O apagamento do feminismo radical nos EUA tem sido gradual e o tempo pode mostrar que também foi inevitável. Experiências individuais podem se diferenciar das minhas, mas todas nós podemos, eu penso, dar exemplos nossos que ilustram igualmente bem os processos de destruição interna. 

 Vou descrever a minha perceção do que aconteceu de forma mais minuciosa possível: Durante 1977, o Ano Internacional da Mulher, as organizações e líderes do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM) nos EUA viu uma oportunidade de construir uma grande constituição política, um movimento de mulheres com NÚMEROS. A urgência de contar corpos, a crença de que números é um indício mais significativo de força política do que consistência política, requereu que o feminismo fosse mais agradável a mulheres em geral mas especialmente às convencionais, particularmente às donas de casa e outras para as quais a Eagle Forum (grupo conservativo) apelava mais.  Note que, quando estratégias de recrutamento de feministas foram formuladas, nunca foi sugerido que as LÉSBICAS deveriam ser o foco do recrutamento ativo. Não! O foco tem sido sempre “atrair” mulheres heterossexuais para o MLM (de certa forma, recrutar mulheres heterossexuais para o movimento serviu para recrutar Lésbicas, porque muitas mulheres deixaram a fachada da heterossexualidade quando tiveram permissão para se amarem elas próprias e outras mulheres. Daí a “necessidade” sentida de trazer mais heterossexuais quando os números baixaram).

 Quando a QUANTIDADE dos corpos tomou precedência sobre a QUALIDADE do compromisso do movimento, feministas adotaram por completo a definição masculina de “política”, tendo comprometendo a MLM a questões formuladas dentro do contexto dos jogos políticos heteropatriarcais. “Políticas Feministas” se tornaram identificadas com assuntos aprovados pelo quadro político masculino e ao se focarem na passagem da EDI (Emenda dos Direitos Iguais) à exclusão de todos os outros assuntos, feministas amarraram o destino da MLM aos caprichos dos políticos machos e o seu bando de fêmeas. 
 
 Uma vez ligadas às limitações impostas pelas definições heteropatriarcais do “político”, o feminismo, como política independente dos assuntos masculinos, só podia evaporar.