Cuidado ao se relacionar com Autônomos e Autônomas F.C. e Casa Mafalda:

Não são espaços seguros, sobretudo para mulheres. Por conta de uma violência pessoal via e-mail de que uma companheira foi alvo, soltamos este alerta. A violência verbal e psicológica foi causada por membros do time Autônomos F.C. e foi apoiada por diversos outros membros e membras do time e da Casa Mafalda. A desmoralização da companheira e de seu ativismo, bem como dúvida da veracidade do seu relato, ocorreu logo após sua denúncia pública e a preocupação geral interna dos coletivos citados foi em “explicar melhor” o que o agressor tinha feito por meio do descrédito, e não amparar e compreender a companheira que foi agredida. A violência verbal, aquela em que são usadas palavras para ofender moralmente alguém, muitas vezes é desconsiderada, levada como “brincadeira”, etc, mas deixa cicatrizes como qualquer outro ataque físico. Nos meios libertários, nos últimos anos, ocorrem muitas outras violências contra mulheres que resultam geralmente em auto-exclusão das agredidas e sem o suporte desse movimento. Vemos como uma obrigação tornar isso público pois sabemos que o anarquismo, se não levado à prática do dia-a-dia, é uma teoria que fica presa nas páginas dos livros. Enquanto anarca-feministas, não iremos tolerar a morte política de nenhuma companheira como preço da reparação de agressores. Repudiamos e nos retiramos dos espaços do Autônomos e Autônomas F.C. e Casa Mafalda pois não iremos pagar para ver outras violências e não iremos gastar nossa energia política em um espaço que não consegue ao menos manter respeito interno na convivência entre ativistas.

“Aquelxs que despertam são o pesadelo daquelxs que ainda dormem.” Tiqqun.

Repúdio a agressão machista no Autônomos e Autônomas FC

Na lista de troca de e-mails do autônomos, uma companheira foi agredida e ameaçada diversas vezes por parte dos integrantes Jacob Garraway e Raphael Sanz (Clashr), recebendo respaldo aberto ou conivência silenciosa pelos demais integrantes do time. Consideramos agressão machista os termos referidos à companheira, como: “Feminazi” e “misógino é o meu pau preto! Nazi do caralho”. Consideramos ameaça a segurança e integridade física da companheira falas como: “acha que eu te ofendi? Agora sim que eu tava na pilha de te ofender. / Isso pode ficar ainda muito pior.”
Claramente ameaçada, a companheira redigiu uma carta aberta explicando sua retirada do espaço. Imediatamente foi-se articulada uma rede masculinista de apoio aos agressores por meio de uma carta-resposta, que em momento algum, apresentava uma auto-crítica consistente e reflexiva diante do ocorrido. Em vez de questionar a postura machista e a incoerência política dos agressores, o discurso foi todo direcionado a atacar a companheira e questionar sua legitimidade. Na mesma carta foram veiculados o nome e sobrenome da companheira e de sua irmã, que foi compartilhada e repassada em blogs, sites e eventos com 2 mil pessoas no facebook. Essas ações tiveram o claro intuito de expor a companheira e deixá-la vulnerável a qualquer tipo de ataque, desde a morte política à morte física.
Reproduzindo o sexismo presente na nossa sociedade, o Autônomos e Autônomas FC e a Casa Mafalda partilharam da lógica de que as mulheres devem se manter afastadas dos espaços políticos, e se inserida neles, é preciso participar como figurante agindo sempre de forma que não retire os homens de sua zona de conforto, que tem como sustentáculo o nosso silêncio frente a opressão machista. É daí que surge o termo “feminazi” criado e utilizado pela reação machista que visa domesticar e submeter nossa vontade aos seus desejos e tiranias patriarcais, a fim de que exerçamos nosso feminismo e nossa voz nos limites impostos pelos homens. Em todo momento, o intuito dos agressores, dos coniventes silenciosos e dos apoiadores foi fazer a companheira se calar e temer. Temer por ter usado sua voz, por ter sido protagonista em um espaço de dominância masculina.
As inaceitáveis atitudes tomadas pelos membros do autônomos e apoiadores transmitem uma mensagem misógina muito clara a todas mulheres: quem resistir a tirania machista será ameaçada, exposta e agredida.
De tal forma, que o Autônomos e Autônomas FC e Casa Mafalda serão agora considerados por todxs que assinam essa carta, como um espaço inseguro e ameaçador para mulheres.
Este caso não é pontual, articula-se com um processo mais amplo na relação de machismo dentro dos espaços ativistas e meios libertários. Cada vez mais mulheres têm rompido o silêncio e denunciado agressores nesses espaços: como Xavier (Rafael Muniz Pacchiega) do MPL, Rádio Várzea e PassaPalavra.org, o anarcopunk Fefê e o Gustavo Oliveira da Okupa J13 e da banda Nieu Dieu Nieu Maitre.
É sabido que a reação normativa a essas denúncias é encabeçada por uma rede corporativista machista que tentam acobertar esses casos, isolando politicamente a mulher alvo de opressão, deslocando o debate para o método utilizado na resistência; e não no machismo do agressor, enquanto paralelamente o defende. A reação às denúncias visam sempre restabelecer a ordem hetero-patriarcal.
O argumento mais utilizado é que tais denúncias enfraquecem a luta em questão. Colocamo-nos inteiramente contra esse pensamento maniqueísta e manipulador, que posiciona de forma hierárquica e excludente as relações de opressão. O feminismo não é apêndice e não vem a reboque de nenhum outro movimento, apesar de estar relacionado intrinsecamente a todos eles.
Quem afirma que a denúncia anti-sexista enfraquece um movimento, está afirmando que o mesmo tem como coesão e base a violência contra as próprias ativistas. Está afirmando que o movimento precisa do machismo e da misoginia para existir. “Enfraquecer” o movimento é um argumento oportunista que visa à manutenção da dominação masculina nesses espaços.
Na medida em que são agentes ativos de opressão, indivíduos que lutam veementemente para a manutenção de seus privilégios enquanto machos de uma sociedade hetero-patriarcal capitalista, jamais poderão ser agentes válidos para a libertação de nada.
Repudiamos as agressões machistas infligidas contra a companheira pelos Autônomos e Autônomas FC e Casa Mafalda, assim como toda a rede de solidariedade que foi articulada em apoio aos agressores Jacob e Raphael. Exigimos retratação pública imediata da Casa Mafalda e do Autônomos e Autônomas FC, não só pela carta-resposta como pela conivência sexista na época do ocorrido.

MEXEU COM UMA MEXEU COM TODAS!
NENHUMA AGRESSÃO FICARÁ SEM RESPOSTA!

Assinam:
Rede de Feministas Autônomas
Coletiva AnarcaFeminista Marana
Coletivo Minas Terrestres

São Paulo, novembro de 2012