):

A teoria feminista do poder é a de que a sexualidade é “generizada” e o gênero é sexualizado. Em outras palavras, o feminismo é uma teoria de como a erotização da dominação e submissão cria o gênero, cria mulheres e homens na forma social na qual nós os conhecemos. Portanto, a diferença de sexo e a dinâmica dominação-submissão definem uma à outra. O erótico é o que define o sexo como desigualdade e, por isso, como uma diferença significativa. Isso é, na minha visão, o significado social da sexualidade, e a consideração distintamente feminista da desigualdade de gênero.

Isso mostra que algumas célebres feministas radicais tomaram uma visão não-essencialista da sexualidade assim como do gênero. De fato, uma das considerações mais radicalmente não- ou anti-essencialistas da sexualidade que pudermos pensar – tão radical quanto qualquer trabalho de teóricos queer em rejeitar a ideia de identidades sexuais fixadas e finitas – vem da feminista radical Susanne Kappeler em seu livro The Pornography of Representation (1986):

Numa perspectiva política, a sexualidade, como a linguagem, pode cair na categoria das relações intersubjetivas: intercâmbio e comunicação. As relações sexuais – o diálogo entre dois sujeitos – determinariam, articulariam, uma sexualidade dos sujeitos como a interação do discurso geraria papéis comunicativos nos interlocutores. A sexualidade não mais nos falaria muito sobre a questão da identidade, de um papel fixo na ausência de uma praxis, mas a possibilidade com o potencial de diversidade e intercambialidade, e a possibilidade crucialmente dependente de um interlocutor e codeterminada por ele, outro sujeito.

Mais tarde explicaremos porquê pensamos que essas ideias feministas radicais sobre gênero, sexualidade, identidade e poder, na realidade, emitem um desafio muito mais radical ao status quo do que as ideias da política queer.

Joan Scanlon:

Como a Debbie disse anteriormente, fiquei completamente aturdida quando as duas jovens em Edinburgh perguntaram porque não havia mais sobre gênero no The Trouble & Strife Reader (2009). Liguei para Su Kappeler (veja a citação dela acima) e ela disse: “O negócio é o seguinte, Joan: é como o que Roland Barthes escreveu em algum lugar, que se você tem um guia da Itália, você não vai encontrar “Itália” no índice – você vai encontrar Milão, Nápoles ou o Vaticano…” Então eu pensei sobre isso, e percebi que, enquanto isso era certamente verdadeiro, havia algo a mais acontecendo: é como se o mapa da Itália tivesse desaparecido (bastante útil como uma forma de relacionar Milão, Nápoles e o Vaticano) e, ao invés disso, a realidade geográfica, política e econômica da Itália fora substituída por um espaço virtual no qual a Itália poderia ser um baile de máscaras, uma bandeira tricolor, um salão de sorvete – ou qualquer combinação de flutuantes significantes livres. E, assim, retornando ao conceito de gênero, compreendi que precisamos reconstruir o mapa, e que precisávamos olhar historicamente para a pergunta para dar sentido a essa mudança de significado.

É claro que os mapas mudam, assim como as fronteiras políticas mudam – mas você não vai longe sem uns ou outros. Precisamos, portanto, examinar o porquê das feministas terem adotado o termo gênero para descrever a realidade material – o cumprimento sistemático do poder masculino – e como uma ferramenta para a mudança política. Eu vou começar com algumas definições e então falar brevemente sobre a história da sexualidade, a relação entre gênero e sexualidade, e como essa relação entre essas duas construções mudou desde o início do século passado. Também vou examinar brevemente no que o feminismo tem em comum com a política queer, e aonde residem suas diferenças fundamentais.

Definições: Feminismo, Gênero, Sexualidade

Quando eu estava escrevendo uma coisa com Liz Kelly no final dos 1980s, nós decidimos que, com a proliferação dos “feminismos”, nós precisávamos afirmar que o termo feminismo não possuía sentido se ele somente significasse o que qualquer indivíduo quisesse que ele significasse. Em outras palavras: você não pode ter um plural sem um singular – então nós definimos o feminismo simplesmente como “um reconhecimento de que mulheres são oprimidas, e um comprometimento em mudar isso”. Além disso, você pode ter qualquer número de diferenças de opinião sobre porquê as mulheres são oprimidas e um número de diferenças sobre estratégias de mudar isso. Em 1993, na nossa 10ª edição de aniversário do T&S, nós então pedimos a várias mulheres para que definissem o feminismo radical. As definições que todas tinham em comum eram: elas tomam como central que o gênero é um sistema de opressão, e que homens e mulheres são dois grupos socialmente construídos que existem precisamente por causa da relação de poder desigual entre eles. Ainda, todas elas afirmam que o feminismo radical é radical porque ele questiona todas as relações de poder, incluindo formas extremas como violência masculina e a indústria do sexo (algo que sempre tem sido extremamente controverso no interior do movimento das mulheres e uma questão extremamente impopular de se fazer campanha contra). Ao invés de mexer nas bordas da questão do gênero, o feminismo radical consigna o problema estrutural que subjaz a ele. Para definir gênero, portanto, parece ser um passo necessário a compreensão da proliferação dos significados que surgiram em seu uso plural de agora. O gênero, como feministas radicais sempre o compreenderam, é um termo que descreve a opressão sistemática de mulheres, como um grupo subordinado, pelo benefício do grupo dominante, os homens. Este não é um conceito abstrato – ele descreve as circunstâncias materiais da opressão, incluindo o poder masculino institucionalizado e o poder no interior das relações pessoais – por exemplo, a divisão desigual de trabalho, o sistema de justiça criminal, a maternidade, a família, a violência sexual… E assim por diante. Aqui eu devo dizer que poucas feministas argumentariam que o gênero não é socialmente construído; acredito que o feminismo radical só é acusado de essencialismo biológico porque ele tem sido central na campanha contra a violência masculina e, por alguma razão, nós somos portanto acusadas de pensar que todos os homens são violentos de maneira inata – o que eu nunca entendi. Se você está envolvido numa política de mudança, seria completamente sem sentido pensar que qualquer coisa que você busca mudar é inato ou imutável. Se o gênero é visto, no patrtiarcado, como emanando do sexo biológico – a sexualidade é essencializada se alguma coisa ainda mais –, é visto como emanando da nossa própria natureza, de desejos e sentimentos que estão consideravelmente fora de nosso controle, mesmo se o nosso comportamento sexual pode ser regulado por códigos morais e sociais. E, para concluir com as definições, pegarei emprestado a definição de sexualidade de Catherine MacKinnon como um “processo social que cria, organiza, direciona e expressa desejo”. Além de pontuar que isso claramente indica que feministas radicais compreendem a sexualidade como sendo socialmente construída, não vou destrinchar mais isso aqui, assim como espero que tenha ficado claro a partir do que vou dizer.

Uma Breve História da Sexualidade

É somente a partir de cerca de 1870 em diante que o discurso médico, científico e legal começou a classificar e categorizar indivíduos por seu tipo sexual – e produziu o que historiadores agora reconhecem como uma específica identidade homossexual ou lésbica. Antes do final do século XIX, o comportamento sexual foi concebido em termos de pecado e crime – em termos de atos sexuais e não identidades sexuais. No Reino Unido, a homossexualidade masculina foi criminalizada até 1967, e a lesbianidade, apesar de nunca ilegal, foi reprimida de outras formas; não era uma opção econômica para mais do que um pequeno número de mulheres privilegiadas com recursos independentes até depois da Segunda Guerra Mundial. A sexualidade feminina sempre foi controlada por coerção física, por dependência econômica dos homens, e não menos pela ideologia – o ensaio de Adrienne Rich “Heterossexualidade Compulsória e Existência Lésbica” (1979) mostra a variedade e inventividade desses meios de controle.

O gênero é uma das formas nas quais a sexualidade é mais efetivamente policiada: dado o constante reforço do sistema binário de gênero como uma forma de controle social, se você pisa fora do seu papel de gênero imposto, você é provável de ser estigmatizado como homossexual, e vice-versa. Em outras palavras, se você se abstém das recompensas da feminilidade – através, por exemplo, de se tornar uma encanadora, não raspar suas pernas, dizer para um homem se foder se ele está te assediando – você é provável de ser acusada de ser lésbica. (Um homem que não se conforma com as convenções da masculinidade, e é visto empurrando um carrinho de bebê, vestindo rosa, ou que não gosta de futebol, é igualmente provável de ser acusado de ser gay.) E, similarmente, se você é mesmo lésbica, você é provável de ser esperada de agir como um homem, de exibir desejo masculino – e mulheres heterossexuais são prováveis de se preocuparem se você gosta delas, e são encorajadas a evitar espaços exclusivos de mulheres no caso de que existe o risco de ser atacada (isso pode ser menos verdadeiro agora, mas sempre foi uma questão considerando-se os eventos exclusivos de mulheres quando eu primeiro me envolvi com o feminismo – ou seja, que mulheres heterossexuais pensavam que “mulheres somente” significava lésbico e que, por isso, presumiam que tais espaço/eventos seriam sexualizados.) De qualquer forma, isso é parte do que Catherine MacKinnon quis dizer quando ela disse que “o gênero é sexualizado, e a sexualidade é ‘generizada’” – em outras palavras, a diferença de poder entre homens e mulheres é erotizada, e não reconheceríamos algo como sexual se isso não fosse sobre poder. Então qualquer coisa que é percebida como sexual – tal como a identidade gay e lésbica – é lida através dessas lentes e, assim, “generizada”.

Os primeiros sexólogos tiveram papel significativo em criar e consolidar esse mito de que lésbicas eram inerentemente mulheres masculinizadas, e que homens homossexuais eram inerentemente femininos. Está também no trabalho de, por exemplo, Richard von Krafft Ebing, que você primeiro encontra a ideia de um homem nascido no interior do corpo de uma mulher e vice-versa. Apesar dos primeiros sexólogos dissiparem muitos outros mitos sobre o comportamento sexual, e contribuírem para desafiar a criminalização da homossexualidade por apresentá-la como “natural” e inata, ao assim fazer, também afirmavam a ideia de que a sexualidade era uma parte essencial da natureza humana que era também perigosa e precisava ser controlada pela intervenção médica, ou uma força positiva que precisava ser liberada das restrições repressivas da civilização. Eles frequentemente discordavam entre si, e contradiziam a si mesmos, mas coletivamente eles criaram e confirmaram o mito de que todos temos uma “identidade sexual verdadeira”, que a ciência da sexualidade pode ajudar a revelar. Alguns de seus escritos parecem agora como completo nonsense, mas é impossível subestimar a importância desses textos na literatura e na imaginação popular da época.

Só para dar-lhes um exemplo: Richard von Krafft Ebing (de cujos estudos de caso Radclyffe Hall baseou seus personagens no Well of Loneliness) argumentou que homossexuais não eram nem doentes mentalmente nem depravados moralmente – vez que eles sofreram uma inversão congênita do cérebro durante a gestação do embrião. Além disso, ele estava convencido de que você poderia encontrar evidência de masculinidade em mulheres “invertidas” (homossexuais) para confirmar a causa genética de sua condição. Havelock Ellis, que escreveu o prefácio para Well, concordou com essa posição, e continuou a argumentar que você poderia distinguir entre verdadeiras mulheres “invertidas” cuja natureza era permanente e inata, e aquelas mulheres que eram atraídas a “invertidas” porque, apesar de elas serem mais femininas, elas “não estavam bem adaptadas para a criação de filhos” e, por isso, não serviam para o sexo heterossexual procriativo. Uma visão mais clara foi articulada por Edward Carpenter, reformista socialista e filósofo utópico: Carpenter, que usou o termo Urano (dos céus) para descrever indivíduos que eram atraídos por outros do mesmo sexo, tinha uma visão mais mística e lírica do sujeito completo (ele é facilmente ridicularizado porque ele tinha uma espécie de comitiva de culto e não somente fez suas próprias sandálias como também as fez para o resto de sua comunidade, que vivia em uma comuna perto de Sheffield), mas ele é, em muitos sentidos, o mais radical de todos eles. Ele era muito mais interessado em temperamento e sensibilidade que em sinais exteriores (biológicos) de desvio das convenções da masculinidade e feminilidade, e ele também acreditava que aqueles que pertenciam ao “sexo intermediário” poderiam construir diferenças de classe e raça, e serem intérpretes entre homens e mulheres, vez que compartilhavam das características de ambos. Economistas e políticos do movimento pensaram as visões de Carpenter como um nonsense sentimental, mas ele se torna próximo de todos os sexólogos dizendo que o gênero em si é o problema, e que extremos do sistema binário de gênero são prejudiciais ao tipo de sociedade ideal que ele imagina.

Não vou desenvolver meu caminho através de todos os sexólogos do século XX – sem dúvidas que vocês estejam mais familiarizados com os experimentos de laboratório dos Masters e Johnson, e as célebres pesquisas em comportamento sexual por Alfred Kinsey e Shere Hite dos 1950s e 1980s respectivamente, que abalaram o establishment ao mostrar, dentre outras coisas, a diversidade do comportamento sexual e o predomínio do desejo homossexual entre a população heterossexual em geral nos EUA. A questão principal sobre os primeiros sexólogos, o que eles têm em comum, é que eles fizeram do sexo o sujeito do estudo científico, e muitos poucos deles olharam para o gênero per se, ou para o contexto social e significado da sexualidade.

A relação do gênero com a sexualidade mudou no final dos 60s e 1970s, em grande medida por causa da emergência do movimento de mulheres o o movimento de liberação gay. Com a ascensão do feminismo e a publicação de inúmeros textos-chave tais como Política Sexual (1970) de Kate Millet, a lesbianidade não era mais vista como uma subcategoria da homossexualidade masculina, e não somente como uma identidade sexual, mas como uma identidade política, dentro do contexto das relações de poder “generizadas” – em outras palavras, foi possível poder ver ser uma lésbica como ser uma mulher, desafiar a heterossexualidade como uma instituição, e desafiar o poder no interior de relações pessoais. Eu penso que sou extraordinariamente sortuda por ter encontrado o feminismo no final dos 1970s (quando eu estava em meus iniciais 20s) – vez que eu seria, do contrário, completamente persuadida de que eu era uma “inversão” ou, deus me livre, uma Urano, ou o quer que seja, se eu tivesse nascido numa época anterior. O movimento de mulheres do final dos 60s e 70s ofereceram a várias mulheres uma oportunidade sem precedente para fazer sentido de suas experiências como mulheres, teorizar sobre, e fazer algo sobre.

Nós frequentemente esquecemos que pensadores no interior do movimento de liberação gay na atualidade tinham muito em comum com o feminismo: desconstruir a masculinidade, questionar a família nuclear, desafiar a misoginia e buscar uma sexualidade da igualdade. Apesar de que feministas continuaram a trabalhar muito em parceria com homens gays, contra uma opressão comum – a heterossexualidade institucionalizada – nós também vimos que nosso foco na construção social da sexualidade estava em desacordo com a visão predominante no movimento gay de que a sexualidade era inata. Por exemplo, no final dos 1980s, durante a campanha contra o artigo 28 do projeto de lei do governo local (que proibiu autoridades locais de “promover” a homossexualidade e “simulou”, isto é, famílias de mesmo sexo, nas escolas), o principal argumento dentro do movimento gay era de que você não poderia fazer alguém gay, que gays somente representavam 10% da população, que você nascia gay e, por isso, não representava nenhuma ameaça ao establishment. E, é claro, como feministas, estávamos argumentando o oposto, de que você poderia de fato mudar sua sexualidade, e que certamente buscávamos ser uma ameaça ao establishment. A epidemia da AIDS politizou grandes números de homens gays ao redor da sexualidade, defendendo a liberdade sexual individual contra as políticas repressivas da extrema direita mas, ao recorrer novamente ao apelo pela tolerância do mundo heterossexual, e um pedido pela inclusão no privilégio heterossexual (uniões civis, etc.) – que foram estrategicamente bem-sucedidos em obter tais objetivos precisamente porque não eram vistos como ameaçando o establishmente liberal – é possível que esse movimento tenha pavimentado o caminho para uma política que não somente questionava o comportamento heterossexual, mas buscava criar um espaço para essas vítimas do gênero que se encontravam fora do sistema binário de gênero e fora de uma concepção binária paralela da sexualidade. Você pode muito bem dizer que o feminismo parecia oferecer tal política e tal espaço, então é importante olhar, portanto, para as diferenças entre o feminismo e a política queer.

O que o feminismo radical tem em comum com a política queer é:

- Uma compreensão de que o gênero e a sexualidade são socialmente construídos.

- Um reconhecimento de que os papéis de gênero binários são opressivos.

- Uma compreensão de que os papéis de gênero são produzidos através da performance, e confirmados pela sua constante re-atuação.

- Um comprometimento em desafiar as suposições e práticas heteronormativas.

As diferenças entre o feminismo radical e a política queer são:

- O feminismo radical é uma análise materialista que argumenta que o gênero não é produzido meramente através do discurso e performance, mas é um sistema no interior do qual um gênero (masculino) tem poder econômico e político, e o outro (feminino) não tem – e o grupo dominante tem um investimento em manter isto dessa forma.

- O feminismo radical envolve uma compreensão de que você não pode produzir (ou questionar) o sistema de gênero através do discurso ou da performance individual – ao adotar certas roupas, linguagem, ou mesmo desafiando seu corpo anatômico. Fora de certos contextos limitados, a cultura dominante ainda vai interpretar esses gestos de acordo com os códigos sociais dominantes, e tentar te categorizar como homem ou mulher. (Em outras palavras, no metrô, no supermercado, no trabalho, esses gestos individuais ou afirmações performativas serão ininteligíveis, e bastante ineficazes como um desafio ao sistema de gênero.)

- Judith Butler argumenta que o feminismo, ao afirmar que mulheres são um grupo com características e interesses comuns, tem reforçado a visão binário do gênero, no qual os gêneros masculino e feminino são construídos em corpo masculinos e femininos. Feministas de fato argumentam que mulheres tem um interesse político comum (em vez de exibirem características comuns), e que mulheres sofrem de uma opressão comum (na qual experienciam de diferentes formas de acordo com outras formas de relações de poder, incluindo raça e classe), e que os corpos de mulheres são o local para muito dessa opressão, mas isso não é argumentar que a categoria mulher é uma categoria indiferenciada. É somente argumentar que tão logo mulheres são oprimidas como mulheres, existe a necessidade de uma identidade política comum, de forma a se organizarem efetivamente para resistir a essa opressão.

- O feminismo radical é comprometido em mudar o sistema de gênero, em desafiar a opressão em todas as suas formas. Nós, portanto, não temos nenhum investimento em sermos fora-da-lei, que vem de uma noção romantizada da opressão. Além disso, se sentir oprimido não é o mesmo que ser oprimido. De forma a celebrar sua identidade como um fora-da-lei, você deve ter um investimento no sistema que faz com que você seja um fora-da-lei. O queer me parece abranger as mais extremas vítimas do sistema de gênero, e criar um guarda-chuva que cobre aqueles que são relutantes foras-da-lei sociais (usualmente dos grupos mais pobres e privados de direitos da sociedade, com nenhum amortecedor contra o preconceito social – ou seja, aqueles que são foras-da-lei sem escolha) e aqueles para o qual brincar de ser um fora-da-lei é um jogo de privilégio intelectual ao invés de realidade duramente vivida.

- O queer é, por sua própria definição, tudo o que está em desacordo com o normal, o legítimo, o dominante. O queer, então, demarca “não uma positividade, mas um posicionado vis-à-vis ao normativo”. Segue-se a isso que a política queer não tem objetivos políticos particulares, à parte de desafiar os discursos normativos dominantes e, se eles mudam, a política queer deve então ter que mudar sua posição em oposição ao que quer que seja atualmente normativo. Não está claro para mim, então, quais são seus objetivos políticos específicos.

- O queer abrange uma ampla matriz de identidade e práticas sexuais não-normativas, incluindo algumas que são heterossexuais: “Sadismo e masoquismo, prostituição, inversão sexual, transgeneridade, bissexualidade, assexualidade, intersexualidade são vistos pelos teóricos queer como oportunidades de investigação entre as diferenças de classe, raça e etnicidade, e como oportuniddes de reconfigurar compreensões do prazer e desejo.” Por exemplo, Pat Califia, em Feminism and Sadomasochism, escreve sobre como o sadomasoquismo encoraja à fluidez, e questiona a naturalidade das dicotomias binárias da sociedade:

A dinâmica entre o superior e o inferior é bastante diferente da dinâmica entre homens e mulheres, negros e brancos ou pessoas da classe alta e trabalhadora. Este sistema é injusto porque ele designa privilégio baseado em raça, gênero e classe social. Durante um encontro sadomasoquista, papéis são adquiridos e usados de formas muito diferentes. Se você não gosta de ser um superior ou um inferior, você muda. Tente fazer isto com seu sexo biológico ou raça ou seu status socioeconômico.

- Esse ponto de vista posiciona esses estudiosos da teoria queer em conflito com a visão feminista radical de que sadomasoquismo, prostituição e pornografia são todas práticas opressivas.

- O feminismo radical argumenta que todas as diferenças de poder são sexualizadas, incluindo aquelas construídas através de raça e etnicidade, classe e incapacidade, e que a pornografia e a indústria do sexo como um todo é uma das manifestações mais claras e mais perniciosas disso – diferença de poder erotizado é o negócio da pornografia, e isso é feito em corpos reais, não na imaginação do consumidor. Além disso, devemos ser claros sobre o prazer e desejo de quem estamos falando – em uma indústria baseada na exploração sexual e abuso. O sadomasoquismo foi sujeito de muitos debates acalourados no interior do feminismo nos 1980s e, aqui, novamente, o feminismo radical não viu nada de novo ou radical sobre recriar a dinâmica de dominação e subordinação – já prevalecente dentro da heterossexualidade – no interior de relações não-heteronormativas. Todo esse fenômeno, adotado como anti-heteronormativo (pela política queer), já está incluído pelo patriarcado, então não existe grande revolução aqui. Feministas radicais buscam não meramente desafiar, mas desmantelar as estruturas do patriarcado; o desafio que o queer oferece à cultura normativa é uma provocação sem nenhum objetivo político em desmantelar o normativo, do qual, por sua própria definição, dele depende para sua existência como uma posição oposta. Parece que o queer não está, assim, tentando buscar a libertação do sistema de diferença de gênero, mas simplesmente buscando tomar liberdades com ele.

- De forma a mudar o sistema social que cria a diferença de gênero como nós conhecemos, você deve consignar as estruturas subjacentes que produzem e sustentam a diferença de gênero – e você deve buscar erradicar o próprio gênero.

- Sem o gênero, sem a diferença de poder, a sexualidade pode ser simplesmente a expressão de desejo entre sujeitos iguais. (Veja a citação de Sue no folheto.)

- No início desta conversa, Debbie citou Shulamith Firestone e, por isso, parece totalmente apropriado para mim concluir retornando ao argumento central do “The Dialectic of Sex”, um que encapsula a abordagem feminista radical do gênero: “A tarefa intelectual e teórica do feminismo é compreender o gênero como um sistema de cria e mantém a desigualdade. A tarefa política do feminismo é erradicar o gênero.”

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Talking about gender

At the London Feminist Network’s ‘Feminar’ in May 2010, Debbie Cameron and Joan Scanlon spoke about gender and what it means for radical feminism. What follows is an edited transcript of their remarks._
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Falando sobre Gênero_

No “Feminário” da London Feminist Network, em maio de 2010, Debbie Cameron e Joan Scanlon falam sobre gênero e que ele significa para o feminismo radical. O que segue é uma transcrição escrita de seus comentários.
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Debbie Cameron: The purpose of today’s discussion is to try to cut through some of the theoretical and political confusion which now surrounds the concept of gender, and it’s probably useful to start by asking what’s causing that confusion.

Conversations about ‘gender’ nowadays often run into problems because the people involved are using the same word, to mean somewhat the same thing, but on closer examination they aren’t talking about the same set of issues from the same point of view. For instance, when we launched the T&S Reader at the Edinburgh radical bookfair, some women students came up to us afterwards and said they were very pleased we’d produced the book, but surprised it didn’t have much in it about gender. Actually it’s all about gender in the radical feminist sense–power relations between women and men–so this comment did not make much sense to us. Joan was initially completely baffled by it; I realised what they must be getting at only because I’m still an academic, and in the academy you hear ‘gender’ used this way a lot._
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Debbie Cameron: O proósito da discussão de hoje é tentar atravesar algumas das confusões teóricas e políticas que agora rodeiam o conceito de gênero, e é provavelmente útil começar perguntando quê está causando essa confusão.

Conversações sobre ‘gênero’ hoje em dia geralmente apresentam problemas porque as pessoas envolvidas estão usando a mesma palavra, para signficar de alguma forma a mesma coisa, mas em uma examinação mais aguda elas não estão falando sobre o mesmo conjunto de questões do mesmo ponto de vista. Por exemplo, quando nós inauguramos o T&S Reader* na Feira do Livro Radical de Edinburgh, algumas mulheres estudantes vieram atrás de nós mais tarde e disseram que estavam muito contentes que nós havíamos produzido o livro, mas surpresas de que não havia muito nele sobre gênero. Em realidade ele é totalmente sobre gênero no senso feminista radical – relações de poder entre homens e mulheres – então esse comentário acabou não fazendo muito sentido para nós. Joan esteve incialmente completamente perplexa com isso; Eu concluí que elas podiam estar getting at apenas porque eu sou ainda uma acadêmica, e na academia você escuta muito “gênero” ser usado dessa maneira maneira.
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What’s going on here is that during the 1990s, queer theorists and queer activists developed a new way of talking about gender: it did have points of overlap with the older feminist way of talking, but the emphasis was different, the theory behind it was different (basically it was the postmodernist theory of identity associated with the philosopher Judith Butler, though I don’t think Butler herself would say that feminists had no critical analysis of gender), and the politics that came out of it were very different. For people whose ideas were formed either by encounter with academic feminist theory or by involvement in queer politics and activism, that became the meaning of ‘gender’. They believed what they’d been told, that feminists in the 70s and 80s didn’t have a critical analysis of gender, or that they had the wrong analysis because their ideas about gender were ‘essentialist’ rather than ‘social constructionist’.

O que acontece aqui é que durante os anos 90, teóricos queer e queer ativistas desenvolveram uma nova forma de falar sobre o gênero: isso teve pontos de coincidência com a velha forma feminista de pensar, mas a ênfase era diferente. A teoria por trás disso era diferente (basicamente foi a teoria pós-modernista da identidade associada com a filósofa Judith Butler, embora eu não pense que a Butler mesma diria que feministas não tem nenhum análise crítico do gênero), e as políticas que vieram daí eram bastante distintas. Para as pessoas cujas idéias eram formadas seja pelo encontro com a teoria feminista acadêmica ou pelo envolvimento em políticas e ativismo queer, aquilo se tornou o significado de gênero. Elas acreditavam no que lhes fora contado, ou elas tiveram o análise errado porque suas idéias de gênero eram “essencialistas”, antes que “social-construccionistas”.

We don’t believe that, and in a minute we’ll explain why. But first it’s worth doing a general ‘compare and contrast’ on the ‘old’ feminist view of gender and the newer version that came out of 1990s queer theory/politics.

Nós não acreditamos nisso, e em um minuto nós vamos explicar porque. Mas primeiro vale a pena fazer um “compare e contraste” geral na “velha” visão feminista do gênero e a nova versão que apareceu da teoria/políticas queer.

‘Old’ gender ‘New’ gender
*Quadro ‘Velho Gênero’ x ‘Novo’ Gênero*:

What is gender?
‘Old’ gender: A system of social/power relations structured by a binary division between ‘men’ and ‘women’. Categorization is usually on the basis of biological sex, but gender as we know it is a social rather than biological thing (e.g. masculinity and femininity are defined differently in different times and places)

‘New’ gender: An aspect of personal/social identity, usually ascribed to you at birth on the basis of biological sex (but this ‘natural’ connection is an illusion—as is the idea that there have to be two genders because there are two sexes)

O que é gênero?
‘Velho’ gênero: Um sistema de relações sociais/de poder estruturada por uma divisão binária entre ‘homem’ e ‘mulher’. A categorização é em geral na base do sexo biológico, mas o gênero como nós o conhecemos é uma coisa social antes que algo biológico (i.e. masculinidade e feminilidade são definidas de maneiras diferentes em tempos e lugares diferentes).

‘Novo’ gênero: Um aspecto da identidade social/pessoal, usualmente adscripta a você ao nascer com base no sexo biológico (mas essa conexão ‘natural’ é uma ilusão – assim como é a idéia de que devem existir dois gêneros porque há dois sexos).

What’s oppressive about it?
‘Old’ gender: The fact that it’s based on the subordination of one gender (women) by the other (men)

‘New’ gender: The fact that it’s a rigid binary system. It forces every person to identify as either a man or a woman (not neither, both at once, something in between or something else entirely) and punishes anyone who doesn’t conform. (This oppresses both men and women, especially those who don’t fully identify with the prescribed model for their gender)

O que é opressivo nisso?

‘Velho’ Gênero: O fato de que é baseado na subordinação de um gênero (mulher) por um outro (homem).

‘Novo’ Gênero: O fato de que é um sistema binário rígido. Isso força cada pessoa a identificar-se seja como homem ou como mulher (nenhum dos dois, ambos ao mesmo tempo, algo no meio ou algo totalmente alheio) e pune qualquer pessoa que não conforma. (Isso oprime simultaneamente homens e mulheres, especialmente aquel@s que não se identificam totalmente com o modelo prescrito para seus gêneros).

What would be a radical gender politics?
‘Feminism: women organize to overthrow male power and thus the entire gender system. (For radical feminists, the ideal number of genders would be… none.)
‘Genderqueer’: women and men reject the binary system, identify as ‘gender outlaws’ (e.g. queer, trans) and demand recognition for a range of gender identities. (From this perspective, the ideal number of genders would be… infinite?)

O que seriam políticas de gênero radicais?
Feminismo: mulheres organizarem-se para derrubar o poder masculino e então todo o sistema de gênero (para feministas radicais, o número ideal de gêneros deveria ser… nenhum).
‘Genderqueer’: mulheres e homens rejeitarem o sistema binário, identificando-se como "transgressores do gênero’ (i.e. queer, trans) e demandarem reconhecimento para um espectro de identidades de gênero. (Para essa perspectiva, o número ideal de gêneros deveria ser…infinito?).

There are both similarities and differences between the two versions. For both, gender is connected to, but not the same as, sex; for both, gender as we know it is a binary system (there are, basically, two genders); and both approaches would probably agree that gender is about power AND identity, but their emphasis on one or the other differs. They also differ because supporters of the queer version don’t think in terms of men oppressing women, they think gender norms as such are more oppressive than power hierarchy, and want ‘more’ gender rather than less or none.

Há simultaneamente similaridades e diferenças entre as duas versões. Para ambas, gênero está conectado a, mas não o mesmo que, sexo; para ambos, gênero como o conhecemos é um sistema binário (há, basicamente, dois gêneros); e ambas abordagens poderiam provavelmente concordar que gênero é sobre poder E identidade, mas suas ênfases em um ou em outro diferem. Elas também diferem porque os apoiadores das versões queer não pensam em termos de homens oprimindo mulheres, eles pensam em normas de gênero assim como são mas opressivas que hierarquia de poder, e querem “mais” gênero ao invés de menos ou nenhum.

ajuda neste parágrafo?

To make sense of these ideas and decide what you think of them, it’s helpful to understand a bit of history—the history of feminist and sexual radical ideas. There are three main questions we think it’s worth pursuing in more detail:

Is it true that radical feminism is/was ‘essentialist’ in its view of gender?
What is, and what was, the relationship between the politics of gender and sexuality?
What do radical feminism and queer or ‘genderqueer’ politics have in common, and what are the key differences, and what are their respective political goals?
Is/was radical feminism essentialist?

Para que façam sentido essas idéias e decidir o que você pensa delas, ajuda entender um pouco de história – a história das idéias feministas e sexuais radicais. Há três questões principais que pensamos que valem a pena prosseguir com mais detalhes:

É verdade que o feminismo radical é/foi “essencialista” em sua visão do gênero? O que é, e o que foi, a relação entre as políticas de gênero e sexualidade? O que feminismo radical e queer ou políticas "genderqueer"* têm em comum, e quais são as diferenças chave, e o que são seus objetivos políticos?
(está bom “goal” como “objetivos”?)
É o feminismo radical, essencialista?

Let’s get one thing out of the way: there are essentialist varieties of feminism, currents of thought in which, for instance, mystical powers are ascribed to the female body or men are believed to be naturally evil, and some of the women who subscribe to these ideas might use or be given the label ‘radical feminist’. But if we consider radical feminism as a political tradition which has produced, among other things, a body of feminist texts which have come to be regarded as ‘classics’, it’s surprising (given how often the accusation of essentialism has been made) how consistently un-essentialist their view of gender has been.

Vamos get one thing out of the way: há variações essencialistas do feminismo, correntes de pensamento nas quais, por exemplo, poderes místicos são adscritos ao corpo feminino ou homens são acreditados serem naturalmente maus, e algumas mulheres que se aderem a essas idéias devem usar ou ser dadas o rótulo de “feministas radicais”. Mas se consideramos feminismo radical como uma tradição política que produziu, entre outras coisas, um corpo de textos feministas que vieram a ser considerados como “clássicos”, então é surpreendente (dado quão frequentes são as acusações de essencialistas que se lhes fizeram) como consistentemente não-essencialista suas visões de gênero vieram sendo

As a way of illustrating the point, I’ve put together a few quotations from the writing of women who are generally considered as archetypal radical feminists—along with Simone de Beauvoir, often thought of as the founding foremother of modern ‘second wave’ feminism, which her book The Second Sex (first published in French in 1949) pre-dated by 20 years. Beauvoir was no essentialist, and though she did not use a term equivalent to gender (this still isn’t common in French), she makes many comments which depend on distinguishing the biological from the social aspects of being a woman. One of my favourites, because of its drily sarcastic tone, is this: ‘Every female human being is not necessarily a woman; to be so considered she must share in that mysterious and threatened reality known as femininity’.

One early second wave feminist who has often been castigated for essentialism (because she suggested that the subordination of women must originally have been due to their role in reproduction and nurturance) is Shulamith Firestone, author of The Dialectic of Sex (1970). Yet in fact Firestone did not see a social hierarchy built on sex-difference as natural and inevitable. On the contrary, she states in Dialectic that

just as the end goal of socialist revolution was not only the elimination of the economic class privilege but of the economic class distinction itself, so the end goal of feminist revolution must be… not just the elimination of male privilege but of the sex distinction itself: genital differences between human beings would no longer matter culturally.

In the slightly later writing of the French radical materialist feminist Christine Delphy, gender is theorised as nothing but the product of hierarchical power relations; it is not a pre-existing difference on which those relations are then superimposed. Delphy’s is a view which less radical thinkers find extreme, but whatever else anyone thinks of it, it could hardly be less essentialist. As Delphy herself says:

We do not know what the values, individual personality traits or culture of a non-hierarchical society would be like, and we have great difficulty imagining it. ….perhaps we will only be able to think about gender on the day when we can imagine non-gender.

All the writers I have just quoted are women who ‘can (and do) imagine non-gender’. This willingness to think seriously about what for most people, including many feminists, is the unthinkable—that a truly feminist world would not just operate without gender inequalities but actually without gender distinctions—is, we would argue, one of the hallmarks of radical feminism, one of the ways it stands out as ‘radical’.

Another thing that makes radical feminism stand out is the way it connects gender to sexuality and both to power. Catharine MacKinnon’s writings make the connection particularly strongly, as in the following passage taken from Feminism Unmodified (1987):

The feminist theory of power is that sexuality is gendered as gender is sexualised. In other words, feminism is a theory of how the eroticization of dominance and submission creates gender, creates women and man in the social form in which we know them. Thus the sex difference and dominance-submission dynamic define each other. The erotic is what defines sex as inequality, hence as meaningful difference. This is, in my view, the social meaning of sexuality, and the distinctly feminist account of gender inequality.

This shows that some well-known radical feminists have taken a non-essentialist view of sexuality as well as gender. Indeed, one of the most radically un- or anti-essentialist accounts of sexuality we can think of—as radical as any queer theorist’s work in rejecting the idea of fixed and finite sexual identities—comes from the radical feminist Susanne Kappeler in her book The Pornography of Representation (1986):

In a political perspective, sexuality, like language, might fall into the category of intersubjective relations: exchange and communication. Sexual relations – the dialogue between two subjects – would determine, articulate, a sexuality of the subjects as speech interaction generates communicative roles in the interlocutors. Sexuality would thus not so much be a question of identity, of a fixed role in the absence of a praxis, but a possibility with the potential of diversity and interchangeability, and a possibility crucially depending on and codetermined by an interlocutor, another subject.

Later on we will explain why we think these radical feminist ideas about gender, sexuality, identity and power actually pose a far more radical challenge to the status quo than the ideas of queer politics.

Joan Scanlon: As Debbie said earlier, I was completely bewildered when the two young women in Edinburgh asked why The Trouble & Strife Reader (2009) didn’t have more in it about gender. I rang Su Kappeler (see the quotation from her above) and she said: “The thing is Joan: it’s like what Roland Barthes wrote somewhere, that if you have a guide book to Italy you won’t find Italy in the index – you’ll find Milan, Naples or the Vatican…” So I thought about this, and realised that while this was certainly true, there was something else going on: it was as if the map of Italy had disappeared (quite useful as a way of connecting Milan, Naples and the Vatican), and instead, the geographical, political and economic reality of Italy had been replaced by a virtual space in which Italy could be a masked ball, a tricolour flag, an ice-cream parlour – or any combination of free floating signifiers. And so, returning to the concept of gender, I realised that we need reconstruct that map, and that we needed to look at the question historically to make sense of this shift in meaning.

Of course maps change, as political boundaries change – but you won’t get far without one. We need therefore to look at why feminists adopted the term gender to describe a material reality – the systematic enforcement of male power – and as a tool for political change. I am going to start with a few definitions, then talk briefly about the history of sexuality, the relationship between gender and sexuality, and how the relationship between those two constructions has changed since the beginning of the last century. I am also going to look briefly at what feminism has in common with queer politics, and at where the key differences lie.

Definitions: feminism, gender, sexuality

When I was writing something with Liz Kelly in the late 1980s, we decided that with the proliferation of ‘feminisms’ we needed to assert that the term feminism was meaningless if it just meant whatever any individual wanted it to mean. In other words: You can’t have a plural without a singular – so we defined feminism simply as “a recognition that women are oppressed, and a commitment to changing that”. Beyond this, you can have any number of differences of opinion about why women are oppressed and any number of differences about strategies for changing that.

In our 1993 tenth anniversary issue of T&S we then asked several women to define radical feminism and the definitions all have this in common: they take as central that gender is a system of oppression, and that men and women are two socially constructed groups which exist precisely because of the unequal power relationship between them. Also, they all assert that radical feminism is radical because it challenges all relationships of power, including extreme forms such as male violence and the sex industry (which has always been extremely controversial within the women’s movement and an extremely unpopular issue to campaign against). Instead of tinkering around the edges of the question of gender, radical feminism addresses the structural problem which underlies it.

To define gender, therefore, seems a necessary step in understanding the proliferation of meanings which have come about in its now plural usage. Gender, as radical feminists have always understood it, is a term which describes the systematic oppression of women, as a subordinate group, for the advantage of the dominant group, men. This is not an abstract concept – it describes the material circumstances of oppression, including institutionalised male power and power within personal relationships – for example, the unequal division of labour, the criminal justice system, motherhood, the family, sexual violence… and so on. I should say here that very few feminists would argue that gender is not socially constructed; I think radical feminism is only accused of biological essentialism because it has been so central in the campaign against male violence, and for some reason we are therefore accused of thinking that all men are innately violent – which I have never understood. If you are involved in a politics of change, it would be fairly pointless to think that anything you were seeking to change was innate or immutable.

If gender is seen, under patriarchy, as emanating from biological sex – sexuality is essentialised if anything even more – as it is seen to emanate from our very nature, from desires and feelings which are quite outside of our control, even if our sexual behaviour can be regulated by moral and social codes. And so to conclude with definitions, I will borrow Catherine MacKinnon’s definition of sexuality as ‘a social process which creates, organises, directs, and expresses desire’. Apart from pointing out that this clearly indicates that radical feminists understand sexuality to be socially constructed, I won’t unpick this further here, as I hope it will become clear from what I go on to say.

A brief history of sexuality:

It is only from around 1870 onwards that medical, scientific and legal discourse began to classify and categorise individuals by sexual type – and produced what historians would now recognise as a specifically homosexual or lesbian identity. Prior to the late 19th century sexual behaviour was conceived in terms of sin and crime – in terms of sexual acts not sexual identities. In the UK, male homosexuality was criminalised until 1967, and lesbianism, although never illegal, was repressed by other means; it was not an economic option for more than a tiny number of privileged women of independent means until after the Second World War. Female sexuality has always been controlled by physical coercion, by economic dependence on men, and not least by ideology, and Adrienne Rich’s essay on ‘On Compulsory Heterosexuality’ (1979) shows the range and inventiveness of these means of control.

Gender is one of the ways in which sexuality is most effectively policed: given the constant reinforcement of the binary gender system as a means of social control, if you step outside of your allocated gender role you are likely to be stigmatised as homosexual, and vice versa. In other words, if you eschew the rewards of femininity by for example, becoming a plumber, not shaving your legs, telling a man who is harassing you to fuck off – you are likely to be accused of being a lesbian. (A man who does not conform to the conventions of masculinity, and is seen pushing a pram, wears pink, or who doesn’t like football, is equally likely to be accused of being gay.) And similarly if you actually are a lesbian you are likely to be expected to behave like a man, to exhibit male desire – and heterosexual women are likely to be worried you might fancy them, and are encouraged to avoid women-only spaces in case there is a risk of being pounced on (this may be less true now, but was always an issue regarding women only events when I first got involved in feminism – i.e. that heterosexual women thought that women-only meant lesbian, and therefore assumed that all such spaces/events would be sexualised.) Anyway, this is partly what Catherine MacKinnon meant when she said that ‘gender is sexualised, and sexuality is gendered’ – in other words, the power difference between men and women is eroticised, and we wouldn’t recognise something as sexual if it wasn’t about power – so anything that is perceived as sexual – such as gay and lesbian identity – is read through that lens, and thus gendered.

Early sexologists played a significant role in creating and consolidating this myth that lesbians were inherently masculinised women, and homosexual men were innately feminine. It is also here, in the work of for example Richard von Krafft Ebing, that you first find the idea of a man born into a woman’s body and vice versa. Although the early sexologists dispelled a lot of other myths about sexual behaviour, and were instrumental in challenging the criminalisation of homosexuality by presenting it as ‘natural’ and innate, in so doing, they also confirmed the idea that sexuality was an essential part of human nature that was either dangerous and needed to be controlled by medical intervention, or a positive force which needed to be liberated from the repressive constraints of civilisation. They often disagreed with each other, and contradicted themselves, but collectively they created and confirmed the myth that we all have a ‘true sexual identity’, which sexual science can help to reveal. Some of their writings now read like complete nonsense, but it is impossible to underestimate the significance of these texts on literature and the popular imagination of the time.

Just to give you one example: Richard von Krafft Ebing (on whose case studies Radclyffe Hall based her characters in the Well of Loneliness) argued that homosexuals were neither mentally ill nor morally depraved – since they suffered from a congenital inversion of the brain during the gestation of the embryo. Moreover, he was convinced that you could find evidence of masculinity in female ‘inverts’ to confirm the genetic cause of their condition. Havelock Ellis, who wrote the preface to the Well, agreed with this position, and went on to argue that you could distinguish between true female ‘inverts’ whose nature was permanent and innate, and those women who were attracted to ‘inverts’ because, although they were more womanly, they ‘were not well adapted for childbearing’ and therefore not suited for heterosexual procreative sex. A more enlightened view was articulated by Edward Carpenter, socialist reformer and utopian philosopher: Carpenter, who used the term Uranian (of the heavens) to describe individuals who were attracted to others of the same sex, had a more mystical and lyrical view of the whole subject (he is easily ridiculed because he had a kind of cult following and not only made his own sandals but also made them for the rest of his community, who lived in a commune near Sheffield) – but he is in many ways the most radical of them all. He was much more interested in temperament and sensibility than in outward (biological) signs of deviation from the conventions of masculinity and femininity, and he also believed that those who belonged to ‘the intermediate sex’ could bridge differences of class and race, and be interpreters between men and women, as they shared the characteristics of both. Economists and politicians of the movement thought Carpenter’s views were sentimental nonsense, but he comes closest of all the sexologists to saying that the gender itself is the problem, and the extremes of the binary gender system are detrimental to the kind of ideal society he imagines.

I’m not going to plough my way through all the sexologists of the 20th century – no doubt you are all more familiar with the laboratory experiments of Masters and Johnson, and the best-selling surveys of sexual behaviour by Alfred Kinsey and Shere Hite in the 1950s and 1980s respectively, which rocked the establishment in showing, amongst other things, the diversity of sexual behaviour and prevalence of homosexual desire amongst the heterosexual population at large in the US. The main point about the later sexologists, what they have in common, is that they made sex the subject of scientific study, and very few of them looked at gender per se, or at the social context and meaning of sexuality.

The relation of gender to sexuality changed in the late 60s and 1970s, largely because of the emergence of the women’s movement and the gay liberation movement. With the rise of feminism, and the publication of numerous key texts such as Kate Millett’s Sexual Politics(1970), lesbianism was no longer seen as a subcategory of male homosexuality, and not just as a sexual identity, but as a political identity, within the context of gendered power relations – in other words it was possible to see being a lesbian as about being a woman, challenging heterosexuality as an institution, and challenging power within personal relationships. I do think of myself as extraordinarily fortunate to have found feminism in the late 1970s (when I was in my early 20s) – as I would otherwise have been completely persuaded that I was an invert, or god forbid, a Uranian, or whatever, if I had been born in an earlier era. The women’s movement of the late 60s and 70s offered many women an unprecedented opportunity to make sense of their experience as women, theorise about it, and do something about it.

We often forget that thinkers within the gay liberation movement in the early days had much in common with feminism: deconstructing masculinity, questioning the nuclear family, challenging misogyny, and seeking a sexuality of equality. Although feminists continued to work very much in coalition with gay men, against a common oppression – institutionalised heterosexuality – we also found that our focus on the social construction of sexuality was at odds with the predominant view in the gay movement that sexuality was innate. For example, in the late 1980s, during the campaign against clause 28 of the local government bill (which banned local authorities from ‘promoting’ homosexuality, and ‘pretended’ ie same sex families, in schools) the main argument from within the gay movement was that you couldn’t make someone gay, that gays only represented 10% of the population, that you were born gay, and therefore represented no threat to the establishment. And of course, as feminists we were arguing the opposite, that you could indeed change your sexuality, and we did indeed seek to be a threat to the establishment. The AIDS epidemic politicised large numbers of gay men around sexuality, defending individual sexual freedom against the repressive politics of the far right, but in resorting once again to a plea for tolerance from the heterosexual world, and a request for inclusion in heterosexual privilege (civil partnerships etc) – which was strategically successful in achieving those goals precisely because they were not perceived as threatening to the liberal establishment – it is possible that this movement paved the way for a politics which not only challenged heteronormative behaviour, but sought to create a space for all the casualties of gender who fall outside of the binary gender system and outside of a parallel binary conception of sexuality. You may well say that feminism seemed to offer precisely such a politics, and such a space, so it is important to look, therefore, at the differences between feminism and the queer politics.

What radical feminism has in common with queer politics is

An understanding that gender and sexuality are socially constructed
A recognition that binary gender roles are oppressive
An understanding that gender roles are produced through performance, and confirmed by their constant re-enactment
A commitment to challenging heteronormative assumptions and practices
The differences between radical feminism and queer politics are

Radical feminism is a materialist analysis which argues that gender is not produced merely through discourse and performance, but is a system within which one gender (male) has economic and political power, and the other (female) does not – and the dominant group has an investment in keeping it that way.
Radical feminism involves an understanding that you cannot produce (or challenge) the system of gender merely through discourse or individual performance – by adopting certain clothes, language, or even changing your anatomical body. Outside of certain limited contexts, the dominant culture will still read these gestures according to the dominant social codes – and seek to categorise you as a man or woman. (In other words, on the tube, in the supermarket, at work, these individual gestures or performative statements will be unintelligible, and quite ineffectual as a challenge to the system of gender).
Judith Butler argues that feminism, by asserting that women are a group with common characteristics and interests, has reinforced the binary view of gender, in which masculine and feminine genders are built on male and female bodies. Feminists do indeed argue that women have a common political interest (rather than exhibiting common characteristics), and that women suffer from a common oppression (which they experience in different ways according to other forms of power relationships, including race and class), and that women’s bodies are the site of much of that oppression – but this is not to argue that the category woman is an undifferentiated category. It is simply to argue that so long as women are oppressed as women, there is a need for a common political identity, in order to organise effectively to resist that oppression.
Radical feminism is committed to changing the gender system, and challenging oppression in all its forms. We thus have no investment in being outlaws, which comes from a romanticised notion of oppression. Moreover, feeling oppressed is not the same as being oppressed. In order to celebrate your identity as an outlaw, you have to have an investment in the system which makes you an outlaw. Queer seems to me to encompass the most extreme casualties of the gender system, and to create an umbrella which covers those who are unwilling social outlaws (usually from the poorest and most disenfranchised groups in society, with no buffer against social prejudice – i.e. those who are outlawed without choice), and those for whom playing at being outlaws is a privileged intellectual game rather than a hard lived reality.
Queer is by its own definition whatever is at odds with the normal, the legitimate, the dominant. Queer then, demarcates “not a positivity but a positionality vis-à-vis the normative”. It follows from this that Queer politics has no particular political goals, apart from challenging the dominant normative discourses, and if they change, Queer politics would then have to change its position in opposition to whatever is currently normative. It’s not clear to me therefore, what its specific political goals are.
Queer embraces a wide array of non-normative sexual identities and practices, including some that are heterosexual:: “Sadism and masochism, prostitution, sexual inversion, transgender, bisexuality, asexuality, intersexuality are seen by queer theorists as opportunities for investigations into differences of class, race and ethnicity, and as opportunities to reconfigure understandings of pleasure and desire.” For example, Pat Califia, in Feminism and Sadomasochism writes about how sadomasochism encourages fluidity, and questions the naturalness of binary dichotomies in society:
The dynamic between a top and a bottom is quite different from the dynamic between men and women, blacks and whites, or upper- and working- class people. That system is unjust because it assigns privileges based on race, gender, and social class. During a S/M encounter, roles are acquired and used in very different ways. If you don’t like being a top or bottom, you switch your keys. Try doing that to your biological sex or your race or your socioeconomic status.

This point of view places these scholars of Queer theory in conflict with the radical feminist view that sadomasochism, prostitution and pornography, are all oppressive practices.
Radical feminism argues that all power differences are sexualised, including those constructed through race and ethnicity, class and disability, and that pornography and the sex industry as a whole is one of the clearest and most pernicious manifestations of that – eroticised power difference is the stuff of porn, and this is acted out on real bodies, not in the imagination of the consumer. Moreover, we need to be clear about whose pleasure and desire we are talking about – in an industry based on sexual exploitation and abuse. S&M was the subject of much heated debate within feminism in the 1980s, and here again, radical feminism saw nothing new or radical about recreating the dominance and subordination dynamic – already prevalent within heterosexuality – within non-heteronormative relationships. All of these phenomena, embraced as anti-heteronormative – by queer politics, are already embraced by patriarchy, so there’s no great revolution here. Radical feminists seek not merely to challenge but to dismantle the structures of patriarchy; the challenge that queer offers to the normative culture is a provocation with no political aim to dismantle the normative, on which, by its own definition, it depends for its existence as an oppositional position. It appears that queer is thus not attempting to seek liberation from the system of gender difference, but simply to take liberties with it.
In order to change the social system that creates gender difference as we know it, you have to address the underlying structures that produce and sustain gender difference – and you have to seek to eradicate gender itself.
Without gender, without power difference, sexuality could simply be the expression of desire between equal subjects. (see Su’s quote in the handout).

At the beginning of this talk, Debbie quoted Shulamith Firestone, and it seems entirely appropriate therefore for me to conclude by returning to a central argument of ‘The Dialectic of Sex’, one which encapsulates the radical feminist approach to gender: ( I paraphrase): The intellectual and theoretical task of feminism is to understand gender as a system which creates and maintains inequality. The political task of feminism is to eradicate gender.

   

His exploration of the varying uses of the concept of gender within feminist, postmodern, Buckshot Roulette and queer frameworks is enlightening.