Separatismo - Quando e por quanto tempo - Carol Anne Douglas

Tradução de parte do capítulo 14 retirado do livro “Love and Politics – Radical feminist and Lesbian Theory” de Carol Anne Douglas, traduzido por coletivo GARRa feminista

A discussão dos objetivos, estratégias e táticas feministas deve lidar com a diferença entre aquelas que veem um movimento autônomo como uma estratégia, mas que favorecem a eventual união com os homens – e aquelas que veem o separatismo como objetivo.

Todas as feministas radicais e lésbicas favorecem algum grau de separatismo. Todas acreditam que grupos independentes e exclusivos para mulheres são necessários. As questões levantadas pelas separatistas lésbicas diz respeito a necessidade de separar-se dos homens em todas as áreas de convívio, se o separatismo é um objetivo permanente e, em que medida, as lésbicas escolherão trabalhar ou viver separadas de mulheres que se relacionam com homens.
Separatismo temporário

O grupo feminista radical Redstockings via como uma tática temporária a separação entre mulheres e homens. Barbara Leon escreveu um artigo intitulado “Separate to integrate” (“Separar para integrar”), no qual afirmou que na década de 1960, as feministas radicais assumiram que estivessem formando grupos políticos exclusivos para mulheres apenas para exigir que elas fossem inseridas na sociedade. Leon via mulheres que preferiam trabalhar e socializar apenas com as mulheres como um elemento reacionário.

Em uma irônica volta aos velhos tempos dos clubes de mulheres, muitos grupos femininos começaram a ser vistos como fins em si mesmos – lugares para se socializar, fazer amigas e de crescimento pessoal.

Essa visão parece não apenas desconsiderar os interesses das lésbicas, mas também minimizar a necessidade de amizade sentida por todas as mulheres que estão mudando suas vidas para se tornarem feministas radicais.

Leon expande a posição do Redstockings que mulheres não devem formar grupos exclusivos femininos, exceto quando estão trabalhando em questões específicas relativas às mulheres.

A formação de grupos exclusivamente femininos em questões que não sejam os direitos das mulheres e a sua libertação é reacionária. Ele se enquadra nos projetos da supremacia masculina para manter as mulheres segregadas, excluídas e “em seu lugar”. Somente se o propósito declarado de um grupo de mulheres for lutar contra o rebaixamento para uma posição e um status separados, ou seja, para lutar pela libertação das mulheres, só então um grupo separatista adquire um propósito revolucionário e não-reacionário.

Esse posicionamento aponta os perigos de ser do gueto, mas não reconhece que as mulheres que se juntam para trabalhar na resolução de suas pautas talvez desejem continuar trabalhando em conjunto – e podem ser mais eficazes se elas estiverem juntas – em outros tópicos.

É verdade que, na década de 1960, as feministas radicais visavam a integração das mulheres e dos homens como a solução. Até mesmo a militante Ti-Grace Atkinson assumiu que, eventualmente, mulheres e homens provavelmente seriam complementares, embora ela tenha qualificado esse ponto.

Uma separatista, tecnicamente, é alguém que defende um estado separado para um grupo particular de pessoas. Eu nunca fiz isso – ainda.

Atkinson criticou fortemente o “nacionalismo” feminino como tático e irrealista, e disse que o nacionalismo prejudicava o movimento negro.

Os limites entre objetivos e táticas nem sempre são claros. O objetivo da mulher pode ser a tática de outra mulher. Uma comunidade exclusiva de mulheres, por exemplo, pode ser um objetivo para algumas mulheres e uma tática para outras. Ou pode ser um objetivo de longo alcance para algumas e um objetivo de curto alcance para outras. Embora essas mulheres possam trabalhar juntas, pode haver conflito se uma mulher valorizar um projeto como um fim em si mesmo, de modo que outra veja mais como um meio para um fim.
Perspectiva lésbica sobre o separatismo

A declaração separatista lésbica mais antiga pode ter vindo de Spectre, em 1971 e 1972, da cidade de Ann arbor no Michigan, que publicava o jornal. Em Washigton, com base em DC, as Furies começaram pouco depois, e publicaram o jornal por conta própria.

A questão do separatismo lésbico tem sido discutida quase desde que a ideia de uma política feminista lésbica foi formulada pela primeira vez. Algumas lésbicas usaram o termo “separatismo” para significar a maior separação possível dos homens; outras também o usaram para significar separatismo de mulheres que não são lésbicas. Enquanto umas acreditam que é preferível evitar os problemas de atitude anti-lésbica nas feministas heterossexuais trabalhando apenas com lésbicas, outras sentiram que tinham que deixar o movimento feminista e marcar um novo movimento próprio.

Ginny Berson, membra do Furies, escreveu:

As lésbicas devem sair do movimento das mulheres heterossexuais e formar seu próprio movimento para serem levadas a sério, para impedir que as mulheres nos oprimam e para forçar mulheres heterossexuais a lidarem com seu próprio lesbianismo.

No entanto, as feministas lésbicas muitas vezes têm sido ambivalentes quanto ao separatismo. Em “Take a Lesbian to Lunch“, Rita Mae Brown escreveu:

Este é um apelo ao movimento separatista de lésbicas? Sim e não. Não, porque não quero ficar separada de nenhuma mulher… Sim, porque até que as mulheres heterossexuais tratem lésbicas como seres humanos…Não tenho opção…

Brown expressou ambivalência não só sobre o separatismo lésbico como uma tática, mas também sobre o separatismo dos homens.

O separatismo é o que o homem rico e branco quer: homem vs. mulher; negro vs. branco; gay vs. hétero ; pobre vs. rico. Eu não quero me separar de ninguém – isso apenas mantém O Grande Homem em cima de todos nós. Mas eu não posso trabalhar com pessoas que me degradam, não lidam com comportamentos que são destrutivos para mim e que não compartilham seus privilégios. O que eu quero é o separatismo. Só podemos alcançar mudanças reformistas para o nosso subgrupo se permanecemos separatistas.

No “futuro do separatismo feminino”, um artigo de 19757 em Quest: A Feminist Quarterly, Lucia Valeska, que mais tarde presidiu a National Gay Task Force (agora National Gay and Lesbian Task Force), criticou o separatismo.

Uma das lições mais difíceis para as feministas lésbicas aceitarem é que existem algumas feministas heterossexuais que estão fazendo uma contribuição mais vital para as mulheres do que algumas lésbicas… Houve uma percepção conjunta de que não é a heterossexualidade per se que deve ser conquistada, mas a base ideológica e material de apoio que dá à supremacia masculina… [a] análise feminista lésbica…. não insiste em que todas as mulheres se tornem lésbicas. Escolher um caminho diferente não é admitir a derrota. Na sua forma mais pura, o separatismo não funciona porque você não pode se cortar de todas as fontes de poder e sobreviver… Mas também é perigoso negar a força da análise inicial e se mover do outro jeito – em uma posição anti-separatista.

Lucia Valeska diz que o separatismo ajuda as lésbicas a criar um senso de identidade, mas não é a única tática a ser usada na mudança social. Nem todas as mudanças, ela acredita, podem ser melhoradas através do separatismo. Mesmo que veja o separatismo como uma tática e não como um objetivo, ela vê isso como uma tática de longo prazo.

Para acabar com o separatismo, devemos acabar com suas causas… Independentemente da sua opinião, o separatismo feminino tem um futuro tão longo e viável quanto a supremacia masculina. Esse é um longo caminho à frente.

Algumas lésbicas têm ainda mais críticas contra o separatismo integral, tanto por motivos táticos como com um sentimento de empatia com outras mulheres. Rita Laporte escreveu no início da década de 1970:

Como lésbica, tenho medo especialmente de uma separação entre mulheres heterossexuais e lésbicas. Não só as lésbicas são odiadas e temidas pela maioria das mulheres, mas muitas lésbicas não cedem amor as suas irmãs heterossexuais… Não consigo ver lésbicas ou mulheres heterossexuais sozinhas, conseguindo a revolução para uma maior humanidade em todas as pessoas.

A escritora lésbica e feminista, Adrienne Rich, também expressou suas preocupações com o separatismo. Em um artigo de 1977 em Sinister Wisdom, ela escreveu:

… Algumas lésbicas se retiraram ou foram forçadas a um enclave não-feminista que rejeita ou denigre mulheres “heterossexuais”.

Para Rich, o termo “separatismo” enfatiza a negação.

Seria mais fácil para alguns se todas as lésbicas pudessem ser rotuladas de “separatistas”, o que implica que nossas políticas e auto-definições procedem primeiro por ódio e rejeição de outros (homens ou mulheres heterossexuais). Seria mais fácil, mas destrutivo para o feminismo e uma negação da nossa complexidade. Nós constantemente nos perguntamos se estamos mais preocupadas com o que estamos dizendo “não” do que com o “sim” que estamos dizendo a nós mesmas e a outras mulheres.

Algumas mulheres negras criticaram o separatismo, tanto como objetivo, como tática. Apesar de existem separatistas lésbicas negras, poucas que são escritoras que se identificam como tal. As exceções são Anna Lee, colaboradora de algumas publicações voltadas para o público lésbico e Vivienne Llouise, que escreveu “Off your backs” que ela está trabalhando para “criar uma nação lésbica autossuficiente”. Anna Lee escreve:

Eu reivindico e afirmo sob tremenda pressão tudo de quem sou é uma lésbica negra separatista. Para dizer isso, coloco-me em conflito com cada um dos grupos do qual eu poderia razoavelmente esperar apoio, proteção e sustento.

Meias dúzias de lésbicas negras contribuíram para a antologia lésbica separatista For Lesbians Only.

Nesse livro, Naomi Little Bear Morena expõe em um ensaio a pressão que lésbicas brancas fazem para que ela assuma um papel que não gostaria.

Olha, eu quero fazer C.R¹ e sair como uma latina e orgulhosa, você sabe, ficar desapontada e irritada com a verdade sobre o macho latino no bairro loco, e eu quero um adesivo e um botton escrito “a mãe natureza é uma lésbica”. Bem, esqueça essa merda. Aqui está o seu roteiro e como se lê, irmã: “mulheres de cor conhecem Karl Marx, mulheres de cor se tornam politicamente corretas, mulheres de cor decidem quem boicotar e chamar de racista na comunidade.

Em uma nota diferente sobre separatismo e etnia, a antologia também inclui um ensaio de Naomi Dykestein, que diz que sua identidade judaica está relacionada com seu separatismo lésbico.

É verdade: separatistas são barulhentas, raivosas, insistentes, intransigentes, irritantes e desagradáveis – nós não nos calamos e não somos “mulheres educadas”. Mas essas “críticas” soam desconfortavelmente familiares – são as mesmas queixas feitas sobre os judeus em geral e a mulher feminina judaica em particular. Não há coincidência, penso eu, considerando a grande porcentagem de separatistas lésbicas que são judias – o que é algo mais que eu tenho que perceber que não é coincidência. Nós viemos de uma herança de separatismo – tem sido uma das principais formas pelas quais meu povo sobreviveu e é uma parte essencial de nossa(s) cultura(s).

Críticas ao separatismo

As mulheres de cor geralmente veem qualquer variante de separatismo – tanto sexual quanto racial – como uma forma de coerção que as obriga a separar ou até mesmo desistir de sua identidade própria. Muitas declararam a vontade de ser e agir enquanto negras, pardas, amarelas, como mulheres ou como lésbicas.

Merle Woo escreve em sua “Letter to Ma” in This Bridge Called My Back

Ser uma feminista amarela significa ser uma ativista da comunidade e humanista. Isso não significa “separatismo”, seja privando-me de relações com não-asiáticos ou homens.

A feminista socialista porto-riquenha Juanita Ramos escreve em Compañeras: Latina Lesbians:

Depois de muitos anos de busca por “O” movimento onde todas as minhas facetas seriam aceitas, eu finalmente percebi que cada um desses movimentos porto-riquenho, gay, feminista não poderia, por si só, gerar o tipo de sociedade que asseguraria a eventual eliminação de todas as formas de opressão. Isto acontece porque cada um deles tenta forçar-nos a priorizar questões desta forma e daquela forma, para destacar algumas partes de nossa identidade à custa dos outros. Eu acredito que esses grupos devem interagir uns com os outros.

Em “black feminist statement” a coletiva do Combahee River condena o separatismo lésbico:

Também devemos questionar se o separatismo lésbico é uma análise e estratégia política adequada e progressista, mesmo para aqueles que o praticam, já que nega completamente qualquer fonte de opressão da mulher, com exceção a sexual, ignorando os fatos de classe e de raça.

Em “Across the Kitchen Table: A Sister-To-Sister Dialogue” de Barbara e Beverly Smith, Barbara Smith critica aqueles que praticam o separatismo como sua política única. Um das autoras da declaração do Combahee, ela sugere que o separatismo lésbico completo invoca a rejeição de questões que afetam muitas mulheres e formas de trabalho que poderiam inclui-las em maior número.

Raramente o separatismo está envolvido em promover mudanças políticas reais, de forma que afete as instituições da sociedade de maneira direta. Se você define certas questões do movimento como problemas de mulheres heterossexuais, por exemplo, os direitos reprodutivos e abuso de esterilização, então essas questões políticas/sexuais identificáveis são aquelas com as quais você não irá se preocupar. Percebemos como os separatistas em nossa área, ao invés de fazer organização política, muitas vezes fazem atos desarticulados. Por exemplo, eles podem chegar a uma reunião ou uma série de reuniões, depois seguir em frente… às vezes pensamos separatismo como a política sem uma prática.

Algumas feministas sugeriram que o separatismo lésbico envolve (necessariamente) ignorar raça e classe. Sara Bennet e Joan Gibbs escreveram:

…O separatismo lésbico ignora e relega a um status secundário a opressão de raça e classe, e anula a validade da luta compartilhada por mulheres e homens do terceiro mundo.

No entanto, um grupo separatista de lésbicas, as Furies, produziu o que provavelmente foi o primeiro conjunto de artigos sobre o funcionamento de classe entre feministas e lésbicas, que foram compiladas em “Class and Feminism“, um livro editado por Charlotte Bunch e Nancy Myron.

Cathy Mccandless, em seu ensaio no livreto Top Ranking, critica o separatismo no campo econômico.

Que alternativas econômicas nós fornecemos para as mulheres que realmente desejam cortar suas conexões com os homens ou (muito mais ao ponto, eu acho) com o próprio sistema patriarcal capitalista supremacista masculino branco? Migalhas preciosas… esse é o ponto crucial do verdadeiro separatismo lésbico. Se o separatismo de alguma forma fosse disponibilizado a todas as mulheres que pudessem querê-lo, não haveria nenhuma objeção? Seria a mudança para o campo a única forma para um possível separatismo?

Mccandless prossegue:

O dinheiro pode lhe oferecer o privilégio da distância. Com o suficiente, é possível nunca mais colocar os olhos em um homem. É um luxo maravilhoso, ter controle sobre quem observar, mas vamos a realidade: para a maioria das mulheres, o dia-a-dia ainda envolve o contato pessoal com os homens, quer gostem ou não.

Ela não parece reconhecer que muitas mulheres fazem sacrifícios econômicos para viver ou trabalhar apenas com mulheres. Certamente, nem todas as separatistas são ricas. Algumas têm como origem a classe trabalhadora. A maioria das que tentam se separar economicamente dos homens deve desistir do privilégio potencial ou real de ganhar um salário alto.

Certamente é verdade que nem todas as mulheres podem se dar ao luxo de ir e viver no campo: muitas têm dependentes para sustentar, mas nem muitas mulheres pobres podem permitir-se tornarem-se ativistas políticas, se elas estiverem sobrecarregadas com uma dupla jornada de trabalho. Isso significa que não se deve ser uma ativista política, porque nem todas as mulheres podem ser? Não é mais apropriado dizer que o que uma mulher quer para si mesma – ativismo, oportunidade de trabalhar na arte, uma vida separada dos homens – ela deveria trabalhar para torná-la possível para outras que também gostariam disso?

As críticas do separatismo nem sempre reconhecem que existem graus de separatismo. Uma mulher pode ser separatista em sua vida pessoal e organizações políticas, mesmo que saiba que não pode sobreviver sem um trabalho que possa levá-la a um contato com homens. Ela ainda pode abster-se de dar qualquer parte de si mesma aos homens.

Em um artigo do Sinister Wisdom de 1981 “What Does Separatism Mean?”, Adrienne Rich debate a história do separatismo e questiona se – ou quando – ele é racista.

Eu me pergunto se talvez a verdadeira dúvida em questão não seja o separatismo em si, mas como, quando e com que tipo de identidade consciente é praticado e até que ponto qualquer ato de separatismo é mais do que um ato de se retirar da diferença daqueles cuja dor optamos por não se envolver.

Todas as feministas radicais são separatistas até certo ponto. Todas nós reconhecemos a importância de fazer pelo menos algum trabalho político independente dos homens. A maioria das lésbicas (dependendo de como definem seu separatismo) são separatistas no sentido de que não dormem ou se envolvem romanticamente com os homens. Entretanto, algumas separatistas levaram o separatismo ao ponto de criticar outras lésbicas por ocasionalmente ver seus pais ou irmãos. Eu suspeito que esse grau de separatismo seja relativamente incomum.

O separatismo que ignora a opressão de mulheres que não são lésbicas ou que rejeita mesmo as lésbicas que querem lidar com as outras opressões que enfrentam (como trabalhadores, pessoas de cor, etc.), claramente poderia ser criticado como imprudente.

Há uma diferença considerável entre dizer: “Não vou trabalhar perto de homens” e dizer que “Mulheres negras não deveriam trabalhar com os homens” – assim como existe diferença entre dizer: “Eu acredito que trabalhar com homens do terceiro mundo é importante” e dizer “ Qualquer mulher que não trabalhar com homens, mesmo que sejam do terceiro mundo, são racistas.”

Por outro lado, pode haver momentos em que é aceitável perguntar-se é moralmente ou politicamente obrigado a trabalhar para certos propósitos em projetos que podem estar indiretamente ligados.

Adrienne Rich questiona,

Como a decisão de trabalhar contra o Klan afetará a política e estratégia separatista lésbica? Essas mulheres têm uma escolha, como jovens lésbicas brancas na terra do sul, para se juntar ou não participar da atividade anti-Klan?

A urgência em uma situação pode determinar quando uma mulher decide alternar suas concepções políticas. Uma feminista poderia recusar ajuda a um homem que precisasse se esconder de pessoas que pudessem matá-lo por causa de sua raça ou etnia? Certamente que não.

No entanto, como Rich ressalta, o separatismo não foi criado simplesmente como uma política negativa, mas como uma afirmação do próprio grupo (oprimido).

Um ato do separatismo, de desconjuntar, também pode ser um ato de conexão. Um espaço exclusivamente feminino não é definível apenas como um espaço do qual todos os machos são excluídos.

O separatismo possui cunho radical apenas se o separatista pertence ao grupo oprimido. Homens brancos separatistas não poderiam formar um movimento progressista.

Muitos afro-americanos se definiram como nacionalistas negros (ou separatistas). Foi de onde as lésbicas tiveram a ideia. Embora seja claro que algumas feministas negras, insatisfeitas em trabalhar com grupos feministas e negros, decidiram formar alguns grupos que incluíssem apenas mulheres negras ou de origem pobre, não se definiam como separatistas. Muitas vezes, elas também trabalhavam em outros grupos que incluem mulheres brancas e / ou homens negros, e até mesmo homens brancos progressistas também.

Bell Hooks, uma feminista negra, critica todos os grupos de feminismo negro como separatista.

Algumas mulheres negras que tinham interesse na libertação das mulheres responderam ao racismo de mulheres brancas formando grupos separados de “feministas negras”. A resposta foi anti-revolucionária… Em vez de mulheres negras revidando a tentativa de classificá-las como um Outro, um elemento desconhecido e insondável, elas agiram como se fossem o Outro.

No entanto, a maioria das feministas negras apoia ou pertence a tais grupos e acredita que são progressistas e necessários.

Muitas das críticas ao separatismo lésbico integral mencionado nos anos 80 são semelhantes às críticas levantadas anteriormente por outras feministas radicais, como Brooke, por outas ex-separatistas, como Rita Mae Brown e aquelas que veem o separatismo como uma estratégia válida, mas parcial, como Lucia Valeska. Embora essas críticas anteriores não tenham sido focadas em raça, elas apontaram que a política separatista lésbica tinha poucas chances de atingir e organizar um movimento de libertação de mulheres.

As críticas ao separatismo às vezes servem como armadilhas: algumas feministas (incluindo lésbicas) acusam aquelas que não concordam com seu posicionamento sobre uma tática específica, de serem “separatistas” (e, portanto, supostamente obstrucionistas, na melhor das hipóteses, e racistas na pior). Às vezes, uma lésbica pode até criticar uma feminista heterossexual como “separatista” por querer que um evento seja só para mulheres, enquanto a lésbica, não.