reflexões sobre o lugar do físico/corpo e seu fortalecimento no feminismo/lesbianismo

Reflexões sobre o lugar do físico no feminismo.

Quando nos tornamos feministas radicais, começamos a prezar muito pela coerência. Ao menos algumas de nós. Mudamos e questionamos, desconstruimos comportamentos, nos tornamos conscientes deles… desafiamos nossa socialização para nos tornarmos livres.
Uma das coisas mais difíceis de desafiar para mim tendo sofrido forte processo de feminização é a questão do exercício físico.
Eu acho incoerente ser radical e não fortalecer o físico. O patriarcado nos mantêm débeis e somos desestimuladas desde crianças. Raramente uma mãe e muito menos um pai coloca a filha numa arte marcial ou estimula a atividades que desenvolvam a confiança no seu corpo. Colocam as meninas no balé e os moleque no judô.
Já vi diversas vezes menininhas sendo zoadas e sofrendo precoce lesbofobia por estarem ficando fortes. Vi uma priminha abandonar a natação por medo de ficar com ombros largos.
Eu fui chamada de fraca desde pequena e magrela e incapaz. Mesmo assim descobri que uma mulher pode ser forte sem ter aquela constituição física dos caras, o que significa que mesmo que trabalhemos o físico isso não mete medo nos machos, pois na verdade essa força associada com tamanho é algo estético. É um valor social masculino. E isso daí também mostra a misoginia (desprezo a mulher e consideração de sua realidade corporal, mental, intelectual, como inferior) das políticas ou melhor dizendo, da celebração identitária em torno ao ato de tomar testosterona que vemos na obra de teoricas queer como preciado e demais, e o silêncio da comunidade em torno em problematizar a cultura de ódio as mulheres e lesbofobia em que nossos corpos-mentes se desenvolvem e se constróem, isso sem falar na industria farmaceutica. Porque a mensagem que parece nos dizer essa política é de que nossos corpos são inerentemente fracos e os hormonios que este produz não permite que sejamos seres humanas completas, fortes, musculosas. Ou será que não somos incentivadas tanto quanto homens a desenvolver nossa força?
Ser feminista e falar de resistência e não pensar nos meios dessa resistência é furada. Lemos muitos textos mas a verdade é que precisamos ganhar musculos e aprender a conhecer o inimigo (os homens) e como ataca-los, parar de se sentir fraca, incapaz, vítima e um alvo. Recuperar o tempo perdido – os homens vem desenvolvendo sua força desde sempre -. Eles tem todo poderio militar do mundo, sabem socar, imobilizar, matar, se esquivar. Precisamos ficar ainda melhores que eles.
As separatistas enfatizavam muito a importância de treinar o corpo. Artes marciais e desenvolvimento de força. Percebi também que somos esfomeadas e privadas de proteínas, no mundo todo. Estimuladas a sermos bibelos pintar unhas e emagrecer. Isso é politica patriarcal para nos manter reféns da violência e dominação masculina. Precisamos de mais massa muscular e ‘engordar’. E aprender a aplicar essa força.
A capoeira surgiu no Brasil porque negr@s escravizad@s se juntavam para treinar para escapar da escravidão. Os senhores viam eles gingando e pensavan, ah, besteira, essa dança de negros. De modo similar acredito que wendo e grupos de autodefesa feminista são nosso meio de escapar a nossa condição de classe/ casta sexual, assim como outros recursos como nossa lesbiandade que é nossa ancestralidade coletiva amazônica. Vamos levar a sério essa resistência. Se quisermos ser sérias nisso vamos ter que dar duro no nosso fortalecimento físico.
Vamos multiplicar os grupos de treino somente de mulheres! !!!!

 

acho super importante o conhecimento corporal para nós mulheres. aprender a se desenvolver neste sentido. traz maior auto confiança e melhores possibilidades de sair de uma situação. acho importante incentivarmos isso. mas como já falei outras vezes ( em caso alguém lembre e ache repetitivo), eu não acho bom culpabilizar as mulheres por não estarem se desenvolvendo neste sentido porque como vc disse é uma barreira grande de ultrapassar imposta pelo patriarcado. isso não significa que a gente não tem que estimular que isso aconteça,pelo contrário temos mais é que falar bastante, bater nesta tecla. é fundamental que as mulheres, para sua própria sobrevivência, tenham força. além do que é importante também confrontar as noções de corpo que se tem sobre os corpos de mulheres. temos mais é que bater de frente com a expectativa que se tem de que somos frágeis e delicadas e ‘suaves’. boto fé.

 
 

massa! boto muita fé nesse papo. nas oficinas de autofesa em espaços feministas sempre percebo q temos muito pra desenvolver em nossos corpos sobre a própria força dele, de se segurar por exemplo, se equilibrar, se manter firme. penso que sendo o corpo-mente a única coisa q de fato temos, é mais esperto transformar-se na própria arma em vez de carregar canivetes ou sprays por aí. até porque usar bem e fortalecer o corpo se estende pra um autoconhecimento q vai além de poder machucar inimigos se quiser, é um fortalecimento do individual também, traz confiança em ti como pessoa.. o que nos é negado sempre..

 
   

Treinar o corpo fisicamente é treinar a mente para defesa. Eu me surpreendi em ver como que desde que comecei a treinar me tornei mais segura de mim psicologicamente e mais confiante, ativa e defensiva. O medo diminui e a noção de capacidade aumenta e se torna mais realista (você começa a ter noção até onde você consegue se defender em embate físico e até onde é demais para você – o que é uma noção muito importante na defesa). O que mais tem me deixado feliz em treinar é esse lado psicológico e eu sinto que é principalmente nesse lado que preciso ir contra a socialização feminina pela qual passei. Eu me sentia incapaz de me defender, sem noção sobre meu corpo e psicologicamente incapaz de agir ativa, defensiva e violentamente. Meu corpo é pequeno e leve e eu achava que isso era um problema ao me defender. Percebi que não necessariamente. Eu sou mais rápida, ágil e flexível que um corpo masculino grande e musculoso. Temos que treinar onde somos fortes, nossos pontos fortes. É nisso que está a força e não nos músculos. Imobilização por exemplo depende mais de se saber pontos anatômicos do que de força. Socos poderosos sao deferidos por punhos pequenos bem treinados (já que uma menor área de punho aumenta a força do golpe – como em balística por exemplo – dói mais um soco com a mão fechada ou um tapa com a mão aberta?). Acho muito importante o que você disse: a ideia de que corpos muito musculosos são os corpos que tem força é um ideal masculino e totalmente misógino e errado. Até biologicamente falando, um corpo muito musculoso gasta muito em produzir músculos e não produz muita energia já que o metabolismo tende a priorizar o anabolismo (construção de massa corporal) ao catabolismo (geração de energia). Corpos fortes e balanceados produzem energia e a musculatura necessária e não são corpos hipertrofiados.