Cuidado! A crítica entre mulheres faz muito mais dano do que você pensa¶
“Sei que as irmãs de meu marido me criticam. Percebo suas caras de desprezo. Em qualquer reunião familiar evitam conversar comigo. Me sinto uma fracassada quando estão presentes.”.
Que mulher ao longo de sua vida não se sentiu alguma vez alvo de críticas de outras mulheres? E quem já não fez parte alguma vez de uma conversa em que se acusava uma delas de algum rumor, ou se ridicularizava a alguma mulher pelo seu aspecto físico? O maltrato psicológico às mulheres por parte de outras de seu mesmo gênero tem até mesmo nome: wollying. É a soma de dois conceitos: woman (mulher em inglês) e bullying, e se investiga há 20 anos.
Se algo caracteriza o gênero feminino tradicionalmente, é a intuição, e é pouco provável que isto falhe a uma quando uma mulher se sente vítima de um tratamento vexatório por parte de uma ou de um grupo de mulheres. E essa agressão, sem importar o grau, repercute negativamente na pessoa que a recebe e também para aquela que reproduz.
Vivemos em uma sociedade na qual todos contribuímos ao desprestígio de outros, sem nos dar conta de que muitas vezes invadimos suas vidas com uma impunidade e cumplicidade surpreendentes. A depreciação e a crítica destrutiva está mais bem vista que a defesa de direitos. Não vale alegar que a sociedade é assim e que cada um tem que se preocupar com si mesmo. Se não nos damos conta de que nosso bem-estar individual vai depender do bem-estar comum, cedo ou tarde seremos nós as vítimas. Mostremos também valentia, denunciando e não permitindo estes comportamentos abusivos e de maltrato psicológico em contextos de grupos.
Que podemos fazer se estamos sendo vítimas deste tipo de abuso?
Antes de mais nada, e o quanto antes, pedir ajuda: uma sozinha não pode abordar, nem resolver uma situação que requer o apoio e a cumplicidade de todos e todas.
Meu conselho é que se estamos em uma fase inicial de abuso, não tenhamos dúvida em mobilizar imediatamente o entorno. A primeira reação ante uma conduta abusadora costuma ser a do auto-castigo: a vítima tende a tentar encontrar motivos para as ações de sua/as maltratadora/as, fazendo julgamentos a si mesma, se culpabilizando e se escondendo dos e das demais. Se neste estado inicial não se reage, falando com amigas, familiares, colegas de trabalho, a mulher abusada vai se isolar e poderá gerar sentimentos de insegurança e indefensividade difíceis de afrontar com o tempo.
Se a mulher já leva tempo sendo vítima, sugiro coragem e determinação. Coragem para comunicar aos demais seu grau de mal-estar psicológico, e determinação para lutar contra esse tipo de situações, demostrando a sua “algoz” que não a teme, reivindicando-se a si mesma e ante sua maltratadora. Não nos esqueçamos que as maltratadoras se nutrem da insegurança e falta de confiança de suas vítimas.
Que efeitos tem o wollying na mulher que o sofre?
O wollying é um tipo de comportamento que responde a um padrão de maltrato psicológico. É possível esperar, portanto, que a mulher que o sofre desenvolva todos os sintomas próprios deste tipo de situações: desequilíbrio emocional, baixa auto-estima, problemas de auto-imagem, insegurança, desamparo aprendido, sentimentos de medo, rejeição, solidão, incompreensão. É possível até mesmo desenvolver depressão e pensamentos de suicídio, levar a faltas no trabalho ou até mesmo a própria demissão de um emprego assim como evasão de demais espaços.
Essa vivência, quando se segue ao longo do tempo, produz estados de alerta permanente característicos de episódios de estresse pós-traumático, e aumenta o risco de que evoluam para fobias específicas (social por exemplo), ansiedade generalizada e inclusive, transtornos alimentares, alcoolismo e transtornos de personalidade dependente.
E a mulher que critica excessivamente ou maltrata a outra, o que passa com ela?
Por outro lado, a maltratadora se utiliza sua conduta para proteger-se do mesmo dano que ela causa: a crítica, o descrédito, a rejeição… Isso pode ocasionar um comportamento obsessivo dirigido ao controle de aqueles detalhes que ela considera imprescindíveis para manter esse estado prevalente aos demais, e que costumam fundamentar o conteúdo de suas críticas: o cuidado da imagem, um interesse desmedido em resultar atrativa tanto para os homens como para as outras mulheres, ou de ser la melhor mãe e esposa ou a melhor profissional…
A exposição continuada a este tipo de exigências pode dar lugar a quadros psicopatológicos que possuem como denominador comum o estresse, a ansiedade e a conduta obsessiva por determinados aspectos da imagem e da competência social.
Como responder a esse tipo de condutas?
Você faz parte do maltrato a outra mulher que pode estar sendo vítima de outra mulher, e se alia à maltratadora/as sem saber se realmente o que contam sobre ela é certo?
Olho companheiras!
Retirado do grupo em espanhol Psis Feministas. Publicação de Capalbo Evanthia