“A dominação masculina não significa aquilo a que um escritor referiu-se como “esforços masculinos implacáveis de dominação e controle” (Hawkesworth, 1989: 543). Esta não implica que todos os homens sejam invariavelmente opressores para com todas as mulheres todo o tempo, nem que as mulheres sejam as vítimas invariavelmente passivas e pacíficas de um desejo masculino por poder. É um sistema social, uma questão de significados e valores, práticas e instituições. Enquanto as estruturas sociais são mantidas por meio do comprometimento e aquiescência dos indivíduos e podem ser corroídas pela recusa dos indivíduos em participar, também possuem uma vida em si mesmas e podem continuar a exercer sua influência a despeito dos melhores esforços dos bem-intencionados. As manifestações da dominação masculina, embora às vezes horrivelmente violentas e degradantes, são também sutis, mundanas, ordinárias e, ademais, muito profundamente embutidas nas psiques dos indivíduos, e não somente de indivíduos homens. Ela constitui o ambiente social das mulheres assim como dos homens, o “conhecimento mútuo” dos atores sociais (Giddens, 1984: 375) e parte do ambiente pressuposto de todos.

Insistir na realidade da dominação masculina não significa que os indivíduos sejam nada além de entidades inertes, movidas aqui e ali por forças exteriores ao seu controle. Se as ações e desejos particulares mantêm a estrutura social, ou se a corroem, é responsabilidade do agente individual decidi-lo, uma responsabilidade que permanece mesmo quando se evade. A dominação masculina não é um tipo de sistema monolítico e homogêneo no qual os indivíduos estão inseridos sem seu conhecimento e sem possibilidade de oposição. Qualquer afirmação assim seria empiricamente falsa. Não é o caso de os indivíduos não terem nenhuma escolha além de consentir com as normas dominantes e as normas da dominação. >>>Nenhum regime pode transformar seres humanos em autômatos ou reduzir as escolhas das pessoas a absolutamente zero<<<. Até mesmo os regimes totalitários do século XX, com sua brutalidade difundida, assassínios, terror e mentiras, falharam na contenção de toda a rebelião. Ao mesmo tempo, a medida em que as pessoas são mantidas na ignorância em relação a onde repousam seus verdadeiros interesses, são manipuladas por propósitos que não seus próprios e são impedidas de controlar as condições de sua própria existência por poderosos interesses, é a medida em que estão submetidas a condições de dominação. É a essa realidade de dominação que o feminismo resiste em seu comprometimento com a crença de que os seres humanos têm o direito de existir em liberdade e dignidade simplesmente porque existimos.

“as propriedades estruturais dos sistemas sociais são tanto capacitantes quanto coercivas” (Giddens, 1984: 162). Porém, se coerção é capacitação (e vice-versa), como distinguimos entre a coerção que capacita, e aquela que capacita a nada além do consentimento das pessoas em relação a sua própria opressão? Ele também argumenta que a coerção opera “através do envolvimento ativo dos agentes implicados, não como uma força em relação à qual eles são recipientes passivos” (p.289), e que “todas as formas de dependência oferecem recursos por meio do quais aqueles que estão subordinados podem influenciar as atividades de seus superiores” (p.16). Contudo, ao passo em que isso pode ser verdade, também pressupõe os temas da dependência, subordinação e superioridade, os quais o feminismo busca pôr em questão.
...
Porém, Lukes está apenas parcialmente correto em seu comentário sobre relações de poder entre mulheres e homens, quando diz que “ambos são vítimas do sistema, em vez de um estar em posição de exercer poder sobre outro”. Ele está certo ao assinalar que “não é tanto uma questão de homens ... escolhendo exercitar poder sobre as mulheres, através de ações voluntárias, com base em atitudes modificáveis”, mas, em vez disso, “um sistema de dominação em que tanto homens quanto mulheres são apanhados, embora sirva aos interesses dos primeiros às custas das últimas” (Lukes, 1997: 10). Embora verdadeiro que homens e mulheres possam ser cúmplices das relações de dominação masculina, se o sistema opera a favor dos interesses dos homens e contra os interesses das mulheres, ambos não são “vítimas” da mesma forma. É enganoso referir-se aos homens como vítimas de um sistema que garante a prevalência de seus interesses às custas das mulheres, mesmo sendo verdade que esses sistema é, com frequência, involuntariamente e, às vezes, explicitamente, mantido por homens e mulheres. >>>O sistema da dominação masculina não pode ser completamente identificado com escolhas conscientes e deliberadas dos homens de oprimir as mulheres, primeiramente, porque a pressuposta naturalidade do sistema permite que a sua subordinação seja perpetuada pelo hábito; em segundo lugar, porque as ações das mulheres também servem à manutenção do sistema se estas permanecem ignorantes quanto aos seus reais interesses.<<< Não obstante, a questão da libertação da mulher da dominação masculina é uma questão moral e, como tal, depende de “ações voluntárias” e “atitudes modificáveis” por parte dos dois sexos, mas, especialmente, por parte das mulheres, uma vez que o sistema seja desafiado e combatido.
Referir-se à “dominação masculina”, portanto, em vez de usar o termo mais neutro “construção social”, não é referir-se a algo monolítico e inexorável.

Nenhum sistema de dominação, até os mais totalitários, funciona sem contradições, ambiguidades e resistências. “Dominação” refere-se a uma ordem social hierárquica em que os interesses de alguns prevalecem às custas dos interesses de outros; refere-se a arranjos sociais que facilitam os interesses das elites, em detrimento das categorias de pessoas excluídas do acesso aos recursos necessários, até mesmo, para a dignidade humana mais básica. Ela é mantida, em parte, através de meios ideológicos de garantir o consenso dos oprimidos em relação à sua própria opressão e fornecer justificativas para a manutenção do status quo e, em parte, através da ameaça e exercício da violência. A dominação masculina implica que o masculino represente a norma “humana”, às custas de um status de humanidade para as mulheres. Os interesses e valores dos homens estabelecem-se como os interesses “humanos” universais, e valores genuinamente humanos como a razão, virtude ou coragem são açambarcados como exclusivamente masculinos. Ao mesmo tempo, dominação masculina implica que o feminino seja considerado subsidiário, subserviente, subordinado à, ou carente de, norma “humana”, enquanto os interesses, valores e direitos das mulheres são negados, banalizados"