Deleuze e as eras do cinema - Jacques Rancière
A partilha deleuziana da imagem-movimento e da imagem-tempo não escapa do círculo geral da teoria modernista. Mas a relação entre a classificação das imagens e a historicidade da ruptura implica numa figura bem mais complexa e levanta um problema bem mais radical. Com efeito, não se trata mais simplesmente, em Deleuze, de se adequar uma história da arte a uma história geral. Porque nele não há propriamente como falar nem de história da arte nem de história geral. Para ele, toda história é “história natural”. A “passagem” de um tipo de imagem a outro é suspensa num episódio teórico, a “ruptura do elo sensório-motor” definido no interior de uma história natural das imagens, que é, em seu princípio, ontológica e cosmológica. Como pensar então a coincidência entre a lógica dessa história natural, o desenvolvimento das formas de uma arte e o corte “histórico” demarcado por uma guerra?