[Lesbocídio] [México] Justiça para Kleo

Lésbica ativista assassinada no México no contexto dos feminicídios da região, mais um lesbocídio em latinoamerica. María Guadalupe Hernández Flores era uma mulher lésbica, feminista e ativista a favor dos direitos humanos das mujeres e das pessoas LGBT que foi reportada como desaparecida 11 de março de 2018.

Assassinam a ativista lésbica e feminista Kleo em Guanajuato (México)

Kleo, nome com o qual era conhecida no âmbito do ativismo, foi encontrada sem vida no dia 26 de março de 2018. Seu corpo, o qual tinha sinais de tortura, foi descoberto em um prédio da comunidade Arroyo de Durazno, no município de Coroneo, Guanajuato, no México.

A ativista, de 37 anos de idade, foi vista com vida pela última vez 11 de março quando entrava em um ônibus para iniciar uma viagem.

Sua desaparição mobilizou amigas, amigos e familiares para iniciar sua busca e pedir ajuda nas redes sociais para localizá-la. Logo depois que o ônibus no qual se transportava apareceu baleado, o movimento pela sua localização aumentou.

A mulher foi encontrada no 20 de março por um casal que passeava com seu cão, que se aproximou do prédio para cavar o solo e descobrir parte de seu corpo. O casal notificou à polícia, a qual em seu momento não pôde identificar María Guadalupe.

Foi até sexta-feira 23 de março que os familiares da ativista reconheceram o corpo nas instalações do Serviço Médico Forense em Guanajuato. Até o momento as autoridades não forneceram qualquer informação sobre a investigação acerca do seu assassinato ou quem possa o ter perpetrado.

“Em diferentes marchas feministas e contra a LGBTfobia, juntas gritamos e cantamos palavras de ordem… Kleo desde sua trincheira lutou pela visibilidade das lésbicas, por um mundo mais justo e digno para nós. O patriarcado está em todo lugar, nos quer aniquilar, a melhor arma que temos para lutar é seguir nos organizando com outras, amar-nos, criar comunidade”, manifestou “Tortillería Queretana”, uma organização de mulheres lésbicas de Querétaro.

“Nos pronunciamos para somar e expressar profunda raiva, indignação e preocupação pelo assassinato da companheira Kleo: lésbica e lutadora social”, manifestou a organização civil Lunas Lesbofeministas.

Além disso agregam: “Se bem que cada um dos feminicídios deste país nos impulsiona a seguir exigindo justiça, que haja sido uma companheira, nos reafirma que a militância lesbofeminista é necessária para seguir insistindo na construção de nossa Munda, que é desde, por, para e entre ‘nosotras’ (nós mulheres, nós lésbicas), assim como a eliminação do heteropatriarcado que segue nos assassinando de todas as formas possíveis”.

(traduzido e adaptado de: desastre.mx/mexico/asesinan-a-activista…
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texto de Por Maricruz GB:

“O lesbicidio (lesbocídio) é un feminicídio, a violência extrema que se exerce sobre as lésbicas sexadas mulheres desde o nascimento, um crime político motivado pela socialização patriarcal na qual os homens, ao não se verem beneficiados de nós individual (através do matrimônio) nem coletivamente (família, escola, trabalho, etc.) e, sabendo a impunidade que os protege, optam por nos exterminar.

De Kleo não puderam apropriar-se, Kleo era uma lésbica, Lucrecia era uma de nós. Nunca se ajustou ao modelo produtivo (capitalista) e reprodutivo (heterossexual), foi patologizada quando criança como TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e Kleo, engraçada como era, contava que isso era o sintoma de sua segunda patologia: lesbianismo, a evidente benção que as Deusas lhe haviam mandado. Mas no fundo, sabia que sua lesbianidade se tratava de uma escolha feliz e consciente para sua autonomia. Ela, às vezes parecia possuída por Safo, escrevia poemas, cantava e se ria de si mesma; era alegre e inventava palavras de ordem.

Não aceitamos a versão oficial. Não foi um assalto, não foi lesbofobia tampouco. Chamar de fobia é um determinismo biológico, uma conveniente desculpa à misoginia dos homens que a tentaram amedrontar durante toda sua vida e das autoridades que, respaldando-se nas leis feitas por eles, nos contam que a viram subir a um ônibus para viajar sem avisar, mas apareceu com um tiro na cabeça e o veículo baleado. Não acreditamos.

A Kleo, e igualmente a milhares de mulheres assassinadas no México, se deve justiça. Ela, mulher e lésbica deve ser nomeada, seu nome deve ser gritado até que deixemos de ser assassinadas. O silêncio não nos protege, não nos protegeu antes e não o fará agora. Que ardam de raiva nossos corações porque nos seguem assassinando. Nem um minuto de silêncio!"