Desafios para o feminismo ativista latinoamericano

por Norma Mongrovejo, a lista ‘feministas autonomas’

Talvez dois dos grandes desafios que vive o feminismo ativista latinoamericano sejam:

1) Fazer um diálogo teórico e prático (compreendendo os dois como indissociáveis) entre feminismos/socialismos/marxismos/autonomia/estudos culturais e armar um bloco de feminismo ativista de esquerda 1. Para isso se está pensando e tratando atualmente de amarrar diálogos cruzados como um projeto político.

2) Fazer uma auto-crítica radical a nosotras feministas.

É sobre este segundo ponto que se trata este texto.

A ferramenta proposta para esta auto-crítica radical é a ruptura com o politicamente correto entre as feministas. Que isso significa? Discutir os tabus entre as feministas, o que muitas pensamos mas não dizemos, o que nos impede de nos auto-criticar. Desta maneira, ficamos com a imagem de feministas super-poderosas que dão palestras, oficinas para outras mujeres (observar as relações de poder, as hierarquias), mas entre as feministas não se está discutindo a sério os problemas de nós mesmas. É preciso dizer o não-dito porque ele nos posibilitará ir mais além do nível do ‘eu me quero, eu olho e conheço minha vagina, meus prazeres’. Reconhecer que nos conflituamos, que podemos sentir inveja de outras mulheres, que temos que lutar contra um machismo interno, não significa deixar de ser feminista, pode ser um grande passo para sermos mais libertárias pois esconder nossos problemas não nos está ajudando a avançar porque eles muitas vezes ficam no nível da auto-censura e o que não se mostra ao nível do discurso não existe e ao mesmo tempo não pode ser trabalhado. O novo do problema é que em teoria todas somos subversivas em potencial, isto é, teoricamente não temos razões para trabalhar em nós mesmas, dito de outro modo, estamos deixando para a teoria o que não podemos fazer na prática. No entanto, na prática sabemos que não é assim. É preciso voltar a re pensar-nos desde a prática cotidiana por exemplo, com a ajuda de uma prática-teórica que rompa o que nos impede de nos re-questionar.

Alguns tabus a serem re-pensados desde esta ferramenta:

1) Re-pensar o tema da misoginia entre ls feministas. É possível falar de misoginia entre mulheres, entre feministas ou a estamos confundindo com a competição?

2) Re-pensar o tema do ressentimiento. Muitas feministas somos ressentidas com a vida, com os hombres 2, com as outras mulheres. É necessário reconhecer e trabalhar o tema. Exemplo: que tão ressentida é a prática subversiva de uma lesbiana que não come banana porque sua forma é fálica? 3 Que tão ressentidas somos as mulheres que não reconhecemos que gostamos ser penetradas? 4

Quão ressentidas somos as feministas que tivemos diferenças ideológicas, nos consideramos inimigas e o feminismo um campo de batalha?

Que tão ressentidas somos as lesbianas com a ex-companheira que nos deixou por outra e sobretudo com esta outra?

3) Re-questionar o tema da vitimização. Paralelo a este discurso ressentido há o discurso de vítimas. Uma coisa é reconhecer que somos vítimas dos patriarcados, outra é que este fato nos impeça de atuar e se torne uma desculpa para a imobilidade.

Conheço lesbianas que sentem haver sido vítimas de ataques de outras e a queixa é constante, também conheço lesbianas feministas e heterofeministas que não tiveram nenhuma dúvida em devastar a suas detratoras até destruí-las e reduzí-las a nada e levar elas à imobilidade, é muito comum converter-nos em juízas que vigiam, sentenciam e castigam.

4) Questionar o tema da quase lesbo-ditadura. Está conectado ao tema da vitimização. Uma coisa é reconhecer que as lesbianas são minorias, são marginalizadas na sociedade, outra é o risco da reprodução de padrões de dominação com relação às bissexuais, transgeneros, heterossexuais. Tudo isso não impede de assinalar o papel fundamental das teóricas lesbianas no ativismo.

Apresenta riscos considerar o lesbianismo como uma minoria e não como uma postura política porque isso faz perder a dimensão da heterossexualidade como um regime obrigatório e compulsivo.

5) Re-questionar o tema do matriarcado. Quando se critica tão fortemente o patriarcado, muitas caímos no outro lado, isto é, no ‘matriarcado’.5 O ativismo é também re-pensar a reprodução de padrões de dominação.

Acredito que o matriarcado nunca existiu e desejaria que não existisse como um sistema político de dominação. Creio na necessidade de recuperação de uma cultura extraviada das mulheres, incluída a filiação materna, os saberes e historias narradas de mães a filhas.

6) Re-questionar o tema da solidão. Talvez esteja muito associado à vivência do ressentimento, às dificuldades de ser feminista em América Latina. Um exemplo: estar pensando sobre estas idéias na rua e de repente um homem vem e passa a mão no teu traseiro como se ele fosse um móvel. Ali você não teve classe social, nem etnia, nem idade, nem orientação sexual. Você foi uma mulher sozinha com um traseiro.

Gostaria de falar sobre a solidão do ativismo não hegemônico, não institucional, não reconhecido, nem premiado, nem valorado na excelência, na necessidade de criar formas alternativas de socialização para as lesbianas não necessariamente ligadas ao consumo e o álcool, como dizia Karina, organizar díias de campo, comidas coletivas, etc. onde poder trocar, dialogar, conhecer-nos.

7) Questionar o tema da auto-estima. Partir da idéia que temos constantemente que trabalhar nossa auto-estima, nenhuma está terminada, parar de ser a feminista-modelo, isso quer dizer, a feminista-perfeita que chegou ao nível inalcançável. Somos seres humanos, nos sentimos sim inferiores (é preciso voltar a utilizar a palavra, somente porque lutamos contra os essencialismos, os não-binarismos não significa que na prática deixamos de projetar-nos como inferiores, superiores). A questão da inveja e do machismo interiorizado contra outras mulheres entraria também tanto no tema da misoginia como no da auto-estima.

8) Re-questionar o tema da egolatria entre as feministas. Pensar seriamente como o problema do ego se associa ao ativismo. O ego que nos faz falar somente para nós mesmas, em uma endogamia extrema num círculo de iniciadas. Além disso, o ego como a busca do reconhecimento. O desafio é ser mais coletivas sem terminar por apagar a sujeita. Como ser individuas sem ser individualistas, ególatras? Há uma linha muito tênue entre a liberdade, a autoria e o individualismo extremo. As feministas anarquistas nos ensinam muitas vezes que o anonimato em nome de um coletivo pode ser un caminho interessante. Porém, no anonimato extremo se leva à impossibilidade de se fazer ativismo. Qual é a fronteira entre eles? Talvez uma boa medida é atuar pondo sempre ambos em tensão.

O tema da auto-estima e o ego são temas sérios a trabalhar, se bem seja necessário ter uma auto-estima, é difícil contra-pesar o equilíbrio, muitas vezes os egos malogram o trabalho de anos, quando antepomos a primeira pessoa não somente ao expressar-nos, escrever, pensar ou atuar. Eu que falo, meu nome que aparece, minha figura que destaca, minha sombra que brilha, eu que trabalhei, que mereço figurar, que mereço as bolsas, que mereço os prêmios, os louros, que mereço a liderança, assim, primeiro eu. Um pouco de humildade não viria mal, um pouco de grupalidade ou comunidade, colaboraria ao coletivo.

9) Re-questionar as diferenças generacionais. Está relacionado muitas vezes ao ego de ativistas com uma larga trajetória. Reconhecer o problema não é eliminar a importância, a memória destas ativistas e não é pensar que as jovens ativistas estão inventando moda.

Também me parece importante porque quem estamos na docência sabemos que aprendemos muito das estudantes, seus questionamentos e contribuições. Muitas feministas que não fomos as ‘primeiras pioneiras’ sentimos discriminação por não haver estado antes ou não haver chegado a tempo ao clube das jurássicas.

10) Re-questionar a discussão sobre o poliamor/monogamia/poligamia. Reconhecer e analisar, por exemplo, quê tão subversivo é o poliamor, quê tão ideal é; um ideal em este sentido muito similar à monogamia. Muitas não estamos discutindo a reprodução de padrões muito patriarcais no poliamor e de fortíssimas relações de poder porque acreditamos que estamos salvas no título e no estatus de poliamorosas e não pensamos em discutir a fundo tudo isso.

Creio que ao não ser justamente o poliamor um valor social aceito, tem muitos anti-corpos e não acho que seja a salvação das contradições da monogamia. Ao estar imersas em uma sociedade com valores tão arraigados, aquelas que nos atrevemos a sair das regras da monogamia, entramos em um terreno sumamente pantanoso e cheio de contradições, onde seguramente o exercício do poder não está ausente como não o está na monogamia e não o está precisamente porque nosso adestramento e domesticação à monogamia é milenar, de tal maneira que nossos sentimientos e reações estão inevitavelmente condicionados pelo apego e a propriedade. É possível que quem haja logrado uma maior prática em desapego e os limites, seja vista e julgada como mais ’poderosa’. Há muito que trabalhar a este respeito porque a simples comunicação dos códigos do poliamor são difíceis de encarar quando não existiu nunca uma prática poliamorosa ou uma vontade altérica (antiego) “não posso suportar não ser o centro de sua atenção” ou primam os medos a não poder competir contra a terceira, quando na realidade não deveria ser uma relação de competição, senão de soma de corpos, afetos e vontades.

11) Re-questionar o tema da prostitiuição. A contradição de que a luta entre a prostituição como uma luta feminista haja possibilitado a marginalização ainda mais forte das prostitutas. Além disso, é necessário reconhecer que muitas feministas em sua vida sexual gostam de ser tratadas como prostitutas.

É um tema complicado onde creio que seja importante discutir os limites da libertade como auto-determinação, quer dizer, quanta liberdade tiveram estas mulheres para escolher o que são ou quanto de marginação social marginou a tais decisões e o que isso implica ao estabelecer relações de opressão e dominação com seus "cafetões" e seus clientes. 6

12) Re-questionar a intolerância à outras mulheres que se dizem não-feministas. É preciso trabalhar a dificultade de reconhecer que muitas mulheres não têm a opção de ser feministas, mas que existen as que por opção não querem ser.

Creio que seja mais um tema de informação, porque é difícil optar por algo que não conheces e muitas vezes nos encontramos com anti-feministas que não têm idéia do que significa feminismo e que implicou na história das mulheres e por tanto na história delas mesmas.

13) Re-questionar o tema do culto ao corpo. Em teoria nenhuma feminista vive o conflito de fazer dieta, da bulimia, da anorexia, porém o tema está presente porque também vivemos os bombardeios de como devemos ser, como devemos nos vestir, como devemos atuar.

É certo, o dever-ser, está muito relacionado às regras do mercado e do consumo e há muitas feministas que não questionaram ainda como esta relação nos converte em sujeitos colonizados.

14) Re-questionar os pontos de fuga. É preciso reconhecer que a muitas não lhes vai interessar este debate. O melhor sentido deste não-interesse é que elas serão o ponto de fuga nele. O ponto de fuga é muito interessante principalmente porque pode ser não-arrogante, quer dizer, o ponto de fuga é a indiferença politizada porque a indiferença arrogante não interessa. Neste sentido reconhecer os pontos de fuga é estar atentas para a dissidência e a possibilidade prática da diversidade de vozes no ativismo feminista e de que existem posturas totalmente respeitáveis, porém não são elas que se deseja seguir.

Fuga do tema

15) Re-questionar o tema da academia no ativismo. É preciso fazer uma crítica radical à cooptação do discurso ativista pela academia, porém a proposta é tentar não cair no dogmatismo de ser a ativista-pura. Porque deste modo, voltamos ao mesmo problema das dicotomias autônomas/institucionais. Assim como não existe pureza na autonomia nem na institucionalidade, tampouco o há no ativismo.

Na experiência de algumas, fazemos ativismo feminista não-hegemônico dentro da academia, isto quer dizer, geramos reflexão, crítica e questionamento às próprias categorias que o feminismo tornou ferramientas de poder.

16) Re-questionar o tema da ética. A autocrítica dói, não é fácil. Se defende a luta contra assinalamentos porque se crê que ninguém pode ser salva, não há feministas-puras e a busca desta pureza é um dogmatismo, tem haver também com esta egolatria anteriormente questionada e em vários casos não é a experiência de contradições (ser autônoma e trabalhar em uma universidade, por exemplo) é simplemente uma opção pessoal. Como evitar assim o risco do relativismo? Se ninguém pode ser salva, se ninguém pode escapar, como romper com o relativismo que impossibilita a crítica? Se acredita que a ética no ativismo poderia ajudar nisto.

Nos re-questionar estes tabus não significa que encontraremos respostas para eles. Talvez muitas ativistas em particular têm melhor resolvido alguns pontos e outras não, se pensa que fica evidente que a posição aqui presente não vai por este caminho. Muitas vezes não vamos ter respostas e/ou os tabus não podem ser resolvidos, no entanto as perguntas, as inquietudes têm que estar constantemente presentes. Além disso é crucial estarmos abertas às dinâmicas dos novos-velhos tabus neste tipo de ativismo auto-crítico que se deseja fazer.

Ciudad de México, 23 de julho de 2009


versão em espanhol:

Desafíos para el feminismo activista latinoamericano

Quizás dos de los grandes desafíos que vive el feminismo activista latinoamericano sean:

1) Hacer un diálogo teórico y práctico (comprendendo los dos como indisociables) entre feminismos/socialis mos/marxismos/ autonomía/ estudios culturales y armar un bloque de feminismo activista de izquierda. Sobre ello se está pensando y tratando actualmente de amarrar diálogos cruzados como un proyecto político.

2) Hacer una autocrítica radical a nosotras feministas.

Es sobre este segundo punto que se trata este texto.

La herramienta propuesta para esta autocrítica radical es la ruptura con el políticamente correcto entre las feministas. ¿Qué significa? Discutir los tabúes entre las feministas, lo que muchas pensamos pero no decimos, lo que nos impide de autocriticarnos. De esta manera, nos quedamos con el imagen de feministas super-poderosas que da charlas, talleres para otras mujeres (observar las relaciones de poder, las jerarquías), pero entre las feministas no se está discutiendo en serio los problemas de nosotras. Hay que decir el no-dicho porque ello nos posibilitará ir más allá del nivel del ´yo me quiero, yo miro y conozco mi vagina, mis placeres´. Reconocer que nos conflictuamos, que podemos sentir envidia hacia otras mujeres, que tenemos que luchar contrar un machismo interno, no significa dejar de ser feminista, puede ser un gran paso para sermos más libertarias pues esconder nuestros problemas no nos está ayudando avanzar porque ellos muchas veces se quedan en el nivel de la autocensura y lo que no se vuelve al nivel del discurso no existe y a la vez no puede ser trabajado. Lo nuevo del problema es que en teoria todas somos subversivas en potencia, es decir, teóricamente no tenemos razones para trabajar en nosotras mismas, dicho de otro modo, estamos dejando para la teoría lo que no podemos hacer en la práctica. Sin embargo, en la práctica sabemos que no es así. Hay que volver a repensarnos desde la práctica cotidiana por ejemplo, con la ayuda de una práctica-teórica que rompa lo que nos impide de replantearnos.

Algunos tabúes a ser repensados desde esta herramienta:

1) Replantear la misoginia entre las feministas. ¿Es posible hablar de misoginia entre mujeres, entre feministas o la estamos confudiendo con la competencia?

2) Replantear el tema del resentimiento. Muchas feministas somos resentidas hacia la vida, hacia los hombres, hacia las otras mujeres. Hay que reconocer y trabajar el tema. Ejemplo: ¿qué tan resentida es la práctica subversiva de una lesbiana que no come plátano porque su forma es fálica? ¿Qué tan resentidas somos las mujeres que no reconocemos el hecho de que nos guste ser penetradas?

¿Cuan resentidas somos las feministas que tuvimos diferencias ideológicas, nos consideramos enemigas y el feminismo un campo de batalla?

¿Que tan resentidas somos las lesbianas con la pareja nos dejó por otra y sobre todo con esa otra?

3) Replantear el tema de la victimización. Paralelo a este discurso resentido hay el discurso de víctimas. Una cosa es reconocer que somos víctimas del patriarcados, otra es que el hecho nos impida de actuar y se vuelva excusa para la inmobilidad.

Conozco lesbianas que sienten haber sido víctimas de ataques de otras y la queja es constante, también conozco lesbianas feministas y heterofeministas que no han dudado en devastar a sus detractoras hasta hacerlas polvo y llevarlas a la inmovilidad, es muy común convertirnos en juezas que vigilamos, sentenciamos y castigamos.

4) Replantear el tema de la casi lesbodictadura. Está conectado al tema de la victimización. Una cosa es reconocer que las lesbianas son minorías, son marginalizadas en la sociedad, otra es riezgo de la reproducción de patrones de dominación de ellas hacia las bisexuales, transgéneros, heterosexuales. Todo ello no impide de señalar el papel fundamental de las teóricas lesbianas en el activismo.

Tiene riesgos considerar el lesbianismo como una minoría y no como una postura política porque ello hace perder la dimensión de la heterosexualidad como un régimen obligatorio y compulsivo.

5) Replantear el tema del matriarcado. Cuando se critica tan fuertemente el patriarcado, muchas caímos en el otro lado, es decir, en el matriarcado. El activismo es también repensar la reproducción de patrones de dominación.

Creo que el matriarcado nunca existió y desearía que no existiera como un sistema político de dominación. Creo en la necesidad de recuperación de una cultura extraviada de las mujeres, incluida la filiación materna, los saberes e historias narradas de madres a hijas.

6) Replantear el tema de la soledad. Quizás esté muy asociado a la vivencia del resentimiento, a las dificultades de ser feminista en América Latina. Un ejemplo: estar pensando sobre estas ideas en la calle y de pronto un hombre viene y pasa la mano en tu trasero como se él fuera un mueble. Allí no tuviste clase social, ni etnia, ni edad, ni orientación sexual, fuiste una mujer sola con un trasero.

Me gustaría más hablar sobre la soledad del activismo no hegemónico, no institucional, no reconocido, ni premiado, ni valorado en la excelencia, en la necesidad de crear formas alternativas de socialización para las lesbianas no necesariamente ligadas al consumo y el alcohol, como decía Karina, organizar días de campo, comidas colectivas, etc. donde poder intercambiar, dialogar, conocernos.

7) Replantear el tema de la autoestima. Partir de la idea que tenemos constantemente que trabajar nuestra autoestima, nadie está acabada, parar de ser la feminista-modelo, es decir, la feminista-perfecta que llegó al nivel inalcanzable. Somos seres humanos, nos sentimos sí inferiores (hay que volver a utilizar la palabra, solamente porque luchamos contra los esencialismos, los no-binarismos no significa que en la práctica dejamos de proyectarmos como inferiores, superiores). La cuestión de la envidia y el machismo interiorizado hacia otras mujeres entraría también tanto en el tema de la misoginia como en lo de la autoestima.

8) Replantear el tema de la egolatría entre las feministas. Pensar seriamente cómo el problema del ego se asocia al activismo. El ego que nos hace hablar solamente para nosotras mismas, en una endogamia extrema en un círculo de iniciadas. Además el ego como la búsqueda del reconocimiento. El desafío es ser más colectivas sin borrar el sujeto. ¿Cómo ser individuas sin ser individualistas, ególatras? Hay una línea muy tenue entre la libertad, la autoría y el individualismo extemo. Las feministas anarquistas nos enseñan muchas veces que el anonimato en nombre de un colectivo puede ser un camino interesante. Sin embargo, en el anonimato extremo se lleva a la imposibilidad de se hacer activismo. ¿Cúal es la frontera entre ellos? Quizás una buena medida es actuar poniendo siempre ambos en tensión.

El tema de la autoestima y el ego son temas serios a trabajar, si bien es necesario tener una autoestima, es difícil sopesar el equilibrio, muchas veces los egos malogran el trabajo de años, cuando anteponemos la primera persona no sólo al expresarnos, escribir, pensar o actuar. Yo que hablo, mi nombre que aparece, mi figura que destaca, mi sombra que brilla, yo que he trabajado, me merezco figurar, me merezco las becas, me merezco los premios, las loas, me merezco el liderazgo, así, primero yo. Un poco de humildad no vendría mal, un poco de grupalidad o comunidad, aportaría al colectivo.

9) Replantear las diferencias generacionales. Está relacionado muchas veces al ego de activistas con una larga trayectoria. Reconocer el problema no es eliminar la importancia, la memoria de estas activistas y no es pensar que las jóvenes activistas están inventando la rueda.

También me parece importante porque quienes estamos en la docencia sabemos que aprendemos mucho de las estudiantes, sus cuestionamientos y aportes. Muchas feministas que no fuimos las “primeras pioneras” sentimos discriminació n por no haber estado antes o no haber llegado a tiempo al club de las jurásicas.

10) Replantear la discusión sobre el poliamor/monogamia/ poligamia. Reconocer y analisar, por ejemplo, qué tan subversivo es el poliamor, qué tan ideal es; un ideal en este sentido muy similar a la monogamia. Muchas no estamos discutiendo la reprodución de patrones muy patriarcales en el poliamor y de fuertísimas relaciones de poder porque creemos que estamos salvadas en el título y en el status de poliamorosas y no pensamos en discutir a fondo todo eso.

Creo que al no ser justamente el poliamor un valor social aceptado, tiene muchos anticuerpos y no creo que sea la salvación a las contradicciones de la monogamia. Al estar inmersas en una sociedad con valores tan arraigados, kienes nos atrevemos a salir de las reglas de monogamia, entramos en un terreno sumamente pantanoso y lleno de contradicciones, donde seguramente el ejercicio del poder no está ausente como no lo está en la monogamia y no lo está precisamente porque nuestro adiestramiento y domesticación a la monogamia es milenaria, de tal manera que nuestros sentimientos y reacciones están inevitablemente condicionados por el apego y la propiedad. Es posible que kien haya logrado una mayor práctica en desapego y los límites, sea vista y juzgada como más “poderosa”. Hay mucho que trabajar al respecto porque la simple comunicación de los códigos del poliamor son difíciles de entablar cuando no ha existido una práctica poliamorosa o una voluntad altérica (antiego) “no puedo soportar no ser el centro de tu atención” o priman los temores a no poder competir contra la tercera, cuando en realidad no debería ser una relación de competencia, sino de suma de cuerpos, afectos y voluntades.

11) Replantear el tema de la prostitución. La contradicción de que la lucha entre la prostitución como una lucha feminista haya posibilitado la marginalizació n aun más fuerte de las prostitutas. Además, hay que reconocer que muchas feministas en su vida sexual les gusta ser tratadas como prostitutas.

Es un tema complicado donde creo importante discutir los límites de la libertad como autodeterminació n, es decir, cuánta libertad tuvieron estas mujeres para elegir lo que son o cuánto de la marginación social orilló a tales decisiones y lo que ello implica al entablar relaciones de opresión y dominación con sus “cafichos o chulos o como se llamen” y sus clientes.

12) Replantear la intolerancia hacia otras mujeres que se dicen no-feministas. Hay que trabajar la dificultad de reconocer que muchas mujeres no tienen la opción de ser feministas, pero que existen las que por opción no quieren serlo.

Creo que es más un tema de información, porque es difícil optar por algo que no conoces y muchas veces nos encontramos con antifeministas k no tienen idea de que significa feminismo y que ha implicado en la historia de las mujeres y por tanto en la historia de ellas mismas.

13) Replantear el tema del culto al cuerpo. En teoría ninguna feminista vive el conflicto de hacer dieta, de la bulimia, de la anorexia, sin embargo el tema está presente porque también vivimos los bombardeos de cómo devemos ser, cómo devemos vestirnos, cómo devemos actuar.

Es cierto, el deber ser, está muy relacionado a las reglas del mercado y del consumo y hay muchas feministas que no han cuestionado aún cómo ésta relación nos convierte en sujetos colonizados.

14) Replantear los puntos de fuga. Hay que reconocer que muchas no les va a interesar este debate. El mejor sentido de este no-interés es que ellas serán el punto de fuga en él. El punto de fuga es muy interesante principalmente porque puede ser no-arrogante, es decir, el punto de fuga es la indiferencia politizada porque la indiferencia arrogante no interesa. En este sentido reconocer los puntos de fuga es estar atentas para la disidencia y la posibilidad práctica de la diversidad de voces en el activismo feminista y de que existen posturas totalmente respetables, sin embargo no son ellas que se desea seguir.

Fugo del tema

15) Replantear el tema de la academia en el activismo. Hay que hacer una crítica radical a la cooptación del discurso activista por la academia, sin embargo la propuesta es tentar no cayer en el dogmatismo de ser la activista-pura. Porque de este modo, volvemos al mismo problema de las dicotomías autónomas/institucio nales. Así como no existe pureza en la autonomía ni en la institucionalidad, tampoco lo hay en el activismo.

En la experiencia de algunas, hacemos activismo feminista no hegemónico dentro de la academia, es decir, generamos reflexión, crítica y cuestionamiento a las propias categoría que el feminismo ha hecho herramientas de poder.

16) Replantear el tema de la ética. La autocrítica duele, no es fácil. Se defiende la lucha contra señalamientos porque se cree que nadie puede ser salvada, no hay feministas-puras y la búsqueda de esta pureza es un dogmatismo, tiene que ver también con esta egolatría anteriormente planteada y en varios casos no es la experiencia de contracciones (ser autónoma y trabajar en una universidad, por ejemplo) es simplemente una opción personal. ¿Cómo evitar así el riezgo del relativismo? Si nadie puede ser salvada, si nadie puede escapar, ¿cómo romper con el relativismo que imposibilita la crítica? Se cree que la ética en el activismo podría ayudar en ello.

Replantearnos estos tabúes no significa que encontraremos respuestas para ellos. Tal vez muchas activistas en lo particular tienen mejor resuelto algunos puntos y otras no, se piensa que queda evidente que la posición aquí presente no va por este camino. Muchas vezes no vamos a tener respuestas y/o los tabúes no pueden ser resueltos, sin embargo las preguntas, las inquietudes tienen que estar constantemente presentes. Además es crucial estar abiertas a la dinámicas de los nuevos-viejos tabúes en este tipo de activismo autocrítico que se desea hacer.

Ciudad de México, 23 de julio de 2009