Tradução do texto "Lesbische Frauen im Nationalsozialismus und Lesbische Frauen im Frauenkonzentrationslager Ravensbrück"  (Lésbicas no Período Nazista e no Campo de Concentração de Ravensbrück na Alemanha nazista), por Wiebke Hass da "Iniciativa Feminista Autônoma de Mulheres e Lésbicas na Alemanha e Áustria"
 
O texto a seguir foi escrito por Wiebke Hass, do grupo Iniciativa Feminista Autônoma de Mulheres e Lésbicas na Alemanha e Áustria (chamado por mim suscintamente aqui de IFAMLAA) em 2017 para conscientização da importância de um obelisco em homenagem às mulheres e meninas lésbicas aprisionadas e mortas no campo de concentração feminino de Ravensbrück no leste alemão há 90km de Berlim (atualmente Memorial Ravensbrück). As próprias membras do grupo  IFAMLAA providenciaram um obelisco que foi retirado pela direção do Memorial após controverso debate. O grupo IFAMLAA, que há anos estuda a situação e história de lésbicas durante o regime nazista, redigiu o texto a seguir que acompanha um abaixo assinado para que um obelisco permanente em memória das Lésbicas do campo de concentração seja instalado no Memorial Ravensbrück. 

tradução por Conori - Heretika edições lesbofeministas autônomas
contato: heretika@riseup.net

Introdução

Pesquisas negligenciadas

Homofobia e Lesbofobia

Discriminação de Lésbicas e Mulheres em Geral

Destruição da Subcultura e da Infraestrutura Lésbica

Bases da ideologia da Degeneração

O Artigo 175 e as Lésbicas na Alemanha Nazista

Registro de lésbicas em Arquivos Criminais

Diferenças entre a perseguição de Gays e Lésbicas

O Artigo 175 na Áustria, Boêmia e Morávia Link não funciona

Categorias Nazistas: pessoas ’associais’

A história de Mary Puenjer

Prostitutas

Lésbicas em bordéis de prostituição forçada

Estupros

O Campo de Concentração de Ravensbrück

Condenação e punição do amor lésbico no Campo de Concentração Feminino Link não funciona

A questão da perseguição de Lésbicas pelo nazismo

Perseguições Múltiplas de Lésbicas

Análise Interseccional

Continuidade Histórica

Biografias de algumas Lésbicas assassinadas pelo Nazismo Link não funciona

Glossário

Referências Bibliográficas

Introdução

Desde o começo da década de 90 nós, da Iniciativa Feminista Autônoma de Mulheres e Lésbicas na Alemanha e Áustria, participamos da Celebração dos Aniversários de Libertação do Campo de Concentração Feminino de Ravensbrück, do Campo de Concentração Infantil para meninas e mulheres jovens em Uckermark e do Campo masculino. Para nós, Ravensbrück é um local de memória, prevenção e homenagem. Também é um local de disputa e um local muito importante para minha pŕopria vida política.

Durante três anos consecutivos realizamos eventos sobre o tema “Perseguição de Mulheres Lésbicas no Período Nazista”, promovendo informação, intercâmbio e homenagens no Memorial Ravensbrück. Na ocasião da comemoração de 70 anos de libertação, colocamos em Ravensbrück um Obelisco Memorial para homenagear in memória essas mulheres e meninas lésbicas porque nós acreditamos que já é hora de tornar essas mulheres visíveis e nos lembrarmos delas. Depois da retirada do obelisco pela direção do memorial, nossa iniciativa preparou, no ano passado, um pedido oficial de um obelisco. Até agora não houve, infelizmente, nenhuma decisão positiva e a informação que temos é que houve uma discussão muito controversa. Nós esperamos que a próxima sessão de consulta no dia 5 de Maio de 2017 se decida por um obelisco permanente.

Lésbicas foram, durante o período nazista, discriminadas, estigmatizadas e também perseguidas. Mulheres que foram perseguidas por motivos racistas, por exemplo, foram punidas adicionalmente por comportamentos lésbicos – por exemplo, quando em campos de concentração.
Há muito pouco conhecimento detalhado sobre a vida de Lésbicas durante o Nazismo. Como sua situação diária se alterou depois da tomada de poder pelos nazistas e em qual forma e em qual extensão elas foram discriminadas e perseguidas? Levanta-se a questão de como se provar. Em nossa opinião, há muitos indícios que valem a pena se considerar e trazer para a discussão.

Pesquisas negligenciadas

Pesquisadoras percebem cada vez mais que, sobre esse tema, muito pouco foi pesquisado. Temos que mencionar, e expressar nossos agradecimentos, a Claudia Schoppmann que fez muito nesse tópico nas últimas décadas. Faltam recursos para as pesquisas, interesse e reconhecimento. Além disso, muitos documentos foram destruídos pelos Nazis e muitas sobreviventes e testemunhas acabaram falecendo nesse meio tempo.

Homofobia e Lesbofobia

Homofobia e particularmente Lesbofobia – um conceito usado desde 1994 – desempenham um papel fundamental no apagamento das Lésbicas vítimas do sistema nazista, pois tabus e lesbofobia influenciaram memórias, relatórios e pesquisas.

Discriminação de Lésbicas e Mulheres em Geral

A discriminação de lésbicas e das mulheres não podem ser consideradas independentemente e estão inter-relacionadas. A discriminação e o preconceito contra mulheres no Regime Nazista é o motivo básico da discriminação e da perseguição de Lésbicas.
O Partido Nazista já em 1921 – um ano depois da criação do partido – decidiu não aceitar mulheres nem na diretoria do partido e nem no comitê sênior. Depois da tomada de poder em 1933 mais leis foram adotadas: mulheres foram restringidas em universidades e em profissões de alto padrão. Elas deveriam (de 1933 a 1937) desistir de seu emprego remunerado em favor do casamento e da maternidade. Mulheres foram excluídas do direito do voto passivo e de sua elegibilidade.

O Movimento de Mulheres foi homogeneizado. As mulheres foram excluídas da esfera pública e a elas foi atribuída a esfera privada, mas também lá elas estavam subordinadas aos homens como esposas e mães. A sexualidade independente da mulher não tinha importância e foi subordinada à reprodução forçada.

Renate Wiggershaus lista, em “Mulheres sob o Nazismo”, pontos sexistas na legislação:
“As parlamentares perderam seus postos. Muitas acabaram destinadas à emigração, expatriação e expropriação, por exemplo, Anita Auspurg (do Partido Social-Democrata Independente da Alemanha – USPD)…; ou receberam ordem de prisão ou vistoria policial em casa….; ou perderam a vida em campos de concentração como por exemplo Johanna Tesch (Partido Social-Democrata da Alemanha – SPD) que morreu onze dias antes do seu aniversário de 70 anos, no campo de concentração de Ravensbrück, ou Leni Rosenthal (SPD), que foi assassinada pelas mãos da Gestapo (1) após severos maus tratos ou ela mesma tenha tirado sua vida em desespero.”

Quando mulheres têm suas autonomias negadas e se dificulta que elas vivam solteiras devendo, ao invés disso, se casar e dar luz a crianças, essas medidas atingem mulheres lésbicas em dobro. Lésbicas são relatadas em poucas biografias, como as que Claudia Schoppmann e Ilse Kokula coletaram, onde elas no dia a dia do regime nazista, por exemplo, são expulsas de seus trabalhos e residências, quando, através de denúncias, descobre-se que elas viviam como Lésbicas.

Destruição da Subcultura e da Infraestrutura lésbica.

Na Alemanha pontos de encontro, revistas e livros para Lésbicas foram proibidos e destruídos pelo nazismo já em 1933. Tal fato foi tão impressionantemente descrito por Claudia Schoppmann quanto por Corina Tomberger.

Há relatórios sobre incursões e assaltos surpresa militar em pontos de encontros lésbicos e aprisionamentos.

Base da ideologia da Degeneração

O livro ‘Medicina e Gênero: sobre a construção da categoria de gênero no discurso médico do século 19’, de Kathrin Schmersahl, inclui uma análise histórica da então chamada ‘Doutrina da Degeneração’:

_“Também a doutrina da degeneração contribuiu para naturalizar a hierarquia de gênero no século 19, isto é, a discriminação social, política e cultural contra as mulheres. Há uma tendência, a princípio, em patologizar o sexo feminino. O movimento de emancipação feminina assim como a prostituição serviram como ‘exemplos’ da ‘degeneração’ feminina, com relações lésbicas entre prostitutas sendo consideradas um fenômeno particular de degeneração. O psiquiatra italiano Cesare Lomboso (1836 – 1909) clamou a existência de uma ligação íntima entre a homossexualidade feminina e a prostituição – um estereótipo repetido por outros psiquiatras (Krafft-Ebing, Moll, entre outros) e, também, pelos nazistas.

A prostituta era a versão feminina do “nascido bandido”, uma teoria popularizada por Lomboso. Comportamentos sexuais patologizados eram associados a outros desvios sociais como criminalidade, em particular. Lomboso defendeu intermitentemente ao longo de sua vida a deportação para campos de concentração e a extensão da pena de morte também para as ‘degeneradas’."_

Além da criminalização, essa patologização se tornou o berço da ideologia de inferioridade, degeneração, criminalidade e comportamento social do Nacional-Socialismo (2). Os nazistas atribuíram às Lésbicas comportamento instintivo sexual acima da média (3), as considerando prostitutas e as denunciando como degeneradas, associais e criminosas.

Kathrin Schmersahl continua:

“Por volta de 1890, Julius Koch (1841 – 1908) cunhou o termo guarda-chuva da ‘inferioridade psicológica’, ligando a psicopatia com depreciação social explícita. De acordo com Koch, psicopatia era inata ou adquirida e estava associada a ‘comportamento associal’, excessos sexuais e elevados níveis de comportamento instintivo sexual. Nas décadas seguintes o termo “psicopatia” foi desvirtuado e se tornou o protótipo da “degeneração”. Assim, psiquiatras criaram uma diagnose que os permitia excluir todas aquelas pessoas desviantes da norma burguesa que continha, para aqueles considerados ‘superiores’, o dever, entre outros, de gerar novos cidadãos…"

De fato encontramos Lésbicas sendo consideradas prostitutas também num passado mais recente da história. Por exemplo, a Anistia Internacional publicou em um relatório sobre violação dos direitos humanos com base em orientação sexual o seguinte fato: em 5 de Janeiro de 2001, 32 mulheres foram presas por prostituição porque estavam presentes no Bar New Ocean na cidade mexicana de Monterrey, um local principalmente frequentado por Lésbicas. As Lésbicas foram detidas por horas na estação policial e sujeitas a assédio. Elas somente foram soltas depois de pagar uma fiança por sua ‘infração’ como prostitutas no Regalamento de Policia y Buen Governo. (Em: Quebrando o silêncio – Violações de Direitos Humanos com base em Orientação Sexual", editado por Wolfgang Dinkelberg, Eva Gundermann, Kerstin Hanenkamp, Claudia Koltzenburg. Anistia Internacional 1999 Berlim.)

“… Nesse tópico, as políticas sexuais e populacionais Nazistas não representaram um ponto de ruptura ideológica, apesar de carregar ideologias racistas, antissemíticas e patriarcais características… Dois pilares pareceram decisivos para sua expansão: a referência à ‘sensibilidade da saúde popular’ (4) e a definição dos ‘aliens da comunidade’ (5). Deste modo, ficou garantida que todas as pessoas e modos comportamentais que não seguissem os requisitos de normas e valores do sistema Nazista, poderiam ser perseguidos.”
(Helga Amesberger, Katrin Auer, Brigitte Halbmayr: Violência Sexualizada: Experiências Femininas nos Campos de Concentração Nazistas, Vienna, 2004, p. 336).

O Artigo 175 e as Lésbicas na Alemanha Nazista

Com as consequências do “Golpe Rohem” (6) e o interesse em tirar do poder o “Destacamento Tempestade” ( SA – Sturmabteilung) (7) , o já existente Artigo 175 foi reinforçado para punir severamente os homens gays. Assim como, depois de 1945, a extensão da perseguição legal às mulheres homossexuais foi levada em consideração, mas não colocada em prática. O artigo 175 não foi estendido às Lésbicas porque os ideólogos nazistas e juristas assumiram que eles já haviam ganhado a batalha contra o estilo de vida lésbico aprovando leis contra a autonomia das mulheres em geral. O protesto escrito e arquivado pelo jurista Rudolf Klare contra a decisão do comitê sobre a lei penal, claramente mostra que as razões foram meramente de natureza estratégica e não tinha nada a ver com aceitação da vida lésbica. “Considerando a homossexualidade como degeneração baseada em raça”, Rudolf Klare escreve, “a princípio, a homossexualidade feminina deve ser considerada comportamento passível de punição, propenso a prejudicar valores sanguíneos e retirar a mulher de suas obrigações para com o povo e a nação”.

O Ministério da Justiça do Reich decretou que a potência dos homens homossexuais seria desperdiçada, mas que as mulheres homossexuais não seriam “descartadas da reprodução”. Em adição a isso, havia muito menos atividade homossexual feminina do que masculina – exceto entre as prostitutas, já que mulheres estavam confinadas em suas casas. Assim como as relações íntimas entre mulheres e as possíveis denúncias eram mais difíceis de serem investigadas. De acordo com o Regime Nazista: “uma importante razão para a criminalização das relações homossexuais reside na corrupção da vida pública na qual continuará a ocorrer se esta praga não for confrontada com determinação”. Tal motivo seria dificilmente aplicável às Lésbicas, já que pouquíssimas mulheres possuíam acesso à vida pública. Em uma edição do livro “A Mulher” de 1989, a jurista Gertrud Schubart-Fikentscher escreveu: “deve-se punir fornicação não natural entre mulheres. É uma intenção premeditada de ofensa agravada”.

Alice Rilke, membra da Liderança Feminina do “Reich” (8) fez os seguintes comentários: “Independente do que os legisladores decidirão – obviamente, a homossexualidade feminina é como a masculina: uma degeneração moral, uma ameaça à existência e moralidade da comunidade popular (9) que é obrigada a lutar contra todos os casos de degeneração”. Discussões como essas mostram claramente que além do banimento dos pontos de encontro lésbicos, a privação dos direitos das mulheres em geral, a destituição de seus empregos e substituição forçada quando em posições altas de comando e profissionais, a exclusão do sufrágio feminino e também a implementação de uma ideologia heterossexista e homogeneização das organizações femininas foram calculadas e estrategicamente planejadas contras as Lésbicas.

Registro de lésbicas em Arquivos Criminais

À partir de 1944, o Departamento de Investigação Criminal de Homossexualidade passou a registrar relacionamentos de mulheres lésbicas.

Diferenças entre a perseguição de Gays e Lésbicas

“O tipo e a extensão da perseguição de Lésbicas não pode ser equivalida com a perseguição dos homens homossexuais. O artigo 175, que foi introduzido em 1871, durante o Império Alemão e foi massivamente reforçado pelo estado nazista em 1935, aplica-se exclusivamente aos homens. Tal fato ocorreu de forma diferente na Áustria e em Ostmark onde, ao contrário da Alemanha, relações lésbicas eram punidas por leis (artigo 129 Ib do Código Penal). Desde a anexação da Áustria tal lei não foi alterada. Entretanto, em geral, a homossexualidade feminina era considerada “menos perigosa” e portanto não perseguida. Adicionalmente, atividades lésbicas eram consideradas como “um traço característico que de forma alguma é intrínseca às mulheres alemães”. (Helga Amesberger, Katrin Auer, Birgitte Halbmayr: Sexualisierte Gewahlt – Weibliche Erfahrungen in NS-Concentration Camps), Vienna 2004, p.99, footnote).

Em seu artigo “Perseguição e discriminação da Homossexualidade feminina na Renânia-Palastinado entre 1947 e 1973”, Kirsten Ploetz escreve:
“É bem conhecido que para a perseguição de um alegado romance lésbico ocorrer não era exclusivamente importante se ele violava ou não o artigo 175 do Código Penal. Até hoje, e naquela época também, mulheres são acusadas de romance lésbico por interesse da polícia e do judiciário, embora nem sempre tal fato fosse por si só passível de punição. Isto pode ser mostrado por pesquisas sobre perseguição durante o período nazista.

Graças à pesquisas regionais feitas em Hamburgo, tomamos conhecimento que em 1941 uma mulher foi denunciada e acusada de ‘atividades puníveis pelo artigo 175’ e foi acrescido: ‘desde que crianças menores estão vivendo na mesma casa, intervenção imediata é requerida’. Houveram outras investigações também sob suspeita de “atividades lésbicas”. Mulheres suspeitas eram interrogadas pelo departamento de investigação criminal e questionadas sobre os mais íntimos detalhes e mulheres consideradas culpadas de lesbianismo eram frequentemente punidas mais severamente que outras mulheres, caso viesse à tona que elas viviam em um relacionamento lésbico. Uma denúncia acusando mulheres de ‘atividades lésbicas’ também foi registrada em Hannover com o departamento de investigação se lastimando de que o artigo 175 do Código Penal não era aplicável às mulheres. Contudo, não é sabido se as mulheres em questão foram condenadas com base no artigo."

O Artigo 175 na Áustria, Boêmia e Morávia

“O Código Penal Austríaco datando do ano 1852 requere no artigo 129 a perseguição criminal do homem homossexual e, ao contrário do código Penal Alemão, da mulher também”. (schwarzwurzelkollektiv).

Em contraste com a maior parte de pareceres, Johann Karl Kirchknopf chega à seguinte conclusão em sua tese de mestrado:

“O resultado de minha pesquisa claramente prova que mulheres em Vienna não foram de maneira nenhuma menos afetadas pela perseguição de homossexuais pelo regime nazista do que os homens. O número de mulheres investigadas nas cortes com base no artigo 129 Ib, Código Penal, cresce mais do que a metade no ano de 1941 comparado com a média dos anos de 1932 a 1945, com a porcentagem de mulheres fazendo parte do grupo de pessoas investigadas com base no artigo 129 Ib subir para 15%. O número de mulheres sentenciadas nas cortes criminais de Viena com base no artigo 129 atinge seu clímax no ano de 1942, chegando a mais do que o dobro da média do número de mulheres sentenciadas entre os anos de 1932 e 1943. A perseguição específica de homossexuais no regime nazista não somente afetou a intensidade com que mulheres eram perseguidas em Viena com base no artigo 129 Ib como também estendeu as medidas normativas criminais criadas pelo artigo 129 Ib e removeu todas as barreiras de jurisdição com relação à interpretação dessa provisão legislativa, o que gerou efeitos consideráveis sobre as mulheres. Eu demonstrei que a interpretação do artigo 129 Ib no senso do artigo 175 do Código Penal do ‘Reich’ foi aplicado às mulheres em 1935 e nos anos que se seguem. A questão que permanece a ser respondida é o quão longe o governo nazista pretendia criar essas consequências ou se sequer levou em consideração as consequências dessa medida. A maioria dentre os governantes do Regime nazista não via na homossexualidade feminina qualquer ameaça ao “corpo popular” (10) que valesse a pena mencionar… Porém, permanece o fato de que a perseguição sistemática dos homossexuais pelo regime nazista, pelo menos em Viena, também afetou mulheres como eu fui capaz de demonstrar."

Categorias Nazistas: pessoas ‘associais’

“Mulheres Lésbicas foram expostas a formas particulares de perseguição. Bock suspeita que muitas lésbicas foram vítimas da então chamada ‘perseguição de pessoas associais’. Entre os 110.000 alemães condenados a campos de concentrações entre 1937 e 1943, 70.000 foram condenados por serem ‘pessoas associais’ enquanto que 40.000 eram prisioneiros políticos”.

Violência sexualizada heterossexista: Como já mencionado, Lésbicas não foram afetadas pela perseguição nazista no mesmo nível que homens gays. Porém, o fato que nas listas de admissão do Campo de Concentração de Ravensbrück a nota “associal/lésbica” pode ser encontrado parece confirmar a tese de Schoppmann (1997) de que mulheres lésbicas eram mais condenadas pela alegação de associalidade do que pelos motivos de homossexualidade. Especialmente considerando que os nazistas gostavam de etiquetar qualquer das então chamadas ‘aberrações morais’ de ‘associalidade’. No Campo de Concentração de Ravensbrück, comportamento lésbicos eram explicitamente listados como um uma proibição interna do sistema penal da SS (11)”.

Helga Amesberger, Katrin Auer, Birgitte Halbmayr.
“De acordo com as regras do Campo de Concentração de Ravensbrück, mulheres eram punidas caso elas ‘abordassem outras prisioneiras com intenções lespianas sic!, se cometessem atos de obscenidades léspicas sic! ou não reportassem caso fossem vítimas de tais ações’.” (Schoppmann 1997, p. 254).

“Relações lésbicas reais ou alegadas eram punidas com realocação da/s prisioneira/s para barracões de confinamento penal e/ou espancamentos de nádegas das prisioneiras nuas ou com prisioneiras obrigadas a se despir em público. Frequentemente, relatos de testemunhas contemporâneas nos conta sobre as relações homossexuais entre prisioneiros nos campos. A maior parte desses relatos é cheia de preconceito, estigmatização e depreciação da homossexualidade. Isso mostra que muitas das normas e atitudes adquiridas na vida cotidiana também permaneceram válidas na vida do Campo de Concentração.” (Schoppmann 1997, p. 248f).

“Violência sexualizada heterossexista é aquela dirigida ao corpo feminino definido de acordo com as normas heterossexistas. A autorização de punição e tentativas de reversão do comportamento e das vidas homossexuais, como por exemplo o estupro corretivo ou o trabalho forçado de Lésbicas, são somente alguns dos exemplos de formas de violência sexualizadas a que mulheres homossexuais foram expostas. Em suas memórias publicadas, uma sobrevivente polonesa menciona o incidente no Campo de Concentração de Auschwitz quando uma condessa polonesa chegando ao campo de concentração com vestes masculinas teve que provar sua ‘mulheridade’ para os homens da SS para não ser levada ao Campo de Concentração masculino.” (Lengyel 1972, p. 19f, citado por Schoppmann 1997, p. 245).

A história de Mary Puenjer

Mary Puenjer é lembrada em Hamburgo por uma lápide de pedra na Rua Wandsbeker-Marktstrasse número 57. O texto nessa pedra, de autoria de Astrid Louven, diz:

“…no verão de 1940, Mary Puenjer de 35 anos vivia com a mãe em uma casa que não mais pertencia a elas… (12) Na tarde do dia 24 de Julho de 1940, Mary Puenjer foi presa. Ela passou três meses na prisão policial de Fuhlsbuettel. Em 12 de Outubro de 1940 ela foi transferida para o Campo de Concentração Feminino de Ravensbrück. Em sua ficha de admissão constava ‘associal’, com a especificação ‘lésbica’. A ‘filha de uma família respeitável’ foi etiquetada com o triângulo negro anexado aos casacos das prisioneiras do campo. Esse símbolo marcava os vagabundos, de comportamento não-conformista originários de famílias de mais baixa renda e foi usado para estigmatizar os então chamados ‘aliens da comunidade’… Entre o fim de Novembro de 1940 e o meio de Março de 1941, Mary Puenjer foi transferida novamente para as mãos da polícia de Hamburgo e sujeita a interrogações pelo departamento de polícia 23, entre outros, responsável por infrações sexuais. Em 15 de Março de 1941 ela foi levada novamente a Ravensbrück. Em Novembro de 1941 um médico iniciou suas notórias atividades em Ravensbrück: Dr. Friederich Mennecke era um oficial da SS empregado no contexto da ‘Ação 14f13’, a ação de extermínio (13), iniciada em 1941. De acordo com o programa ‘Ação 14f13’, prisioneiros judeus dos campos de Concentração deveriam ser removidos, isto é, deveriam ser assassinados. Em Janeiro de 1942, Dr. Mennecke veio a Ravensbrück em uma segunda visita. Sua pasta contendo ‘diagnoses’, que eram equivalente a sentenças de morte, foi preservada e pode-se encontrar entre outras fichas, a ficha de notificação referente a Mary Puenjer.

Ele escreveu sobre ela: … “casada e completamente judia. Lésbica muito ativa (‘libertina’). Visita continuamente locais de encontros lésbicos para se relacionar com outras mulheres”. Essas palavras permitem concluir que ela foi presa em locais de encontros lésbicos. Pelo que se sabe, Mannecke selecionou prisioneiros judeus e os caracterizou de acordo com informação disponíveis nas entradas policiais existentes e nos registros de detenção preventiva. Isso significaria que foi a polícia criminal de Hamburgo ou a Gestapo (1) a autoridade categrizando Mary Puenjer como Lésbica. Vem à tona a questão se ela era realmente Lésbica ou simplesmente foi presa como uma pelas autoridades de Hamburgo. As mulheres selecionadas por Mennecke não tiveram a chance de escapar com vida e foram assassinadas no Hospital e Enfermaria Psiquiátrica de Bernburg… Em um arquivo em Warshaw existe um registro mantido ou copiado dos prisioneiros de Ravensbrück e de acordo com o registro, Mary Puenjer foi morta com gás no dia 28 de Maio de 1942 segundo uma seleção do Centro de Extermínio de Bernburg próximo a Dessau. É importante notar que foi sua etiquetagem na categoria de usuária do triângulo negro que a enviou ao campo de concentração e não sua origem judia.

A proteção oferecida contra deportação para campos de concentração oferecida por um ‘privilegiado’ casamento interracial expirava assim que a pessoa judia fosse criminalizada. (14)’."

Prostitutas

“Similar aos ‘verdes’ (criminosos), prostitutas pertenciam à escória do campo. Elas sofriam muito devido a ausência de homens o que conduzia à proliferação do amor lésbico entre elas. E, que assombroso, enquanto que pessoas no Reich eram enviadas a campos de concentração por esse motivo, esse tópico foi tolerado. Alegadamente os nazistas prendiam as prostitutas nos campos para ‘reeducá-las’ e trazerem-nas de volta a um caminho de vida respeitável. Porém, quando eles queriam, eles jogavam fora sua hipocrisia e davam às ‘mulheres associais’ – principalmente às jovens e bonitas – sua liberdade de volta sob a condição de que elas provessem seus serviços por meio ano nos bordéis para soldados e nos campos de concentração masculinos.” (MGR/StBG. – vol. 42/986). (Helga Amesberger, Katrin Auer, Birgitte Halbmayr.

(Nota: Nenhum único caso é conhecido de uma mulher que foi solta depois de trabalhar em um bordel de soldados ou em campos de concentrações masculinos. Caso sobrevivessem ao tempo no bordel, eram mandadas novamente aos campos de concentração, frequentemente em péssimas condições de saúde.)

[[Esse fragmento nos conta um pouco, do ponto de vista de uma sobrevivente hétera, sobre as mulheres categorizadas como ’prostitutas’ e sua posição na hierarquia do Campo de Concentração. Podemos notar a lesbofobia com a qual o trecho foi escrito. Como já vimos, qualquer desvio na sexualidade feminina poderia levar a mulher a ser classificada pelos nazistas como ’prostituta’, sendo que não somente mulheres prostituídas eram classificadas como ’prostitutas’. A palavra ’prostituta’ era a versão feminina da classificação genérica ’bandidos’. Muitas Lésbicas, por terem sexualidades desviantes da hétero, foram presas pelos nazistas como próstitutas. As ’prostitutas’ eram classificadas nos campos como ’associais’ e usavam o triângulo negro. Nota da Tradutora]

Lésbicas em bordéis de prostituição forçada

Christa Paul fez algumas pesquisas em prostituição forçada durante o Nazismo:

“Em 25 de Março de 1944, o ‘barracão especial’ do Campo de concentração de Flossenbuerg foi entregue à administração. Esse barracão foi dividido em dois departamentos, um seria o bordel para prisioneiros e o outro para membros da SS… Um prisioneiro homossexual nos conta o seguinte sobre sua amizade com uma das mulheres do bordel que era uma Lésbica: ’Nós conversávamos longamente até que o patrão dela me mandasse embora… Else viu nisso que poderíamos nos encontrar sempre para termos tempo de conversar’.”

Em seu livro “Zeit der Maskierung” (Tempo de Mascarados), 1988, Claudia Schoppmann se refere ao relato de Erich Helbig, que foi deportado ao Campo de Concentração de Flossenburerg por causa de sua homossexualidade. Ele nos conta sobre a vida de Else, uma Lésbica que ele conheceu trabalhando no bordel para prisioneiros de Flossenbuerg: “Os nazis gostavam de enviar mulheres Lésbicas para trabalhar em bordéis. Eles pensavam que assim elas entrariam na linha novamente”._ (Lembke 1989,pp. 13-30, citado por Schoppmann 1998, p. 22f).

Depois de Mauthausen e Gusen, que praticamente foram os protótipos, bordéis foram instalados em mais oito campos de concentração. Com algumas excessões, as mulheres que tiveram de realizar trabalho forçado nos bordéis para os prisioneiros vieram do Campo de Concentração de Ravensbrück…as mulheres deveriam ser de origem alemã e, segundo os registros nazistas: “do tipo que se espera desde o início, devido a seu passado e atitude, que jamais irão viver uma vida bem ordenada, isto é, que mesmo com examinação meticulosa nós não correremos o risco de descartar uma pessoa que valha a pena salvar para o povo alemão”. (Himmler em uma carta a Pohl, citado em Christa Paul: Zwangsprotistuition (Prostituição Forçada), Berlin 1994). A frase claramente se refere a mulheres consideradas prostitutas. A SS também gostava de enviar Lésbicas aos bordéis com o propósito de reversão de orientação sexual. Aqui é necessário se dizer que qualquer comportamento sexual desviando das normas Nazistas poderia conduzir a prisão sob a acusação de ‘prostituição’.

Essas mulheres eram categorizadas como ‘associais’ pela SS, tinham que usar o triângulo negro e estavam muito abaixo na hierarquia de prisioneiros. Isso significa que além de sua vulnerabilidade à crueldade cometida pelos oficiais da SS, elas também eram expostas ao desprezo de outros prisioneiros tendo chances muito pequenas de sobreviver.

Estupros

“A socióloga Ilse Kokula escreve sobre uma lésbica que foi, no fim da guerra, sentenciada por “minar as forças militares” (15) e deportada para o campo de prisioneiros de guerra de Buetzow em Meclenburg. Lá ela foi detida com mais seis Lésbicas, separadas do resto das prisioneiras, e colocadas sobre vigia masculina, o que era totalmente contrário às práticas usuais. Os soldados da SS incitaram prisioneiros de guerra franceses e russos contra as mulheres, clamando que as estuprassem. Isso aconteceu apesar da regra que proibia prisioneiros de guerra de ter qualquer interação com mulheres alemãs". (Kuckuc 1975, p. 127f, citado em Schoppmann 1997, p.239).

O Campo de Concentração de Ravensbrück

No Campo de Concentração Feminino, comportamentos lésbicos eram punidos. Dar as mãos já era considerado comportamento lésbico e sobreviventes como Isa Vermehren relatam espancamentos e transferências de mulheres para barracões de confinamento penal.

Insa Eschebach, chefe do atual Memorial Ravensbrück, lembra que as normas do campo criminalizavam tanto os contatos lésbicos assim como quem se recusava à “obrigação de denunciar outras prisioneiras” que mantinham tais contatos.

“Ter uma ‘namorada’ no Campo de Concentração é de imensurável mais alta importância que na vida normal. Todo o amor é direcionado à ela, toda a atenção e auto-sacrifício, o que normalmente seria direcionado ao parceiro sexual, à família, aos filhos. A namorada é esse símbolo: a encarnação mágica da vida familiar. A namorada pode dizer o quê e quem alguém realmente foi…” (Kos 1998, p.174f.) Helga Amesberger, Katrin Auer e Birgitte Halbmayr.

Assim como no livro de Kos, a natureza platônica, sororária e puramente amigável desses relacionamentos é uma descrição típica de tais amizades. As mulheres sobreviventes raramente falam se alguma das amizades mantidas com outras mulheres também tomou um carácter sexual ou uma forma íntima e que significados na sexualidade, no desejo e na intimidade esses relacionamentos podem ter tomado no ambiente do campo de concentração. No texto de Kos um lado de intimidade da relação com a “namorada” pode ser interpretado nas entrelinhas, pois “todo o amor é direcionado à ela”, esse amor que seria “normalmente direcionado ao parceiro sexual”. Do mesmo modo que na simbolização dessa amizade como “a mágica encarnação da vida familiar” está a vida sexual e íntima do amor entre esposos, além do amor parental pelos filhos.

Ao contar suas histórias de vida, nenhuma das mulheres entrevistadas mencionam relações pessoais, sexuais e íntimas com outros prisioneiros, nem com mulheres e nem com homens. Temos aqui uma situação similar ao tópico da violênca sexualizada: sujeitos e aspectos, de algum jeito ou de outro, conectados com intimidade sexual, são raramente contados e, se são, somente em relatos sobre outras pessoas. Na maior parte dos casos, homossexualidade entre mulheres é vista e apresentada negativamente. Com Schoppmann (1997,pp. 44-254), podemos concluir que relacionamentos lésbicos nos relatos das sobreviventes são apresentados mostrando as prisioneiras como ‘associais’, enquanto que relações sexuais entre prisioneiros políticos ou outros não são sujeitos a esse tipo de discussão.

Em adição a isso, algumas mulheres desconheciam a existência de Lésbicas antes de serem aprisionadas no campo de concentração: “(…) muitas das pessoas associais eram alemãs, inacreditavelmente muitas entre elas, lésbicas. E eu estava dizendo, ‘Sim, eu não sei dessas coisas, é por isso que estou perguntando tão estupidamente, porque eu não sabia disso. ’” (IKF-RAV-Int-10-2,p.73).

Therese Gericke, que veio de Auschwitz em um transporte, esteve em Ravensbrück por 2 a 3 dias. Ali ela conheceu algumas mulheres francesas que eram Lésbicas. Ela havia conversado com uma delas e perguntou qual a razão dela estar em Ravensbrück sendo tão jovem e tendo “cabelos longos tão bonitos”.
A francesa lhe disse que estava lá porque era uma Lésbica. (Visual History Online Shoah Foundation).

Condenação e punição do amor lésbico no Campo de Concentração Feminino

Isa Vermehren, que esteve internada em Ravensbrück por razões da então chamada ‘responsabilidade de parentesco’, escreve em ’Reisen durch den letzten Akt: Ravensbrück, Buchenwald, Dachau: eine Frau berichtet ( Uma jornada através do último Ato: Ravensbrück, Buchenwald, Dachau: uma mulher conta sua história"):
“Enquanto tudo isso estava acontecendo, eu olhei para o quadro na parede no qual continha triângulos em diferentes cores e a explicação de seu significado:… rosa = LL (amor lésbico) (em alemão: Lesbische Liebe LL)…” (p. 17). Provavelmente “LL” como uma abreviação para ‘amor lésbico’ somente foi usada na linguagem do campo, uma etiquetagem real não pôde ser verificada (16).

Em outra passagem ela escreve: “Em frente ao escritório, um grande número de prisioneiras brigando alto e gesticulando estavam se aproximando, pelo que pude ver, a maior parte parecia líderes de bloco (17) e policiais do campo, cercando em meio-círculo duas garotas, uma das quais estava medonhamente pálida e respirando dificilmente. No começo eu não entendi nada, até que eu ouvi repetidamente a palavra “El-El” (pronúncia alemã de LL), e pude ouvir: “admita que você dormiu com ela”, “Não minta, você é a namorada dela” e coisas similares… Mas as mulheres que gritavam não conheciam misericórdia. Elas a levaram à corte do Campo, a punindo e no dia seguinte ela estava no barracão de confinamento penal. Esse barracão de confinamento penal era cercado de arame farpado e localizado no campo grande… de fato era o local de reprodução do amor lésbico real com todos os nojentos fenômenos de seus efeitos desviantes. A maioria das jovens prisioneiras do barracão de confinamento penal acabaram vítimas desse vício e não era difícil identificá-las por conta de sua aparência excessiva e visivelmente masculina." (p. 49-50).

Definitivamente as descrições de Isa Vermehren são parciais e lesbofóbicas, mas adequadamente refletem a atmosfera de hostilidade às Lésbicas que prevalecia no campo de concentração assim como a denúncia e a punição das (alegadas) prisioneiras lésbicas com espancamentos e transferência para os barracões de confinamento penal, onde (na opinião dela) muitas lésbicas prisioneiras eram forçadas a ficar.

“O barracão de confinamento penal era separado do resto do campo por uma janela de arame farpado e uma parede de pranchas de madeira. Era o local onde prisioneiras eram punidas com particular severidade. Elas deveriam realizar os trabalhos mais extenuantes e sujos. Além disso, elas tinham horários mais longos de trabalho, quase nunca tiravam um dia livre e recebiam ainda menos comida que as demais prisioneiras. Os mais brutais vigias eram empregados ali, reinando um regime de terror. Ser transferida para o barracão de confinamento penal era um castigo temido e considerado o ‘inferno de Ravensbrück’.” Isso é o que diz o relato de uma testemunha contemporânea disponível em (fjweb.fju.edu.tw/lcyeh/lit/material/1_1….

A questão da Perseguição de Lésbicas pelo Nazismo

É frequentemente clamado que o termo “perseguição” não deve ser utilizado para descrever a situação das Lésbicas durante o Nazismo sob alegação de que elas “não teriam sido perseguidas como criminais”.

Mas o que o termo perseguição significa?
Duden, dicionário da língua alemã, oferece os seguinte sinônimos, entre outros: discriminação, humilhação, violência, depreciação, massacre, assédio, supressão…

Perseguição de Homossexuais Asilados

Também hoje em dia há um debate sobre o tópico da perseguição e seu reconhecimento – por exemplo, na lei de asilo.

Com a ajuda da organização virtual “All out” uma petição está sendo preparada ao “UK Home Office” desde Março de 2017 para impedir que refugiados e requerentes de asilo LGBTs sejam deportados para o Afeganistão. As autoridades inglesas estão sugerindo à essas pessoas que neguem sua orientação sexual ou identidade de gênero em público quando novamente deportados ao Afeganistão. O argumento de que a sexualidade pode ser praticada no espaço privado continua a ignorar que a vida homossexual significa mais do que um ato sexual em segredo. Curiosamente, pessoas perseguidas por motivos religiosos ou políticos não recebem o tipo de conselho: “Por que você não fica quieto e pratica sua religião/visão política em casa?”.

Aqui a autora faz uma comparação entre a alegação de que lésbicas não foram perseguidas pelo Regime Nazista, pois poderiam "esconder que eram Lésbicas" e "viverem como heterossexuais" com a alegação do Reino Unido de que asilados LGBTs afegães podem ser deportados ao Afeganistão e viverem lá "escondendo que são LGBTs". Uma comparação muito válida na opinião desta tradutora.

Perseguições Múltiplas de Lésbicas

Como teriam sido afetadas as mulheres vítimas de múltiplas razões de perseguição?
Seria importante o fato de que os Nazistas adicionaram uma descrição como ‘lésbica libertina’ ao arquivo de uma prisioneira no campo de concentração acarretando em consequências mortais para ela?

Por que essas marcações extras eram adicionadas às prisioneiras?
Houveram lésbicas judias ameaçadas por serem também homossexuais?

“… judeus não são interrogados. Somente no caso de possivelmente serem acusados de outras ofensas adicionais…” , Anja Lundholm escreve sobre sua experiência na prisão policial de Innsbruck antes de ser enviada para o Campo de concentração de Ravensbrück em 1944. (Anja Lundholm: Im net report,Reinbek 1991).

A história de vida durante o terceiro Reich do casal Marta Halusa e Margot Liu é contada por Ingeborg Boxhammer. Os efeitos recíprocos das diferentes “razões” de perseguição que o casal sofreu pelos nazistas – acusadas de judias, prostitutas, anti-fascistas e Lésbicas – se tornou particularmente óbvia e as conduziu a numerosas prisões, denúncias, detenções e tortura pela Gestapo. Que grandiosas elas foram por terem sobrevivido a esses tempos! Em 1949 elas migraram para a Inglaterra e começaram a lutar por reconhecimento como vítimas de perseguição em procedimentos de compensação.

Análise Interseccional

“A respeito dos argumentos frequentemente ouvidos de que não existe nenhuma prova da perseguição de mulheres Lésbicas no regime nazista, eu acho que faz sentido abandonar as categorias existentes tradicionalmente criadas pelos nazistas e contar as Lésbicas entre as vítimas dessa perseguição. Isso levaria a que a discriminação interseccional a que estão submetidas às mulheres seja reconhecida assim como a camada de perseguições múltiplas” escreve Isabel Meusen, da Universidade de Menphis, Departamento de Lingua e Literatura Estrangeira.

Continuidade Histórica

O governo regional de Renânia-Palatinado (18) autorizou que um grupo de pesquisa abordasse a reavaliação histórica dos processos criminais contra pessoas homossexuais e sua reabilitação. Sob chefia do Departamento de História Contemporânea em Munique-Berlim e em cooperação com a Fundação Federal Magnus Hirschfeld, os historiadores Dr. Guenther Grau (Berlim) e Dra. Kirsten Ploetz (Hannover) realizaram a pesquisa. O artigo científico foi apresentado em 23 de Janeiro de 2017 e nele, Dra. Kirsten Poetz, chega às seguintes conclusões:

“É impressionante que a descriminalização do amor lésbico pela lei não ocorreu até a década de 1960s, como foi o caso dos procedimentos criminais contra homens gays”. Para a homossexualidade feminina nós podemos considerar que não foi criminalizada, mas pelo menos na Renânia-Palatinado ela foi impressionantemente discriminada na segunda metade da década de 1970s e na década de 1980s. Isso pode ser concluído com base nas sentenças que se baseavam nas leis da Custódia e do Homicídio. Não é improvável que a discriminação era o costume nesses casos – e talvez em outros mais – durante um período muito longo de tempo. Entretanto, pesquisas futuras serão requeridas sobre as vias pelas quais o sistema judiciário estava lidando com o amor lésbico. O estado do conhecimento a respeito da discriminação da homossexualidade feminina e da masculina é fortemente diferente. Somente com grande esforço, evidências puderam ser encontradas para este pequeno estudo sobre a discriminação do amor lésbico entre os anos de 1946 e 1973…

Enquanto que para os homens a lei penal era o fator crucial que encerrava suas liberdades individuais, para as mulheres as leis de casamento e de divórcio causavam um efeito maior de poda das liberdades individuais. Somava-se à imposição do casamento como o único objetivo de vida e apresentado como a única alternativa, a difícil situação do mercado de trabalho para as mulheres e o confinamento de suas existências. Temos que considerar que medidas discriminatórias contra mulheres em geral atingem lésbicas duplamente.

Além da reabilitação e compensação para vítimas do Artigo 175 do código Penal, deve haver uma comemoração pública da descriminalização de Lésbicas na Renânia-Palatinado. O grupo alvo deve também incluir as mulheres que não seguiram seus desejos, mas que se casaram por pressão das normas sociais e que foram submetidas a seus maridos a quem elas só poderiam deixar se aceitassem grandes perdas em suas vidas. Pode ser assumido que sob essas circunstâncias muitas histórias lésbicas não foram vividas. Nós devemos nos lembrar do grande sofrimento das mães que perderam a custódia de seus filhos como consequência de viverem como Lésbicas. E, por último, mas não menos importante, o ocultamento da vida lésbica em público e a censura da literatura contendo caracteres lésbicos deve ser mencionada. Pesquisas sobre esses assuntos de discriminação acabaram de começar.

O artigo 175 do código Penal não ameaçava Lésbicas com punições. Entretanto isso não significa que Lésbicas foram poupadas de discriminação. Ao contrário, o artigo poderia ter sido a qualquer momento estendido às Lésbicas enquanto ele existiu. De fato, essa hipótese foi considerada e demandada várias vezes, por exemplo, em 1951 pelo grupo católico “Catholic Volkswartbund” (União Vigilante Popular Católica). Em seu panfleto “Das dritte Geschlecht” (O terceiro Sexo), o autor Richard Gratzweiler, um juíz de Bonn, avisou, ao final de suas considerações sobre a homossexualidade masculina: “Também o amor lésbico deve ser passível a punição; isso não é inconsistência”.

Para chegar ao ponto da questão, mulheres deveriam se casar e estar à mercê de seus maridos a vida inteira. Pode se assumir que a pressão causada pela lei e pela sociedade como um todo, tornou desnecessário a punição de Lésbicas como criminais pelo artigo 175. A prioridade do casamento que foi consolidificada por ambos, a sociedade e a lei civil, já limitava substancialmente as possibilidades de uma vida lésbica."

Alternativa Oculta

Em adição, a vida lésbica oculta do público era dificilmente visível como uma alternativa ao casamento. Tal fato pode ter levado muitas mulheres a desistir e se casarem mesmo sendo que elas, seja mais ou menos conscientemente, desejavam e amavam mulheres.

Nós consideramos importante avaliar a partir de uma perspectiva feminista os fatos que já são conhecidos.

Nós homenageamos todas as Lésbicas que foram internadas e assassinadas em Ravensbrück ou as que perderam suas vidas nos programas de eutanásia nazista, como Mary Puenjer e também Henny Scheermann que foram transportadas do Campo de concentração de Ravensbrück para o Hospital Psiquiátrico de Bernburg onde foram assassinadas. Nós nos lembramos das poucas mulheres cujos nomes e biografias fomos capazes de conhecer graças ao trabalho de Claudia Schoppmann: Mary Puenjer, Henny Schermann, Elli Smula, Inge Scheuer e Marie Glawitsch. Nós acreditamos que já passou da hora de termos uma homenagem oficial das lésbicas vítimas do Nacional Socialismo em Ravensbrück e também de um Obelisco Memorial para elas. Assim, estamos esperançosas por uma decisão positiva do comitê Consultivo do Memorial.

Wiebke Hass da Iniciativa Feminista Autônoma de Mulheres e Lésbicas na Alemanha e Áustria.

Email de contato da autora: wiebke.hass@gmx.de
email do projeto do Memorial Permanente: gedenkkugel@gmx.de

Biografias de algumas Lésbicas Assassinadas pelo Nazismo

A acadêmica Dr.Claudia Schoppmann reconstruiu biografias de mulheres que “foram perseguidas durante o Terceiro Reich e sofreram porque amaram e desejaram outras do mesmo sexo. Ou porque esse motivo foi alegado sobre elas”. Algumas dessas mulheres foram presas no Campo de Concentração de Ravensbrück .

Henny Schermann, nascida em 19.02.1912 em Frankfurt Main, foi deportada para o Campo de Concentração Feminino de Ravensbrück em 1940 e foi assassinada em 30.05.1942 no Hospital Psiquiátrico e Enfermagem de Bernburg. Ela foi selecionada pelo médico “eutanasista” Dr. Friedrich Mannecke no inverno de 1941/1942. Em suas notas Mannecke escreve: “Henny Sara Schermann, 19.2.12, Frankfurt Main, solteira, vendedora em Frankfurt Main. Lésbica libertina que frequenta tais bares. Evita o nome Sara. Judia desnacionalizada”. Essas palavras suportam a suposição de que Henny Schermann foi presa em uma patrulha em um bar lésbico. O fato de que ela era uma Lésbica a levou à prisão, porém, foi o fato de ter origem judia que a levou a ser escolhida por Mennecke para o extermínio.

Elli Smula, nascida em 1914, foi recrutada para serviços nas estações ferroviárias. Foi denunciada por seu empregador, a Empresa de Transporte Público de Berlim, e foi presa em 12 de Setembro de 1940 e interrogada pela Gestapo. Ela foi acusada de ter tido relações sexuais com colegas de trabalho em festas e não ter ido trabalhar nos dias seguintes. Em 30 de Novembro de 1940 ela foi deportada para o Campo de Concentração de Ravensbrück. Os motivos oficiais de prisão foram “políticos” com o adicional “lésbica”. Ela morreu em 8 de Julho de 1943 em Ravensbrück, “de repente” como sua mãe escreveu após a guerra.

Inge Scheuer nascida em 1924, foi recrutada em 1943 para o serviço militar como Assistente da Marinha. Em Março de 1944, por causa de seu relacionamento com uma colega mulher, Inge foi dispensada e enviada ao Hospital Psiquiátrico de Brandenburg-Görden pelo Escritório de Saúde de Angermünde para ser diagnosticado se ela necessitaria, devido à suas ’tendências homossexuais", ir a confinamento no então chamado “Campo de Proteção da Juventude” para garotas, que fazia parte do Complexo do Campo de Concentração de Ravensbrück. Ela foi solta depois de seis semanas e sobreviveu à guerra.

Mary Püenjer nascida Mary Kümmermann em 1904, trabalhava no negócio de Roupas Femininas de seus pais em Wandsbek. Em 24 de Julho de 1940 ela foi presa, provavelmente durante uma patrulha em um bar lésbico. Ela passou três meses na penitenciária da polícia de Fehlsbüttel. Em 12 de Outubro de 1940 ela foi internada no Campo de Concentração de Ravensbrück. Os registros de justificamento da prisão constam como “políticos” com a a dição de “lésbica”. Mary foi também selecionada pelo Dr. Mannecke para o extermínio, não por conta de sua origem judia, mas sim por conta de sua lesbianidade como o próprio Mannecke registra em suas fichas. Ela foi assassinada com gás no Hospital Psiquiátrico e Enfermagem de Bernburg próximo a Dessau, provavelmente na primavera de 1942.

Marie Glawitsch nascida em 1920 em Graz foi sentenciada a 6 meses de prisão por roubo e por infrações ao parágrafo 129 em Setembro de 1939. O parágrafo 129 do Código Penal Austríaco criminalizava “comportamento sexual de mesmo sexo” masculino e feminino na Áustria sob regime nazista. Ou como era chamado no sistema legal Alemão “fornicação com alguém do mesmo sexo”. Marie recebeu setenças posteriores por roubo. Em 31 de Outubro de 1942, a mulher de 22 anos foi levada ao Campo de Concentração de Ravensbrück e categorizada como “criminal de carreira”. Marie Glawitsch morreu em 1966 com 46 anos de idade.

Glossário

1 – Gestapo: abreviação de “Geheime Staatspolizei” ou Polícia Secreta Estatal era a polícia secreta do regime nazista na Alemanha e em todas as áreas ocupadas pelos nazistas.

2 – Nacional-socialismo (Nationalsozialismus): O Nacional Socialismo, abreviado como Nazismo, foi uma ideologia fascista que, como toda ideologia fascista, é de extrema direita e tem um caráter fortemente autoriário e militar. O nome “socialismo” foi roubado das teorias socialistas reais existentes para convencer a população de seu caráter popular. Entretanto, o Partido Nazista nunca teve qualquer ideologia socialista ou realizou qualquer política socialista, pelo contrário, comunistas e socialistas reais eram mandados para campos de concentração como “prisioneiros políticos”. A palavra ‘socialismo’ foi desvirtualizada pelos Nazistas e usada para compor uma teoria nacionalista, racista e eugenista onde ‘o povo’ era somente o povo alemão: um povo ariano superior a todos os outros e vítimado pelos judeus (papel de opressor e oprimido se invertem). Sendo o tal ‘socialismo’ nazista uma ideia fascista e eugenista de organização social totalmente baseada em linhagens ‘puras’ de sangue ariano para preservação do povo alemão frente aos “perigosos” judeus e comunistas. Qualquer povo que não fosse ariano (como judeus, negros e ciganos), qualquer pessoa desviante (como gays e lésbicas) e qualquer um que tivesse posições políticas distintas e antifascistas (como comunistas,anarquistas, socialistas que se juntavam como antifascistas) eram inimigos do Regime Nazista.

3 – Ainda hoje lésbicas, principalmente não feminilizadas, são estereotipadas como predadoras sexuais e pervertidas. Além disso, ainda hoje, lésbicas são diariamente chamadas de putas, vadias e etc.

4 – “Sensibilidade da saúde popular” (gesunde Volksempfinden): termo usado politicamente para se referir as ‘ameaças degeneradas’ à dita “Saúde do Corpo Popular” alemão. O termo era usado no campo da Cultura também para descreditar ou censurar obras ditas “artes degeneradas” ou “músicas degeneradas” ou ainda “música popular estrangeira”.

5 – “Aliens da comunidade” (Gemeinschaftsfremden): Os “aliens da comunidade” eram basicamente todos os ‘indesejáveis’, ou seja, todos os desviantes do que o regime nazista esperava dos cidadãos alemães. Muitos deles eram enviados a campos de concentração como “asociais”. Muitos deles eram lésbicas, prostitutas, mulheres e garotas que se recusavam a participar das organizações nazistas para mulheres e da juventude nazista, ácoolicos, trabalhadores migrantes, beneficiários da previdências social, mendigos, sem tetos, andarilhos, famílias pobres com muitos filhos, pessoas de periferia, “vagabundos”, “preguiçosos” e etnias nômades como ciganos e yeniches.

6 – “Golpe Rohem” (Röhm-putsch): O golpe Rohem, conhecido posteriormente como “A noite das Facas Longas”, que ocorreu logo após Hitler se tornar chanceler da Alemanha, foi um expurgo cometido pela facção nazista que apoiava Hitler contra a SA, em especial contra o seu comandante Rohem que foi acusado de ter planejado um subgolpe derrubando Hitler e levando a SA ao poder no Regime Nazista. Várias pessoas foram assassinadas assim como antinazistas e outros comandantes da SA. Hitler começou a se sentir ameaçado pela SA que já contava com 3 milhões de integrantes e tinha medo de que eles tomassem o poder. Após o assassinato de Rohem, que era descrito como tendo tendências homossexuais, o artigo 175 que criminalizava a homossexualidade masculina foi reinforçado na Alemanha nazista.

7 – “Divisões de Assalto” (SA – “Sturmabteilung”), alemão para “Destacamento Tempestade” porém recebeu a tradução em pt como “Divisão de Assaltos”: milícia paramilitar que por certo tempo do Regime Nazista era a milícia de Hitler. Essa milícia funcionava não como um exército mas como um grupo paramilitar, assim como a SS no início. Seu comandante Ernst Röhm, era também capitão do exército. Após algum tempo, Hitler começou a se sentir ameaçado pela SA e principalmente por seu comandante Rohem e, após o assassinato de Rohem e outros comandantes da SA, esta foi substituída pela SS.

8 – “Reich”: significa literalmente reinado ou império. A palavra é usada também como sinônimo para “governo” em várias fases da história alemã. Entretanto, na ideologia Nazi-fascista, a palavra Reich é utilizada de forma distinta. Para a ideologia Nazista, a Alemanha teria vivido três “Reich” onde verdadeiramente o ‘povo alemão’ reinou, sendo que entre esses Reich o povo alemão viveu “ameaças de destruição da raça alemã”. Os três Reich seriam: o Sacro Império Romano Nação Alemã (Primeiro Reich), o Império Alemão de 1871-1918 (Segundo Reich) e o Regime Nazista que era aclamado pelos Nazis como o “Terceiro Reich”, dessa forma, os nazistas tentavam legitimar seu poder e criar uma falsa idéia de continuidade de um Poderoso Reich Alemão.

9 – “Comunidade popular” (völkisgemeinschaft): A comunidade popular é um conceito do Regime Nazista que defende a criação de uma comunidade nacional da etnia alemã com pureza de raça. O termo foi usado com fins populares para reunir os alemães em torno de uma idéia de nação eugenista, racista e patriarcal onde as linhagens sanguíneas eram muito importantes para a ‘defesa e perpetuação da raça ariana’ e cada um deveria fazer a sua parte para garantir a saúde e preservação desse povo, o que seria: ser hétero, branco, classe média, de direita, trabalhar para o progresso da nação, ter filhos e defender a ideologia e expansão nazista, ou seja, ser um “cidadão de bem” como se diz no Brasil.

10 – Corpo Popular (Volkskörper): O termo Corpo Popular era usado para se referir ao povo alemão como se fosse um só corpo e sustentar ideologias eugênicas, racistas, xenofóbico, homo e lesbofóbicas. A saúde do Corpo popular deveria ser mantida contra todos os “parasitas”, “pragas” e “doenças” que seriam todas as demais etnias que não a ‘ariana’, a mistura entre etnias, homossexualidade, ideologias de esquerda, criminalidade, doenças psíquicas, etc. A ideologia eugenista e fascista alemã hierarquizava diferentes etnias em uma hierarquia de ‘povos superiores e ’povos inferiores’. Para manter a “Saúde do Corpo Popular” planos de extermínio em massa e eutanásia eram executados.

11 – SS (abreviação de “Schutzstaffel”) em Português: Tropa de Proteção. Foi uma organização paramilitar ligada ao Partido Nazista e a Adolf Hitler. De pequena organização paramilitar passou a um grupo grande e politicamente influente no Regime Nazista sendo posteriormente uma peça central no Exército e Polícia Nazista. Amada até hoje pelos neo-nazis, foram perpetradores de crimes contra a humanidade. A SS substituiu a SA depois que Hitler se sentiu ameaçado pela SS (no Golpe Rohem). Depois de 1939 a SS passou a ter um exército armado próprio e foi aos poucos absorvendo outros setores do Exército e da Polícia Nazista como a Gestapo (polícia secreta), o “Sicherheitsdienst” (Serviço Secreto), o controle único de polícias ( Reichssicherheitshauptamt) e os Esquadrões da Morte (Einsatzgruppen – uma milícia da SS que assassinava minorias). A SS comandava os Campos de Concentração.

12 – Provavelmente Mary e sua mãe tiveram sua casa desapropriada por serem judias. Judeus tinham suas casas e bens desapropriados antes de serem enviados para Guetos ou Campos de Concentração.

13 – ‘Ação 14f13’ (Ação de Extermínio): nome dado ao projeto de extermínio de Judeus e outros prisioneiros de Campos de Concentrações considerados “velhos”, “doentes” e "inválidos"durante os anos de 1941 a 1944. Era referida como “Eutanásia” e posteriormente foi extendida a outros prisioneiros dos Campos de concentração.

14 – Casamentos interraciais entre judeus e alemães às vezes conferiam imunidade ao judeu de ser enviado a Campos de Concentração.

15 – Queria muito saber o que essa lésbica fez que foi considerado uma tentativa de “minar as forças militares”, era ela uma lésbica antifascista? Será que ela realizou alguma ação contra o exército nazista? Fica pra sempre o mistério no ar.

16 – Interessantemente o triângulo rosa que nas normas internas do Campo de Concentração de Ravensbrück significava “Amor Lésbico”, era usado nos Campos de Concentração Masculinos para classificar Homens Gays. Rosa marcava para os nazis a homossexualidade?

17 – Líderes de Bloco: Eram prisioneiros mais altas na hierarquia do campo que obtinham certos privilégios se tomassem conta dos demais prisioneiros.

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