O feminismo negro é absolutamente incompatível com a transfobia

posição das blogueiras negras sobre a repercussão dos ataques de algumas feministas radicais à ativistas transfeministas. Discursos de ódio, difamação, exibição de nome de registro e denúncia de seus perfis nas redes sociais por falsidade ideológica, utiliza a transfóbica de uma burocracia cissexista para invisibilizar, discriminar e impedir a fala de militantes.

Nós,

Blogueiras Negras,

somos um grupo diverso de mulheres negras.

Cada uma de nós com sua vivência, sua trajetória de vida, suas opiniões. Muitas vezes em diversos tons de pele, textura de cabelo. Nunca pretendemos ser um grupo em uníssono, muito pelo contrário. Nosso propósito sempre foi de contribuir para o entendimento de que também somos a própria diversidade assim como qualquer outro grupo de mulheres. De outro modo estaríamos contribuindo para reforçar o estereótipo racista de que seria possível que apenas uma de nós falasse por todas, de que todas somos iguais.

Estaríamos negando a nossa própria existência ao invés de a celebrar.

Apesar de todas essas diferenças, existe um norte que nos direciona: a luta contra toda força, ação, ideia ou movimento que tem como objetivo nos subjulgar. Sim, estamos falando de mulheres negras especificamente, mas não somente. Nos colocaremos ao lado de toda mulher branca atingida pelo patricarcado, ao lado de todo homem negro que sofra racismo, por exemplo. Nos colocaremos ao lado daquelas que são alvo de gordofobia, capacitismo, classismo. De lesbofobia, bifobia, objetificação, heteronormatividade. E não nos compactuaremos com tais manifestações.

Nesse sentido, entendemos que o combate à transfobia é uma das pautas mais que urgentes dentro do feminismo, inclusive entre feministas negras. Por isso que prestamos nossa solidariedade e respeito ao transfeminismo, ainda mais quando seu olhar é voltado para a mulher negra trans*. Não há discussão possível nesse sentido. Agir de outra maneira, num país notório por suas taxas de transfeminicídio, seria incoerente com aquilo que acreditamos. Entender que uma mulher trans* é um homem é negar nossa própria diversidade. Seria agir de acordo com aquilo que nos massacra também. Não nos interessa conviver com isso.

Todo discurso de ódio contra mulheres negras cis ou trans* não deve ser tolerado dentro e fora daquilo que se entende por feminismo, sob pena de termos sangue em nossas mãos. Sangue que sai do corpo ou da alma, que de um jeito ou de outro acaba por matar concreta ou simbolicamente. Seria como atirar em nosso próprio peito fazendo com que o objetivo primeiro de nossas ações, extinguir todo tipo de opressão contra a mulher, jamais seja obtido. Não seremos exitosas enquanto um grupo de mulheres gozar de privilégios por meio de alianças com a branquitude acrítica e a cisnormatividade.

Que fique enegrecido: nós Blogueiras Negras entendemos que o feminismo negro, mesmo em suas diversas manifestações, é absolutamente incompatível com a transfobia. Acreditamos que não seja complicado entender que nossas mulheres são atingidas por ela, tem sua existência negada, sua humanidade diminuída simplesmente por serem transexuais e por serem negras, uma superposição de identidades que cria um eixo único de violências. Às mulheres negras cis só existe uma possibilidade nesse sentido: sermos aliadas.

Por fim, gostaríamos de convidar mulheres negras trans* a escrever nesse espaço. Não apenas durante uma semana ou um dia especiais. Feminismo não é apenas aquilo que feministas brancas ou cisgêneras acríticas promovem, não é aquilo que acontece na grande mídia branca, racista, cistemática. Feminismo é sobre acabar com “sexismo, exploração sexista e opressão” seja quais forem suas causas ou consequências. Seja quais forem seus agentes, movidos por ação ou reprodução de ideias.

 

acho que agora lhe faltou informação. você está colocando fatos distorcidos ( não estou dizendo que vc os distorceu). quem está perseguindo as feministas são algumas mulheres trans tipo a hailey kaas que fez uma lista do que considera “transfóbicas” por divergirem teoricamente.você tem ideia do que é isso? fazer uma lista com nomes de mulheres que divergem da sua teoria e fazer uma verdadeira caça as bruxas? além disso uma garota com sindrome do pânico e bipolar foi perseguida e ridicularizada na marcha das vadias de curitiba teve seu nome e rosto divulgado pela internet, a garota teve serios problemas em função de já ter os problemas que citei acima. uma mãe e seus filhos foram expostos na internet porque esta mãe foi acusada de transfobia.

transfobia para hailey kaas e outras pessoas, é dizer que não existe binarismo de gênero, mas hierarquia de gênero. é dizer que mulher é uma construção social, que não se nasce mulher, logo não se pode se “sentir” mulher, visto que mulher é uma construção social.

acho um absurdo quererem que as feminstas entrem na “linha”. de qualquer linha que seja. isto é coação, isso é chantagem! nós não vamos nos calar porque vcs acham que estamos com medo de sermos acusadas de transfóbicas. porque sabemos que não somos, se tiverem interesse de discutir teoria be my guests.

aqui fica um link para um texto de uma mulher negra num blog de mulheres negras sobre o feminismo radical que discordam deste ponto de vista das Blogueiras Negras.servicodepreta.blogspot.com.br/2014/07/....html logo, o feminismo negro não é incompatível com o feminismo radical. e dizer que feminismo radical é transfóbico é falta de informação e aprofundamento da teoria.

agora misoginia parece que passa batido.por que será?

 
 

travei um debate com a hailey sobre o caso da delegada trans na delegacia da mulher. nada mais bizarro e deplorável, nossa distância é imensa e não tenho acordo com ela!! também pouco me interessa sobre essas picuinhas infantilóides nas redes sociais, que tanto transfeministas quanto radfems gostam de travar. acho que não é nosso caso.

talvez Mavra, seja pra você que esteja faltando informação. este texto saí em solidariedade a Viviane Vê que foi vítima de uma pessoa que se diz feminista radical e que acusou-a em uma rede social que ela cometia falsidade ideológica e estelionato, a rede solicitou o envio dos seus documentos e como é trans ela teve seu perfil desativado e considerada criminosa

Isso é transfobia clara e explícita e nenhuma divergência justifica um ato que assegura a cisnormatividade, impõe uma categoria de gênero que não lhe serve e provacam a exclusão de pessoas de espaços, mesmo os virtuais. pessoas estando sendo mortas pq não aceitam esta imposição e principalmente pq são excluídas de espaços que constrói privilégios socio-economicos, que tanto eu e você temos.

sua posição me espanta, compreendo que tenha se sentindo indignada pq este é um debate que gera muitas passionalidades em todas nós, mas acho que podemos ser um pouco mais sensatas, para esta passionalidade não ganhe foco e este debate se torne um duelo de angústias. tentei localizar o máximo possível do texto no resumo em baixo do título. Reconheço que minha tentativa pode ser sido um desastre, mas acabei de reler e não consigo perceber desta forma. Ainda sim, reconheço que posso ter sido estúpida.

uma coisa: esta “pequena discordância” teórica é a incapacidade de perceber que a merda do biológico não é determinante para se sentir ou ser mulher (não estou falando passar as violências que esta sociedade impõe aos corpos femininos) e não estou falando por parte da defesa de mulheres trans. vai me propor que homens trans são mulheres? ou pior que não traídorAs do feminismo? esse papo pra mim não dá.

mulheres trans são violentadas pela reação misógina, homens trans são violentados pela reação misógina, bichas afeminadas são violentadas pela reação misógina, patricinhas são violentadas pela reação misógina, lésbicas são violentadas pela reação misógina, transgêneros são violentadas pela reação misógina e para cada reação misógina dessas cabe um feminismo.

afirmo que, como transfeminista, respeito o feminismo radical e mesmo não sendo incluída e vista como não aliada em seus projetos políticos, compreendo (e compartilho) a repulsa pela ideia de macho e acho justíssimo o separatismo, se para muitas eu ainda sou vista como macho (o que pra mim é sintoma de transfobia) só me resta afastamento, mas caso se aliem ao patriarcado para me exterminar, certamente terei que reagir com autodefesa, faço esta ressalva pela ameaça que este texto deprimente trás. Se ser mulher é apenas definido pelo que se tem entre as pernas e as outras categorias devem ser exterminadas, concluo que estou sendo ameaçada e por isso devo ficar em alerta.

passei uma vista rápida no texto, em parece bem interessante, mas não acho que as blogueiras negras estão fazendo alguma apologia anti o feminismo-radical, portanto não sei se cabe. irei ler.

você acha mesmo que a misoginia passou batido? não se pode se blindar de privilégios usando apenas uma experiência estigmatizada, existe transfobia sim, assim como existe racismo, elitismo e sexismo. pessoas brancas, heterossexuais, masculinas e não periféricas, se vale destes privilégios, pq simplesmente não há como quebra-los do dia pra noite, acaba por, de certa forma, colaborar com a hegemonia, inevitavelmente.

 
 

ia comentar como o texto era legal, mas:

“transfobia para hailey kaas e outras pessoas, é dizer que não existe binarismo de gênero, mas hierarquia de gênero. é dizer que mulher é uma construção social, que não se nasce mulher, logo não se pode se “sentir” mulher, visto que mulher é uma construção social.”

hailey kaas e essas outras pessoas tem a legitimidade de falar o que é transfobia ou não, porque elas sofrem com a transfobia, vivenciam diariamente. você não.

“porque sabemos que não somos”

você sabe? me diga, se possivel, como você poderia saber que não é transfóbica. tive uma curiosidade imensa em saber como uma pessoa que não sofre uma opressão sabe, sem duvidas, que não está oprimindo.

“e dizer que feminismo radical é transfóbico é falta de informação e aprofundamento da teoria.”

uma das formas mais comuns de silenciamento é essa né. falar que a outra pessoa não sabe o que tá falando.

resumindo: o comentário de mavra teve sua construção tipo assim:
1º: falar que o grupo oprimido também ‘oprime’, falando sobre a perseguição das feministas radicais.
2º: falar que não exerce a opressão, embora as pessoas oprimidas falem o contrário.
3º: falar que falta informação para outra pessoa, porque ela sofre a opressão, mas sabe menos sobre como a opressão se constroi que você.

espanto.

 
 

bacana a sua maneira de dialogar Bete, gostei. porém temos muita divergencia teórica, que para mim se converte na prática.
talvez não valha a pena discutirmos teoria, porque vejo um abismo entre nós neste sentido.mas a gente pode tentar.
por exemplo eu não acredito em privilégio cis. não acredito em ’cis’tema e por aí vai. talvez eu tenha sido muito suscinta ferfx e você ainda reduziu como pode minhas colocações. não lhe culpo, porém não concordo.

respondendo seu “resumo”:
1º eu acho pertinente falar que o grupo oprimido que vc colocou oprime, não porque eu deicidi assim. mas porque oprime e silencia as mulheres.as mulheres estão com medo, estão sendo chantagedas e coagidas e estupradas e perseguidas e mortas.e isto é a nível internacional, não é um caso isolado na internet.e isso se dá de tal forma que como eu comentei anteriormente quaquer divergencia teórica é considerada transfobia. exemplo: uma mãe no Senale (Seminário Nacional de Lésbicas) foi acusada de transfobia porque queria levar uma oficina para mães solteiras e lésbicas. disseram que isso seria transfóbico porque excluiria as mulheres trans.isso é sim muito opressor, entrar num espaço feminista e lésbico e negar ás mulheres lésbicas de se organizarem conforme suas necessidades.
2º infelizmente aqui a divergencia é gritante. as mulheres não são favorecidas em nenhum aspecto pela opressão que as pessoas trans sofrem. a misoginia que se reflete em pessoas trans e até memso em gays (por considerarem que estes estão se “rebaixando” a categoria mulher) ataca diretamente as mulheres, e se reproduz de forma tal que não nos favorece em nenhum sentido. por exemplo estuprar um estuprador só aumenta o ciclo de misoginia e violência contra a mulher, porque este segundo estuprador vai estar mostrando para o primeiro “olha só como é ser mulher e ser tratada como uma”. isso não vai mudar em nada o conceito que ambos têm sobre as mulheres. nós mulheres não estamos oprimindo nem matando, nem contribuindo com o assassinato de mulheres trans. mas poderia citar varios casos onde mulheres trans têm estuprado e assassinado mulheres que vcs chamam de “cis”. e casos onde homens matam esposas e estupram mulheres mudarem de “gênero” na prisão e exigirem irem para prisões femininas, alguns destes estupraram mulheres presas.
3º eu não sei mais do que Bete sobre a opressão que sofre com certeza.bem eu não falei isso nem penso isso.eu entendo que as pessoas trans sofrem discriminação, preconceito e violências.

olha ferfx eu tenho legitimidade para dialogar dizendo que hierarquia de genero não é um conceito transfóbico.e eu acho importante fazer isso, e inclusive tem mulheres trans que compartilham deste conceito. existem inclusive mulheres trans que se dizem aliadas do feminismo radical e não compartilham do transfeminismo. e não estou falando de pessoas despolitizadas, estou falando de pessoas ativistas.então foi isso que eu quis dizer, quis colocar brevemente o que estão falando por aí: diferenças teóricas tratadas como transfobia, mulheres sofrendo acusação de transfobia por suas ideias feministas.

“dizer que feminismo radical é transfóbico é falta de informação e aprofundamento da teoria” não é para silenciar ninguém, é porque é assim que vejo acontecer. pessoas falam que isso é transfóbico aquilo é transfóbico porque não estão com vontade de entender ou porque não tiveram a oportunidade ou interesse em ler a teoria feminista radical, que na minha opinião poderia também ser só feminista porque o feminismo radical é fundamentando na teoria feminista da segunda onda.

então, sobre este texto que vc trouxe Bete não tinha nada sobre a Viviane vê, então sim to purfa desinformada disso aí. mas puxa Viviane Vê cara? nossa eu vi um cartaz horrível da marcha das vadias onde Viviane tem uma faca numa mão e na outra mão uma chave de fenda e os dizeres são “auto defesa contra cis-sexismos”. puxa, isso sim é discurso de ódio e é misógino!isso é uma AMEAÇA COM FACA! como assim auto defesa contra pessoas cis? mulheres “cis”? cissexismo? como vc consegue culpabilizar as mulheres por terem nascido mulheres? isso significa que a única coisa válida é transicionar?

bem, a merda do biológico infelizmente é determinante para que mulheres sejam tratadas desde que nascem de forma diferente. não é a teoria feminista que criou isto, foi o patriarcado. quando nasce uma pessoa e ela tem vagina ela é fdiferentemente tratada da que tem pênis. a começar pela escolha de cor de roupa (rosa), de colocar brincos nas nenês meninas(isso é super violento e invasivo), existe uma pesquisa em que foi verificado que meninos são mais carregados no colo do que meninas.isso é muito triste. acredita que meninos são mais bem alimentados também? eu não sabia disso!isso porque eles já pensam que a menina precisa ser magrinha e o menino “forte”. isso afeta muito o desenvolvImento físico das meninas.e também todo o comportamento para o resto d esuas vidas! nesta pesquisa também se percebeu que a interação com os meninos é ativa e se dá por estimular eles em vários sentidos. já a interação com as meninas se resume em dizer que elas são bonitas e até que darão uma boa miss!
aí tem a mutilação genital feminina,que mutila a menina mas não pergunta se ela é trans ou não entende? mutila a vagina mesmo, uma coisa material, física. e ainda existem as meninas que são assassinadas ao nascerem por não terem nascido meninos.
e numa relação quem engravida e quem serve de aparelho reprodutor é a mulher. quem fica grávida é a mulher, quem é estuprada na desproporcional maioria das vezes é a mulher, porque ela tem vagina. o feminismo e o feminismo radical também sempre lutaram contra a determinação biológica, esta é a luta feminista. essencialista é dizer que existe um se “sentir mulher”. não existe um se sentir mulher. para mim que sou mulher eu vejo que me foi imposto ser mulher. o fato de eu ter gostado quando criança de jogar bola, de andar de bike, não me faz eu “me sentir homem”. isso acontece porque a gente não se conforma com o genero que nos foi imposto.e é por isso que EU NÃO SOU CIS porque eu não estou conformada no genero que me foi imposto e porque eu não tenho nenhum privilégio de ter sido rebaixada na casta inferior desde que nasci. se faz uma grande confusão do que é innato daquilo que é construção social. ser sensível, delicado, gostar da cor rosa, nada disso é feminino, é o que disseram que é feminio, foi uma convenção. então eu pergunto a vcs, o que é se sentir mulher? me respondam por favor. ESSENCIALISTA é dizer que SE NASCE mulher, SE SENTE ou se passa a sentir mulher, saca? se o sistema de gênero fosse destruido estariamos todos livres para sermos, vestirmos, falarmos, andarmos do jeito que a gente quisesse. não existiria misoginia e nao existiria transfobia.

isso não tem nada a ver com querer matar pessoas trans ou quere-las machucadas.insito, isso é diferença teórica.

 
 

Houve resposta por parte de feministas negras à este texto, vocês leram?

“Eu conheço esse discurso, eu conheço o descaso, eu conheço a face dos homens, a face dos seus homens. E se cada negra da periferia se inserisse na prática feminista, ela seria radical de cara. Porque a gente conhece essa face do homem que não ri pra gente, a face do desprezo e estupro. Desde criancinhas.”

lilaseluta.wordpress.com/2014/07/07/a-v...

 
 

“uma coisa: esta “pequena discordância” teórica é a incapacidade de perceber que a merda do biológico não é determinante para se sentir ou ser mulher (não estou falando passar as violências que esta sociedade impõe aos corpos femininos) e não estou falando por parte da defesa de mulheres trans. vai me propor que homens trans são mulheres? ou pior que não traídorAs do feminismo? esse papo pra mim não dá.”

O biologico é crucial para determinar a opressão sim. Cor não é crucial num sistema que historicamente racializa grupos humanos a partir deste traço? Qual a dificuldade de entender que patriarcado constrói uma categoria de sexo a partir da detecção de um traço fisiológico que permite a exploração da capacidade e do trabalho deste corpo de parir? Vocês tão precisando ir mais à raíz das coisas, a teoria de vocês é muito superficial, não indaga por que existe misoginia, por que existe heterossexualidade compulsória. Vocês acham que tudo são discriminações injustas que apareceram por puro acaso.

“mulheres trans são violentadas pela reação misógina, homens trans são violentados pela reação misógina, bichas afeminadas são violentadas pela reação misógina, patricinhas são violentadas pela reação misógina, lésbicas são violentadas pela reação misógina, transgêneros são violentadas pela reação misógina e para cada reação misógina dessas cabe um feminismo.”

Esse é o problema do queer: jogam tudo num mesmo saco da ‘diversidade’. Não passa duma proposta liberal e de práticas sexuais, subversão apenas no plano individual, nada de desmantelamento coletivo dos sistemas que produzem opressão. Diluem feminismo que é o movimento das mulheres , e a teoria sobre a opressão das mulheres, a identificação entre mulheres, a ética de amor entre mulheres e de mulheres em primeiro lugar e a descolonização destas, a luta destas e o espaço destas pra derrubar o patriarcado e terminar com sua opressão.

Cada sujeito com suas lutas, seus espaços, suas especificidades, suas teorias. Assim nos apoiamos mutuamente. Mas não, respeito aos espaços auto-organizados e os conceitos fundamentais pra luta das mulheres é simplesmente tornado uma heresia com a cartada chantagista de ‘transfobia’, uma acusação empregada pra promover terror sobre as mulheres. Não dá pra levar a sério a 3a onda feminista, é simplesmente patético. O pós-modernismo não passa de anti-feminismo.

E não, feminismo é sobre construir auto-estima dos nossos corpos. Ler a não aceitação dos corpos e sua alteração pra caber em modelos mais socialmente valorizados (masculinidade) e não constantemente ameaçados, íntegros, ler isso como sintoma de um patriarcado e misoginia internalizada, de um contexto onde estes corpos são abusados na infância, violados, atacados, assediados, onde se impôe a violência da feminização, um contexto de genocídio empregado contra esses corpos que se arrasta por séculos, deveria ser básico a qualquer feminismo, a qualquer ética feminista de promover nossas aceitações e a ressignificação feminista de sermos mulheres. Se reinvindicar e se entender mulher não é genitalização nem ‘identidade de gênero’, é pelo contrário o esforço em destruir o gênero, é tomar parte num grupo de resistência, se reconhecer mulher é adquirir uma consciência de classe de sexo junto à outras e construir novos sentidos disto, não os patriarcais mas sim feministas, e se entender mulher e aceitar nossos corpos, cuidá-los e afirmá-los é justo feminismo. Só consigo ver transfeminismo como um retrocesso quanto a isso, e este sim é um discurso biologicista, principalmente quando gente como Preciado (rainha da misoginia) e outras dizem que testosterona pode recuperar a força perdida das mulheres, como se nossos corpos fossem por natureza inferiores. Como não é uma traição não somente às mulheres, como a si mesma?

 
 

hailey kaas e essas outras pessoas tem a legitimidade de falar o que é transfobia ou não, porque elas sofrem com a transfobia, vivenciam diariamente. você não.

Ok, então quem não tem socialização como mulher pra mim também não pode dar pitaco sobre feminismo e o que mulheres necessitam pra fazer sua luta.

E tá, convenhamos, já observamos faz tempo que isso não passa dum argumento de autoridade empregado pela interseccionalidade vale-tudo.

“você sabe? me diga, se possivel, como você poderia saber que não é transfóbica. tive uma curiosidade imensa em saber como uma pessoa que não sofre uma opressão sabe, sem duvidas, que não está oprimindo.

Gente, se me acusam de transfobia pra mim é como nada, é uma acusação tão banalizada pra mim que seria o mesmo que eu me importasse se me chamassem de feminazi ou femista (aliás meu nome é pra quem não sabe, femismo em espanhol, pra verem como to me cagando pro antifeminismo). Esse discurso de transfobia sim que é utilizado pra silenciar e minar o debate, assim como a estratégia retórica da interseccionalidade. Como vou me comover? Se já sei que não passa de mais uma estratégia pra dissolver feminismo em qualquer coisa como o liberalismo faz?

E Hayley Kass é uma agressora que promove hostilidade e perseguição contra mulheres, com cumplicidade de toda gente que tá bitolada por esses discursos queer.

 
 

e meu comentário final sobre tudo isso:

transfeminismo é um movimento profundamente misógino. to me cagando pro queer e pro transfeminismo que não passam de empreitadas teóricas anti-feministas e pra atacar o movimento de mulheres, to de boa da promoção de abusos contra mulheres e lésbicas nas quais essas teorias se baseiam.

 
 

Minha humilde opinião enquanto MULHER CIS E FEMINISTA que não se propõem profética nem dona da verdade, apenas elucubrando sobre minhas vivências e as minhas vivências no mundo através do lugar que ocupo de mulher e feminista e todo o peso que isso traz, lá vai…
ps: creio que esse espaço prever a construção de ideias, o debate e a não a perpetuação da violência, por isso não quero e nem vou defender o que acredito violentando outrxs!

“Isso é gênero. Machos não vão sofrer essa assignação, somente as fêmeas sofrem a assignação de mulher que as identifica dentro dessa categoria, e a classificação é genital sim, porque o Patriarcado declara uma guerra contra esses corpos específicos.”
O patriarcado declara uma guerra contra corpos específicos, é exatamente isso que está descrito nesse texto: we.riseup.net/radfem/meu-feminismo-ser%.... É uma guerra declarada contra corpos e não diretamente contra quem tem buceta, mas contra corpos que representam a feminilidade. Obviamente, o fato de uma pessoa nascer com um pênis lhe dá privilégios, mas esses privilégios são retirados ou melhor são destituídos dessas pessoas quando estas passam a negar o que tem no meio das pernas e a ser e se colocar enquanto um sujeito feminino no mundo. A partir dai não importa, você pode ter 50 paus no meio das pernas, enquanto sujeito você não vale nada por que não honrou esse privilégio (de ter pau) que deus lhe deu e quis ser aquilo que a sociedade abomina: você escolheu ser mulher. E ai, meu bem, você passa a sofrer represálias semelhantes, e muitas vezes piores, a nós que nascemos com uma buceta. Na imensa maioria das vezes as pessoas trans e sobretudo, as mulheres trans, são submetidas a violências inimagináveis por que: primeiro negaram o privilegio divino de ter pau e insistituiram-se enquanto a representação de lúcifer na terra e segundo por que na cabeça sebosa dessa sociedade racista, misógina, binarista e transfóbica, não podem haver conflitos corporais ou diversidades de expressão corporal e colocação no mundo, não dá pra ter um pau no meio das pernas e se colocar enquanto mulher no mundo, não conseguem aceitar isso, a pessoa trans passa a representar não mais o gênero humano, passa a ser uma aberração, uma coisa.
Me digam o que é isso se não violência? O discurso patriarcal, sexista, misógino que bate na cara e trata como lixo a mulher cis pelo simples fato dela ser mulher com buceta e com esta se identificar, agride com a mesma força ou até pior a mulher trans. A base do discurso é a mesma, é a violência machulenta contra as representações do ser mulher e do feminino na sociedade. É uma violência contra corpos feminilizados.
Voltando ao que eu disse, concordo com o ponto de que o nascer mulher, com uma buceta, já coloca a nós mulheres cis em uma relação desigual desde o nascimento e que os nascidos com pênis largam na frente nesse caso, mas queridãn, isso aqui não é uma maratona das opressões, quem é mais e quem menos oprimida do que eu, ninguém vai ganhar a medalha da mais oprimida, isso é ridículo, não agrega e não fortalece a luta contra o machismo.
Pra mim não importa como se deu o começo, não dá para traçar o destino da pessoa pelo o que ela tem no meio das pernas, somente, quero lidar com sujeitxs humanos constituídos enquanto tais a partir de suas representações sociais, como se colocam no mundo! Se existem companheiras trans que padecem das mesmas violências que eu, mulher, cis, feminista, por que irei segregá-la ou julgá-la negando acolhimento dentro do feminismo? O feminismo está ai para servir de abrigo ideológico e prático a todas nós, figuras femininas que no mundo vivemos, para criarmos resistências contra o sistema capitalista, machista, racista e opressor. O argumento “radical” é frágil por que prega um único feminismo, aquele feminismo embocetado, o feminismo que quer se afirmar a partir exatamente do que o próprio feminismo se colocar contra:a essencialização biológica, contra o carimbo na testa de mulher logo ao primeiro choro ao nascer e a favor da construção e desconstrução dessas ideias opressivas e opressoras. O Feminismo é plural e se quer plural para que nenhuma de nós se sinta desabrigada e sozinha, para que saibamos que juntas podemos (re) construir outras vivências e cotidianos.
O discurso de ódio e de segregação que as “feministas radicais” propõem pra mim são incompatíveis com a própria ideia do que é feminismo, esse discurso cai nas teias da violência machista e misógina exatamente como o sistema quer, como os machulentos querem. A nossa desunião, as nossas brigas internas, e a continuidade da essencialização das vidas e dos corpos, o nosso esfacelamento para que eles continuem a reinar.
Por fim gostaria de dizer que prego a autorganização de mulheres, mas que nessa categoria caibam milhares de mulheres. Por muito tempo o feminismo foi branco, classe média e heterossexual e eu não quero que esse padrão continue a existir. Que as trans façam o que as companheiras negras fizeram na segunda onda do feminismo e o que as companheiras lésbicas trazem mais recentemente. Que reivindiquem o espaço para si por que a elas também pertence e que nós saberemos a hora de nos separarmos quando as experiências precisem ser trocadas de maneira mais “uniforme”. A mulher branca não sente o que a negra passa assim com a cis não compreende o que a trans passa.
Se para “fazer valer o MEU feminismo” eu estou violentando a outras mulheres há alguma coisa muito errada com a ideia que se criou sobre os feminismos enquanto ideologias de libertação e não perpetuação de opressão!

 
 

Minha humilde opinião enquanto MULHER CIS E FEMINISTA que não se propõem profética nem dona da verdade, apenas elucubrando sobre minhas vivências e as minhas vivências no mundo através do lugar que ocupo de mulher e feminista e todo o peso que isso traz, lá vai…
ps: creio que esse espaço prever a construção de ideias, o debate e a não a perpetuação da violência, por isso não quero e nem vou defender o que acredito violentando outrxs!

“Isso é gênero. Machos não vão sofrer essa assignação, somente as fêmeas sofrem a assignação de mulher que as identifica dentro dessa categoria, e a classificação é genital sim, porque o Patriarcado declara uma guerra contra esses corpos específicos.”
O patriarcado declara uma guerra contra corpos específicos, é exatamente isso que está descrito nesse texto: we.riseup.net/radfem/meu-feminismo-ser%.... É uma guerra declarada contra corpos e não diretamente contra quem tem buceta, mas contra corpos que representam a feminilidade. Obviamente, o fato de uma pessoa nascer com um pênis lhe dá privilégios, mas esses privilégios são retirados ou melhor são destituídos dessas pessoas quando estas passam a negar o que tem no meio das pernas e a ser e se colocar enquanto um sujeito feminino no mundo. A partir dai não importa, você pode ter 50 paus no meio das pernas, enquanto sujeito você não vale nada por que não honrou esse privilégio (de ter pau) que deus lhe deu e quis ser aquilo que a sociedade abomina: você escolheu ser mulher. E ai, meu bem, você passa a sofrer represálias semelhantes, e muitas vezes piores, a nós que nascemos com uma buceta. Na imensa maioria das vezes as pessoas trans e sobretudo, as mulheres trans, são submetidas a violências inimagináveis por que: primeiro negaram o privilegio divino de ter pau e insistituiram-se enquanto a representação de lúcifer na terra e segundo por que na cabeça sebosa dessa sociedade racista, misógina, binarista e transfóbica, não podem haver conflitos corporais ou diversidades de expressão corporal e colocação no mundo, não dá pra ter um pau no meio das pernas e se colocar enquanto mulher no mundo, não conseguem aceitar isso, a pessoa trans passa a representar não mais o gênero humano, passa a ser uma aberração, uma coisa.
Me digam o que é isso se não violência? O discurso patriarcal, sexista, misógino que bate na cara e trata como lixo a mulher cis pelo simples fato dela ser mulher com buceta e com esta se identificar, agride com a mesma força ou até pior a mulher trans. A base do discurso é a mesma, é a violência machulenta contra as representações do ser mulher e do feminino na sociedade. É uma violência contra corpos feminilizados.
Voltando ao que eu disse, concordo com o ponto de que o nascer mulher, com uma buceta, já coloca a nós mulheres cis em uma relação desigual desde o nascimento e que os nascidos com pênis largam na frente nesse caso, mas queridãn, isso aqui não é uma maratona das opressões, quem é mais e quem menos oprimida do que eu, ninguém vai ganhar a medalha da mais oprimida, isso é ridículo, não agrega e não fortalece a luta contra o machismo.
Pra mim não importa como se deu o começo, não dá para traçar o destino da pessoa pelo o que ela tem no meio das pernas, somente, quero lidar com sujeitxs humanos constituídos enquanto tais a partir de suas representações sociais, como se colocam no mundo! Se existem companheiras trans que padecem das mesmas violências que eu, mulher, cis, feminista, por que irei segregá-la ou julgá-la negando acolhimento dentro do feminismo? O feminismo está ai para servir de abrigo ideológico e prático a todas nós, figuras femininas que no mundo vivemos, para criarmos resistências contra o sistema capitalista, machista, racista e opressor. O argumento “radical” é frágil por que prega um único feminismo, aquele feminismo embocetado, o feminismo que quer se afirmar a partir exatamente do que o próprio feminismo se colocar contra:a essencialização biológica, contra o carimbo na testa de mulher logo ao primeiro choro ao nascer e a favor da construção e desconstrução dessas ideias opressivas e opressoras. O Feminismo é plural e se quer plural para que nenhuma de nós se sinta desabrigada e sozinha, para que saibamos que juntas podemos (re) construir outras vivências e cotidianos.
O discurso de ódio e de segregação que as “feministas radicais” propõem pra mim são incompatíveis com a própria ideia do que é feminismo, esse discurso cai nas teias da violência machista e misógina exatamente como o sistema quer, como os machulentos querem. A nossa desunião, as nossas brigas internas, e a continuidade da essencialização das vidas e dos corpos, o nosso esfacelamento para que eles continuem a reinar.
Por fim gostaria de dizer que prego a autorganização de mulheres, mas que nessa categoria caibam milhares de mulheres. Por muito tempo o feminismo foi branco, classe média e heterossexual e eu não quero que esse padrão continue a existir. Que as trans façam o que as companheiras negras fizeram na segunda onda do feminismo e o que as companheiras lésbicas trazem mais recentemente. Que reivindiquem o espaço para si por que a elas também pertence e que nós saberemos a hora de nos separarmos quando as experiências precisem ser trocadas de maneira mais “uniforme”. A mulher branca não sente o que a negra passa assim com a cis não compreende o que a trans passa.
Se para “fazer valer o MEU feminismo” eu estou violentando a outras mulheres há alguma coisa muito errada com a ideia que se criou sobre os feminismos enquanto ideologias de libertação e não perpetuação de opressão!

 
 

Mavra, você fala em binarismo de gênero, mas não consegue acreditar em cissexismo e cistema, isso pra mim é uma contradição em termos.

Como não existe um ‘cistema’ se exatamente por conta do binarismo que os corpos são designados para exercerem um papel de gênero? Por si só a modificação corporal não é problemática, afinal o heterocapitalismo a partir do capital farmacêutico, enfatiza o binarismo, na realização de mulheres cada vez mais objetos e homens mais imponentes. É exatamente a imutabilidade de transgressão sexual uma premissa patriarcal, onde se entende a superioridade masculina e inferioridade feminina como natural e imutável, baseadas, claro, em valores patriarcais.

Cissexismo é um conceito transfeminista. Impossível para uma racionalidade que não vê os riscos da transgressão sexual e para pessoas que estão de acordo com a conformação compulsória dos seus corpos e seus gêneros compreenderem a violência que elas podem sofrer caso transgridam. Na realidade é também a coação pela violência o artifício usado para conformá-las em seus corpos e nos gêneros designados. Não reconhecer que existe privilégio na colaboração da convencionalidade imposta pelo binarismo é não reconhecer/ou não saber que estas pessoas são consideradas com distúrbios mentais, que as mulheres trans são condicionadas à uma prostituição compulsória, ainda crianças, uma vez que são excluídas de qualquer espaço de vida social; que homens trans constantemente sofrem estupros corretivos; que as mulheres trans exterminadas são majoritariamente queimadas e esquartejadas, pq não basta matá-las deve-se apagar tudo que ela representa; que travestis são indissociáveis da prostituição e por isso são traficadas, mortas e invisibilizadas por estarem na margem.

Se não existe cisexismo, porque existe transfobia?

Por favor, não vamos confundir as coisas, faço mais uma vez um apelo para este debate não virar um duelo de angústias, tenho total acordo com você sobre todos estes exemplos que você trás sobre a violência ao corpo com vagina, mas isto não é biológico é cultural e é político. é a concepção sobre o ser mulher que está sendo exterminado, as mutilações cometidas ao corpo da mulher é a partir de valores político-culturais, é a misoginia que está sendo expressa. Tenho absolutamente acordo com você que o nascer mulher automaticamente te coloca em situações sociais extremamente violentadoras, que a educação para as meninas é mais violenta e suas infâncias são muito mais aprisionadas. Mas reconhecer isto não me faz ignorar o estupro de crianças afeminadas e de meninas trans. Uma pitoca não resguarda os estupros e abusos sexuais de padres, uma pitoca não impede que crianças afeminadas sejam estupradas, uma pitoca não impede que meninas trans sejam expulsas de suas casas e estupradas nas ruas, uma pitoca não impede o esquartejamento de mulheres trans, uma pitoca não impede que o primeiro ambiente de sociabilidade de mulheres trans seja a esquina do programa. uma pitoca não impede que a expectativa de vida das travestis seja de 35 anos.

Gostaria de ver o cartaz com a Viviane Vê, mas seus argumentos já são claros, combater o cisexismo não é ser anti pessoas cis. acho que temos acordo sobre a imposição de um gênero e uma sexualidade a partir de um corpo não? isto é cissexismo. Não é culpabilizar mulheres por ter nascidos mulheres, mulheres são vítimas do patriarcado poxa, como culpabilizá-las? mas não podemos negar, que mesmo as mulheres cis sendo cotidianamente violentadas pelo patriarcado, elas ocupam muito mais espaços de poder (universidades, Estado) são muito mais legitimadas (apesar de toda deslegitimação patriarcal), são muito mais empoderadas (apesar de toda imposição de inferioridade patriarcal), tem muito mais oportunidades (apesar de toda repulsa imposta pelo patriarcado) que as pessoas trans, por exemplo.

Acho que o texto de hembrista tem a ver sim com matar pessoas trans: … Não peça pra eu divergir o foco do feminismo que é sobre as mulheres, e nenhum outro grupo mais, e pela destruição desses grupos enquanto categorias políticas para a liberdade das fêmeas serem fêmeas. destruir grupos enquanto categoria política, na minha compreensão é extermínio. como existir nesta mundo hierárquico dominado pela racionalidade ocidental sem ser uma categoria política? talvez este seja um discurso apenas dela, mas sinceramente não sei muito bem como separar o feminismo radical disto que está aí! Como vejo tua reflexão na imagem da Viviane um exagero, não seria surpreendente que, por passionalidade, eu estivesse agindo da mesma forma.

É complicado, alegar falta de aprofundamento da teoria, na real é muito arrogante.
Vejo a resistência ao termo transfóbico da mesma forma que machos dizem que não são machistas e nem misóginos.

É impossível nesta sociedade não se reproduzir sexismo, racismo, elitismo. Não é pq estamos numa luta que estamos blindadas à reproduções da hegemonia. Diferenças teóricas tem localização política, e o que estamos dizendo é que a localização desta teoria violenta pessoas trans. Se recusar a se reconhecer reproduzindo opressão é naturalizar a violência.

 
 

Galera, transfobia existe. Mas essa oposição cis/trans é uma falsa dicotomia.

Transfobia existe porque repulsa e ódio a pessoas que não se conformam aos padrões de gênero existem, e porque homofobia existe. A sociedade em geral, a estrutura do patriarcado, o cuzão médio na rua, essas pessoas na maioria das vezes sequer sabem o que é transexualidade. Acham que é tudo “viadagem”. Ou seja, transfobia existe porque existe uma pressão para que tanto homens quanto mulheres reproduzam o seu “papel correto” dentro da hierarquia de gênero. Não acho correto dizer que existe um “cistema” porque isso leva àquela idéia de que mulheres tem privilégio por nascerem com boceta, e isso simplesmente não é verdade. “Cis” é um termo que joga homens e mulheres no mesmo balaio, varre o privilégio masculino pra baixo do tapete e ignora os efeitos da socialização diferenciada por sexo. É uma maneira incorreta e danosa de analisar a situação.

E defender Hailey é foda né? Uma pessoa que é pró-pornografia e pró-prostituição como Hailey sequer devia entrar em discussões sobre o que é misógino ou não.

 
 

hembrista, seu discurso é egóico, violento, arrogante e excludente.
em todos os infelizes debates que travei com você sua tática de menosprezo, desrespeito e deboche se faz presente com o único objetivo de violentar quem está numa posição contrária a sua! você me violenta humilhantemente com seu discurso em mais um debate, concluo que este é seu objetivo.

você incapaz de expor sua opinião e defender suas ideias sem nelas proferir agressões pautadas apenas nas suas convicções. você é unicista, homogênia e universalista. não por acaso as mesmas características do projeto político patriarcal. seus argumentos me lembram stalin e marx e suas imbecilidades estruturais pautadas numa visão materialista e purista.

justificar a recusa de pessoas que possuem vagina ao corpo feminino unicamente pela ideia de superioridade do corpo masculino é repudiar a liberdade e poder de decisão da mulher, impedir a possibilidade de transformação feminina e acima de tudo não considerar a existências de corpos para além do binarismo de gênero, portanto uma ideia misógina. Não querer ter mamas não necessariamente é a partir de uma pagação de pau pro peitoral masculino. Claro, que não podemos ser ingênuas e não levar em consideração que devido as relações de poder, este processo sofra influências da hegemonia, mas sugerir que esta recusa está unicamente submissa aos valores patriarcais é submestimar a complexidade humana e sobretudo feminina, além de colocar nos mesmos termos conservadores de marx que a revolução se dará apenas pela organização burocrática, centralista e hierarquizada da classe trabalhadora.

sua fala enfatiza que seu feminismo está fechado para homens trans pior, que seu feminismo força a aceitação dos corpos dos homens trans, algo por sinal, que o patriarcado faz todo dia.

o que você propõe não é a aceitação dos corpos, é a conformação dos corpos, uma premissa ditatorial, estática, total e patriarcal. sem possibilidades de desconstrução e modificação daquilo que nós foi dado pela natureza. não tenho paciência para essa sua bitolação purista.

não sou eu que estou colocando tudo no mesmo saco da diversidade. É você que tão mesquinha que só vê misoginia em quem tem vagina. Quer você queira ou não, existem mulheres de pênis e homens de vagina e o mais bárbaro ainda é que existe homens com pinto e vagina e mulheres com pinto e vagina e mesmo que você extermine todes eles ainda continuaram existindo.

As teorias que fundamentam a luta a partir da dissidência sexual não são sobre indivíduos, são sobre sistema de poder, estrutura e suas tecnologias e sistemas de controle. Liberal seria se este argumento não reconhecesse a especificidade de cada opressão, se não reconhecesse o separatismo como tática fundamental para a construção de realidade antisistêmicas e justificasse a obtenção dos privilégios pelo mérito. Liberal seria se reivindicássemos a emancipação sexual dentro do sistema capitalista. Liberal seria disputar com a heterossexualidade espaço no patriarcado e não se empenhar para destruí-lo. Liberal seria acreditar na regeneração de machos tanto quanto acreditar na humanização do capital.

Não confundir respeito a especifidade de lutas, seus espaços e suas teorias com impossibilidade de aliança e falta de solidariedade para outras vítimas de violência misógina. Entender a violência misógina apenas como violência a vagina é não pensar na raiz das coisas e deveras superficial, como você impressionante nos acusa. A misoginia abrange a ideia de feminino e não apenas um corpo. Também é importante dizer que misoginia não é aquilo que você não concorda, a tempos você tem esta prática, muito comum as tem tudo da classe média, não acostumadas a serem contrariadas e discordadas, servidos por empregadas domésticas e incapazes de perceber algo além do próprio umbigo.

Isto é concebível à condição de se evitar duas armadilhas conceituais e políticas, duas
leituras (equivocadas mas possíveis) de Foucault. Deve-se evitar a segregação do espaço
político que converteria as multidões queer numa espécie de margem ou de reserva de
transgressão. Não se deve cair na armadilha da leitura liberal ou neo-conservadora de
Foucault que levaria a conceber as multidões queer como algo oposto às estratégia
identitárias, tomando a multidão como uma acumulação de indivíduos soberanos e iguais
perante a lei, sexualmente irredutíveis, proprietários de seus corpos e que reivindicariam
seu direito inalienável ao prazer. A primeira leitura tende a uma apropriação da potência
política dos anormais numa ótica de progresso, a segunda silencia os privilégios da
maioria e da normalidade (hetero)sexual, que não reconhece que é uma identidade
dominante. Tendo isso em conta, os corpos já não são dóceis. “Des-identificação” (para
retomar a formulação de De Laurentis), identificações estratégicas, reconversão das
tecnologias do corpo e desontologização do sujeito da política sexual, estas são algumas
das estratégias políticas das multidões queer.”

Multidões Queer,
Beatriz Preciado

Ainda bem que a mesma teórica que você cita como misógina-mor (e que você deturpa tudo o que ela diz,) prevê a apropriação conservadora e rasteira das reflexões pós-modernas sobre sexualidade. Agir em micropolítica não é viver em cubos de grupo de amigues numa bolha pornográfica como você sugere em outros artigos seus. É pensar a construção de práticas antisitêmicas a partir de inciativas menores e locais objetivando o desmantelamento das estruturas, realizando a propagação e ilustração a partir de exemplos concretos de outras possibilidades possíveis. Sem ter a pretensão de aglutinar todes num bloco homogêneo mas sim incentivar a explosão de vários grupos, atuando como vírus, disseminando a potência.

Para uma pessoa transfóbica, esta violência está longe de não ser nada, é diversão, hobbie, é esporte! Para cada cúmplice de violência cissexista uma nova misoginia. Não existe neutralidade, se não se solidariza com as violências que as pessoas trans sofrem, se acusa-as de liberais, se gritam com alto e bom som que não existe espaço no feminismo para as violências que sofrem. São cúmplices desta violência e colaboradoras do patriarcado. Se o discurso de transfobia é estratégia para minar o debate, seu discurso de misoginia aplicado para coisas que você não concorda é uma estratégia elitista para conseguir a direção teórica do que você quer. Isto sim, nada mais liberal.

Você que promove hostilidade e arrasa com a estabilidade emocional das pessoas. Não estou mais disponível para debates com esta onda de deslegitimação, violência e arrogância que você profere. E para meu bem estar mental, nossos diálogos se encerram nesta página.

 
 

Não acho correto dizer que existe um “cistema” porque isso leva àquela idéia de que mulheres tem privilégio por nascerem com boceta

ninguém diz que nascer com vagina, (esta palavra boceta, é nojenta) é privilégio. nenhuma crítica transfeminista diz que nascer com orgão sexual é privilégio. isso é uma bobagem! o privilégio é obtido quando se assume a imposição de gênero, sexo e sexualidade perante o corpo! cisgeneridade e cissexualidade esta conectada com a passabilidade, não é deixar de usar os atributos designados para cada gênero/sexo é ser confundida como um gênero oposto e por conta desta ‘transgressão’ sofre violência

 
 

boceta é nojento?

Entendi tudo.

vagina é um constructo patriarcal, pra definir vulvas como buracos penetráveis por penis, e coagir mulheres no intercurso sexual obrigatório.

 
 

Cara, vc tá agredindo a hembrista de um monte de nomes aí, pelo simples fato de que ela não acredita que o feminismo é um movimento para todos os corpos em inconformidade de gênero e ainda por cima coloca mulheres nomeadas por você de “cis” no mesmo patamar dos homens, porque acreditas que elas estão em conformidade com o gênero imposto, mas não parou pra cogitar que a propria conformidade dessas mulheres nomeadas por ti de “cis” não faz parte de um mecanismo de defesa de mulheres que já estão sendo oprimidas pelos mais variados motivos? É muito agressivo e culpabilizador coloca-las no papel de culpadas por elas se adequarem a algo que lhes é imposto. Elas sabem, nós sabemos desde crianças que quando saimos um pouco do padrão somos punidas severamente e ainda assim nenhuma mulher nunca será aquilo que o patriarcado quer, estaremos sempre em não conformidade com as regras, sejam por quais motivos forem.

Sobre homens em não conformidade de gênero, é triste que homens e crianças que saiam dos padrões de gênero impostos tenham que sofrer por terem seus corpos associados a feminilidade e tudo que possui relação com mulheres é desprezado. Entretanto suas pautas já possuem espaço dentro do movimento trans, pois apesar de suas inconformidades de gênero e das opressões que sofrem por causa disso continuam sendo homens e continuam sendo misóginos, o que podemos perceber pela forma invasiva que tentam adentrar no feminismo.

 
 

“o que podemos perceber pela forma invasiva que tentam adentrar no feminismo.”

bete teve paciência, calma, para escrever os textos e tentar dialogar. vocês não leram o que bete escreveu.

Apesar de bete já ter falado: o movimento trans não se esquece da opressão que mulheres com vagina sofrem, estaremos aqui sempre para apoiar na luta e em suas pautas mais específicas – todas que não inflingirem nosso próprio movimento.
Mas vocês custam a não ler, relevar, passar por cima do que já foi dito. Enquanto vocês vão as raízes, pessoas trans são compulsoriamente jogadas pra fora de casa e pra prostituição e pra morte. E a única coisa que pedimos, que é não sofrer preconceito, que é poder trocar os documentos, que é poder ser chamada do jeito que desejar, que é poder usar um banheiro, que é poder se identificar com o gênero/sexo que tem, que é poder ter o direito de viver em paz; tudo isso fica atrás da catraca construída por pessoas cis, inclusive vocês: transfobia.

O dia em que o movimento trans se tornar algo que possa inviabilizar a luta das mulheres cis, terei mil críticas. Mas não acho que isso seja possível. Não acho que a luta trans, que tem que se ferrar dentro do mov. GGGG, dentro do feminismo, dentro do cistema transfóbico, dentro do estado e do capitalismo (pessoas trans vivem pouco ou vivem na miséria, em sua ENORME maioria), tem alguma capacidade de ser ameaça.

(edit: não tinha viso que a discussão tinha sido compartilhada em mais grupos, inclusive no de feminismo radical)

 
 

“A pergunta é: qual é o propósito de vocês estarem aqui? Isso é uma invasão de um espaço que deveria ser seguro para pessoas trans, e daí proporcionar discussões que sejam interessantes sobre a transgeneridade.”

Também me pegunto o mesmo.
Estou aqui nesse grupo para aprender sobre transfeminismo, transgêneros e tudo que a isso se associe, enquanto mulher cis e feminista.
Se for para isso virar uma arena de guerra com discursos egocêntricos e abusivos não me interessa.
Muito menos a agressão entre mulheres, trans, bichas, entre nós.
Violência de gênero e segregação não tô afim!

 
 

Só lembrando, essa discussão foi compartilhada na sua criação com os seguintes grupos:
Transfeminismo BR
La.M.A. – Laboratório de Mídias Autônomas
Editora Deriva
Editora Subta
Translesbichas contra o Heterocapitalismo
grupa combativa antimachista e antisexista
feminismo radical

 
 

é que eu não acredito em binarismo de gênero Bete. eu acredito em hierarquia de gênero. eu não tenho acordo com a linguagem e a forma da teoria queer porque ela equipara o “feminino” com o “masculino” e isso não dá certo poque invisibiliza a opressão que as mulheres sofrem. o gênero não é binário, é hierárquico e o gênero masculino se encontra no topo.

 
 

este blog aqui é especialmente escrito por feministas radicais negras e a reivindicar o feminismo radical:

“Nós, feministas negras e radicais, existimos. Entendemos que o feminismo radical pode abrigar perfeitamente nossas especificidades, assim como acreditamos que as mulheres compõe uma classe, um povo que compartilha demandas, dores e características que lhes são universais. Assim como não há dificuldade em entender que de acordo a teoria Marxista o proletariado compõe uma classe, e que sobre os negros e negras proletários incidem opressões estruturais específicas, entendemos que as mulheres também compõe uma classe devido ao gênero e que as negras e as periféricas estão colocadas uma outra carga de opressão. "
piraodasmulheres.wordpress.com

 
 

“o privilégio é obtido quando se assume a imposição de gênero, sexo e sexualidade perante o corpo!”
eu não aceito a imposição de gênero. eu tenho buceta e não aceito nem assumo submissão, delikadeza, sentimentalismo entre outras “karacterístikas femininas” que são impostas ao gênero feminino (aliás, acho que o gênero já é uma imposição em si)… e kontinuo me reivindicando mulher simplesmente pq tenho konsciência de que todas as opressões machistas, sexistas e misóginas que sofri e sofro se dão/deram por konta da marginalidade que meus genitais me conferem.
konkordo totalmente que todos os CORPOS feminilizados (seja por terem nascido com buceta ou por identificarem-se com konstruções do gênero feminino) são marginalizados e sofrem violência patriarcal, mas também não suporto quando vêem com papo de “konformidade de gênero” porque enkaro, enquanto mulher, assim: “se vc nasceu com buceta e não quer transicionar, então vc está assumindo todos os papéis opressores de gênero conscientemente.” fora que acho óbvio que se somos feministas é porque não nos conformamos MESMO com esses papéis, kaso kontrário estaríamos achando tudo ok e não estaríamos nos preocupando com a deskonstrução deles.

 
 

Sinceramente a expressão “conformidade de gênero” também me deixa extremamente desconfortável… E me parece inadequada.

 
   

Bem, estou com algum tempo livre então vejamos se posso contribuir com algo para o debate…
Eu sinceramente não sei mto sobre o tema, e se alguem quiser me acusar de falta de aprofundamento na teoria, acho que não vou ter mto a dizer a respeito porque não sei mesmo grande coisa dxs teóricxs queer e também não sei mta coisa de teoria radfem. Mas também não acredito que o feminismo tem que estar baseado no conhecimento profundo de textos acadêmicos, pelo contrário algumas das coisas mais legais que vi em lutas e reflexões estavam bem longe da academia. Sem desmerecer xs academicxs, mas o argumento de “vc não conhece o bastante da teoria a ou b” não me parece mto legal porque esse aprofundamento teórico tb me parece que parte de umas experiencias mto concretas de vida que não são inclusivas para todxs.
Me incomoda mto quando as pessoas negam a opressão vivida pelas pessoas trans porque ela está diante dos nossos olhos em fatos inegáveis. Pessoas trans sofrem brutalidades todos os dias.
Mas também me incomoda o fato de que muitas vezes eu me sinto extremamente desconfortável para ter discussões que me levem a entender melhor o tema porque, em parte pelo evidente silenciamento das pessoas trans muitas de nós não temos a menor ideia do que são as experiencias de vida e perspectivas de vocês e para que possamos entender melhor, é preciso que se estabeleça um diálogo. Sem diálogo, não podemos ser aliadxs umxs dxs outrxs. Eu não quero reproduzir transfobia mas sei que isso é inevitável porque fomos educadas numa sociedade transfóbica. Isso não significa que temos q ser condescendentes com xs compas que reproduzem opressões nem que as pessoas trans que se sintam atingidas pela posição de outras compas tem que reagir com calma e paciência sempre. Isso é algo que eu não exijo de mim mesma e por isso não me parece certo exigir das compas.
Por outro lado, tem coisas neste debate daqui e em todos os debates que já presenciei sobre o tema que realmente eu não concordo, mesmo q eu me proponha abertura para ouvir as perspectivas dxs transfeministxs. Eu não concordo com a ideia do “se sentir mulher/homem”, porque como algumas pessoas expressaram me parece que essas categorias são construções sociais e não “fatos”. Tanto é que o que é atribuído a cada corpo muda muito em diferentes sociedades e momentos históricos. Me parece que dizer que essas categorias são construídas é um argumento bastante sólido, no entanto nos debates transfeministas eu sinto que esse argumento chega num embate que não me convence. Então eu realmente não entendo o que quer dizer o “se sentir mulher/homem”, mas acabo não insistindo na discussão sobre esse ponto porque fico pensando que vou ser tratada de forma hostil. Não entendo porque não seja possível conciliar de alguma forma um argumento que tem todo o sentido na minha experiencia de vida – de pessoa que sofre violencia constante do machismo – com algo que tenha sentido na experiencia de vida de pessoas que sofrem uma violencia diferente por parte do machismo.
É algo parecido que faz com que eu não concorde quando algumas radfems insistem que mulheres trans são homens porque tem pau (o que nem sempre é verdade porque existem várias formas de existir em um corpo trans pelo q entendo). Se vamos argumentar que mulher/homem são categorias construidas me parece que são também passiveis de desconstrução. Então para mim não tem muito sentido negar as experiencias das pessoas trans. Uma das criticas que vejo muito ao feminismo de 2a onda (a base do feminismo radical), é que a análise da socialização de género muitas vezes leva a substituir o determinismo biológico pelo determinismo social. Ou seja, rebater o argumento de “as mulheres são inferiores porque o tamanho do cérebro blabla” por um outro que diz “pessoas nascidas com penis serão sempre machos porque a socialização assim determina”. A socialização, eu concordo, tem um peso enorme, mas precisamos ver também em que medida há sempre coisas que não encaixam, há sempre um espaço de atuação da pessoa, de criatividade e etc. Eu penso nisso como uma orquestra: o que você vai tocar depende das condições que foram te dadas (que instrumentos vc tem, as notas musicais, etc. – socialização: q lingua vc foi ensinadx, q referencias de genero, etc.), mas dentro desses limites a quantidade de músicas que vocẽ pode tocar é imensa (agencia individual – como vc usa os elementos culturais q aprendeu). Em uma ou outra medida todo mundo sai do script originalmente pensado para cada genero. Em certa medida todxs xs feministxs saímos do script em algumas coisas e permanecemos em outras. há feministas que saem do script desafiando a normativa sexual mas reproduzem esse script na hora de “domesticar” a mulheres que, como eu e parece que tb a mugra, não somos (e eu desisti de querer ser) delicadinhas. Na última coletiva feminista que participei eu me senti tão constantemente atacada por não ser uma pessoa delicada que com o passar dos meses isso me fragilizou, me enfraqueceu, me silenciou, e foi algo que senti como extremamente violento. Não ser doce e não ter fala mansa para mim significa mtas coisas e é uma forma de não conformidade de gênero, também. Porque sai do script do que uma mulher deveria ser e me expõe a uma série de ações disciplinárias constantes por parte da sociedade. Por outro lado tem uma série de coisas do machismo que eu me pego reproduzindo.
Me pergunto se também as pessoas trans não se conformam igualmente com alguns elementos do genero enquanto vivem em desconformidade com outros. Se assumir como trans sem sombra de duvida foge do script de genero. Mas a forma como é entendida e assumida essa identidade de genero por vezes conforma com outros elementos do script. Formas de vestir, formas de entender o corpo feminino. Desculpem se estou falando merda mas eu vejo às vezes pessoas trans que seguem todo um ritual de beleza que o feminismo cis critica como opressor e escravizador. Isso não significa q xs trans estejam erradas por aderir ao ritual nem q o feminismo das mulheres cis não esteja certo na sua crítica. Para mim significa que todo mundo se conforma com algumas coisas, se apropria de outras para mudar o sentido, e transgride em outras. E isso é necessário porque da noite para o dia não conseguimos nem imaginar como seria um mundo 100% transgressor. Acima alguem falou por exemplo q a palavra buceta é nojenta. Eu não acho, acho importante que possamos nos apropriar dessa palavra para desafiar a vergonha que somos ensinadas a sentir dos nossos corpos. Se apropriar dessa palavra é importante para algumas mulheres e são elas que devem decidir isso no seu equilibrio particular entre transgressão e conformidade.
Bem, tenho mais coisas para dizer mas como o texto já ficou grande, vou concluindo… Acho que um bom guia geral é pensar que todxs temos direito a existir como somos e isso significa que pessoas trans tem todo direito a existir enquanto trans. Isso para mim vai além do posicionamento teórico de cada uma. querer suprimir um grupo porque sua existencia te incomoda me parece alo mto violento, extremamente violento. A questão é: ninguem tem que entender xs outrxs, ninguem me deve satisfações pela forma como existe no mundo. Respeitar as distintas formas de existir não tem que depender de que entendamos essas distintas formas de existir porque nunca vamos entende-las completamente. As pessoas existem porque existem simplesmente, não para ser figurantes na fantasia que cada uma monta na sua cabeça. Isso significa para mim que nenhuma divergencia teórica justifica silenciar pessoas trans – nem silenciar as rads -.
Bem, espero ter conseguido adicionar alguns pontos sem ofender ninguem!