“LEONOR, FASCISTA É VOCÊ!
Nota de repúdio em resposta ao texto “Lesbonorma microfascista” publicado em seu blog e a todos lesbofóbicos que a seguem.
(naofo.de/5nl5)
Começarei pelo título. Neologismo lesbofóbico, tendencioso e fascista academicamente projetado para – novamente – atacar mulheres. Mulheres lésbicas são duplamente subjugadas pelo único dogma existente que é detentor de todo o poder – a norma patriarcal. Leonor faz questão de nos sujeitar a mais uma violência, comparando-nos àqueles que num passado não tão distante nos colocaram em campos de concentração e ainda hoje matam, estupram e torturam lésbicas. Leonor, fascista é você. Mais uma mulher foi torturada ao ler que sua sexualidade é patológica, que suas práticas sexuais são meramente problemas psicológicos relacionados a homens, que toda uma cultura subversiva se resume a inveja de pênis. Novamente o pênis. Pênis do estupro corretivo. Pênis que somos coagidas a desejar desde que nascemos no momento que somos enquadradas mulheres. Pênis que, quase como uma entidade patriarcal, é colocado num pedestal e venerado por sua força. Força que corrompe, viola, escraviza, reprime e domina mulheres. Eu não tenho inveja de pênis, eu tenho um repulsa gerada por vivências com pessoas que, como você, tentaram me impor um desejo goela abaixo. Leonor, fascista é você. Manter o equilíbrio? Somos loucas? Quem sabe você não nos indica um bom psicanalista freudiano homem e portador de um potente varão para que assim possamos retomar nossa sanidade mental. Lésbicas não são fiscais de lesbianidade, já temos um sistema bem estruturado controlando e mediando nossos comportamentos, e dentre esses controles está o monopólio do poder sobre as mulheres. Mesmo que quiséssemos, Leonor, isso não está sob nosso controle. O que cabe a nós é significar o que somos, delinear nossas existências. E não a você, que como mesma disse, não se vê como uma. Não só não se vê como uma de nós como nos odeia. Não nos inclua aos agenciadores do regime heterossexista. Concordo que não há nada de puro na meritocrática “golden star” (classificação dada a mulheres lésbicas que nunca se relacionaram sexualmente com homens), até porque elas sequer existem – na minha perspectiva. A heterossexualidade é compulsória e de diversas formas somos obrigadas a nos relacionar com homens, como quando somos objetificadas para a masturbação masculina em praça pública. Não estamos livres dessa imposição, a relação é compulsória. E exatamente por isso que jamais culpabilizaríamos uma mulher por sua heterossexualidade. Você é quem persegue mulheres heterossexuais quando as coloca lado a lado aos homens dentro do patriarcado culpabilizando as mães por tê-los parido.
Mais uma mulher sangra ao ser qualificada incapaz. Leonor, fascista é você. Incapaz de me relacionar com outros corpos? Fui adestrada desde a infância para isso, devidamente habilitada escolho queimar o comprovante. É uma decisão política, a decisão que mais subverte o sistema entre todas as que já me foram apresentadas. Por uma simples razão: Só há como manter o patriarcado fazendo com que mulheres odeiem umas às outras.
“Igual que nazis, estas lesbianas desean simplemente erigirse superiores, tal vez justamente como maniobra para compensar su complejo de inferioridad, dada su incapacidad, su falta de potencia (recordemos que el incremento de la potencia depende de la capacidad de afectación).”
E você fortalece essas estruturas ao publicar um verdadeiro discurso de ódio contra mulheres para que estas sejam odiadas por outras mulheres. Mais sangue. Fascista é você. Ponto final.
“¿Será todo tan básico?¿Lesbiana significa no tener contacto con cuerpo biopolíticamente varones ni con cuerpos de expresiones de género y/o identidades “varón”? ¿La biología es destino, la sexualidad es estanca, y la identidades fijas y naturales?”
Se a complexidade da existência lésbica lhe soa tão básica é porque não tem dimensão de seus próprios privilégios. Sim, ser lésbica significa não ter (não ter é diferente de nunca ter tido que também é diferente de nunca terá) relações com homens, principalmente os que dizem ter esse repugnante termo “identidade varão”. Caso eu narrasse toda a minha trajetória desde o momento que fui arrancada do armário, tive meus desejos desmascarados sem que eu tivesse ao menos pensado em como apresentá-los, sem estrutura alguma ou qualquer apoio para segurar o mundo desabando sobre a minha cabeça (tão torta que o única perspectiva que eu tinha ao fugir de casa era o conselho tutelar) passando por devaneios suicidas e noites regadas a cocaína até o momento em que finalmente me tornei fria o suficiente para conseguir me reerguer, entender no alívio da droga a própria autodestruição, e finalmente conseguir apoio naquelas – lésbicas – que, por suas vivências semelhantes, poderiam me compreender, olha… Seria muito mais esteticamente trágica do que essas merdas que você escreve.
Por essa tentativa de apropriação daquilo que não lhe diz respeito, por essa tentativa de caça às lésbicas, pelo estímulo ao estupro corretivo e pela manutenção do patriarcado, finalizo: desejo, do fundo do coração, que esse câncer que carrega seja tão fascista quanto o seu discurso de ódio sanguinário."